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A megafábrica do visionário americano que promete revolucionar os transportes e a energia

Tesla/ BBC Mundo
Imagem: Tesla/ BBC Mundo

Dave Lee - North America technology reporter

30/07/2016 18h44

Teria Elon Musk mais dinheiro que juízo? Ou seria o contrário? O que ninguém tem dúvida é que o diretor-executivo da Tesla, empresa pioneira dos carros elétricos, é no momento o mais destacado visionário do Vale do Silício - berço de inovações tecnológicas localizado na Califórnia (EUA).

Com a megafabrica de 13 km², que ainda não opera com sua capacidade plena de produção de baterias e armazenamento de energia, Elon Musk pretende lançar sua revolução própria.

A ideia inicial é acelerar a produção e reduzir os custos das baterias em 30%. Mas o projeto é bem mais ambicioso.

O investimento de US$ 5 bilhões é uma parceria com a japonesa Panasonic e começou a sair do papel em 2014. O plano é ser 100% sustentável, além de contribuir para a fabricação de 500 mil veículos elétricos por ano, como caminhões e ônibus.

Também pretende oferecer painéis solares para o público em geral usar energia limpa e outras tecnologias de armazenamento de energia. A companhia quer ainda lançar uma frota de carros elétricos autônomos (ou seja, que se dirigem sozinhos) para concorrer com o Uber. Tudo isso pode acabar tendo um forte impacto real no mundo no que diz respeito a transporte e uso de energia.

Com um grupo de jornalistas, a BBC visitou a megafábrica de Musk, localizada a 30 minutos de Reno, no meio do deserto em Nevada (EUA). Por ora, está 14% pronta e já emprega mil pessoas. O enorme complexo deve ficar pronto em 2020.

A primeira impressão de quem visita o espaço é de que não se trata de um mero capricho de um multimilionário. A ideia é reduzir as distâncias e acelerar as fases de produção, hoje fragmentadas em diferentes continentes.

"Quando os custos de transporte se tornam significativos, a maneira mais óbvia para reduzi-los é colocar pelo menos uma megafábrica num mesmo continente (de onde o produto será enviado)", justifica Musk.

Posteriormente, ele quer reproduzir esse modelo de "gigafábrica" ao redor do mundo: "Na Europa, na Índia e na China - no fim das contas, onde quer que haja uma enorme demanda pelo produto final".

São poucas as companhias do Vale do Silício que apostam nesse modelo.

É parte da natureza de Musk lançar ao mundo ideias extravagantes e caras. Ao mesmo tempo, o empresário está sob pressão de investidores para apresentar resultados financeiros concretos.

Quando a BBC perguntou a Musk se a divulgação dos planos da Tesla e a abertura das portas da megafábrica foram uma tentativa para neutralizar o impacto dos possíveis resultados financeiros da companhia, previstos para a próxima semana e que podem ser negativos, Musk respondeu: "Eu não tinha pensado sobre o relatório de ganhos até você mencioná-lo".

Ele também admite que seu plano pode custar "dezenas de bilhões de dólares".

Mas são os planos ambiciosos de Musk que atraem recursos para tirar as ideias do papel. Estima-se que o empreendimento seja capaz de gerar 6 mil empregos diretos e outros 10 mil indiretos, na área vizinha à fábrica.

O diretor-executivo da Tesla também tem tentado diversificar sua fonte de recursos. Em março, por exemplo, 325 mil pessoas pagaram US$ 1 mil para reservar um dos modelos de carro a ser fabricado pela Tesla.

O estilo da Tesla contrasta com o da Apple, que costuma manter todos seus projetos sob o mais absoluto sigilo. Musk garante que não tem nenhum receio de que alguém roube as ideias dele.

O executivo da Tesla recorre a uma comparação com o avião de guerra Blackbrid SR-71 - "provavelmente a maior aeronave da história". Ele diz que enquanto for o mais rápido, nunca vai perder uma batalha.

A depender das conquistas do Blackbird, Musk tem um ponto a seu favor. A aeronave nunca perdeu em combate. Mas o jato revolucionário foi aposentado da Força Aérea dos Estados Unidos em 1998, depois que se constatou que se consumia enormes cifras para manter a frota em serviço.