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Matthew ameaça a Flórida: como são escolhidos os nomes dos furacões

Hector Retamal/AFP
Imagem: Hector Retamal/AFP

06/10/2016 09h37

Os americanos estão em alerta com a aproximação do furacão Matthew, que deve atingir a Flórida nesta sexta-feira. Alguns moradores do sudeste dos Estados Unidos foram orientados a deixar suas casas.

O furacão já provocou ao menos 25 mortes, desde que se formou perto da fronteira entre a Colômbia e o México, no fim de setembro. A sua passagem foi destruidora no Haiti, onde ao menos 21 pessoas morreram e mais de 350 mil estão desalojadas, segundo a ONU. Outras quatro mortes foram registradas na República Dominicana.

Com o rastro de destruição, o Matthew poderá estar no nível de outras tempestades famosas pelos efeitos desastrosos como Andrew, de 1992 e Katrina, de 2005.

Mas qual seria a explicação para os nomes dos furacões e outros ciclones tropicais?

Usar nomes humanos - em vez de números ou termos técnicos - nas tempestades tem o objetivo de evitar confusão e facilitar a divulgação de alertas.

Ao contrário do que dizem alguns boatos populares, a escolha dos nomes não tem nada a ver com políticos e não se trata de homenagens a pessoas que morreram no desastre do navio Titanic.

A lista de nomes para os ciclones tropicais do Atlântico foi criada em 1953 pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês) e seu padrão foi usado para as listas de outras regiões do mundo.

Atualmente, as listas são mantidas e atualizadas pela Organização Meteorológica Mundial, agência da ONU baseada em Genebra, na Suíça.

As listas dos furacões de cada ano são organizadas em ordem alfabética, alternando nomes masculinos e femininos. E os nomes de tempestades são diferentes para cada região.

Neste ano já passamos por Alex, Bonnie, Colin, Danielle, Earl, Fiona, Gaston, Hermine, Ian, Julia, Karl e Lisa até chegarmos ao Matthew.

As listas são recicladas a cada seis anos, o que significa que alguns nomes podem voltar a aparecer.

Os comitês regionais da OMM se reúnem anualmente para decidir que nomes de tempestades do ano anterior devem ser "congelados" por terem sido particularmente devastadoras.

O furacão Katrina, por exemplo, que deixou mais de dois mil mortos em Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005, não teve seu nome reutilizado. Em 2011, quem apareceu em seu lugar, com menos alarde, foi a tempestade Katia.

Mulheres e homens

Koji Kuroiwa, chefe do programa de ciclones tropicais na OMM, explicou que o Exército americano foi o primeiro a usar nomes de pessoas em tempestades durante a Segunda Guerra Mundial

"Eles preferiam escolher nomes de suas namoradas, esposas ou mães. Naquela época, a maioria era nome de mulher."

O hábito tornou-se regra em 1953, mas nomes masculinos foram adicionados à lista nos anos 1970, para evitar o desequilíbrio de gênero.

Em 2014, um estudo de pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, afirmou que furacões com nomes de mulheres matam mais pessoas que aqueles com nomes masculinos, porque costumam ser levados menos "a sério" e, consequentemente, há menos preparação para enfrentá-los.

Os cientistas analisaram dados de furacões que atingiram o país entre 1950 e 2012, com exceção do Katrina em 2005 - porque o grande número de mortos poderia distorcer os resultados.

O estudo, que foi divulgado na publicação científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), afirmou que cada furacão com nome masculino causa, em média, 15 mortes. Já os que têm nomes femininos provocam mais de quarenta.

Kuroiwa diz que o uso de nomes próprios pretende fazer com que as pessoas entendam previsões e alertas mais facilmente. Costuma ser frequente encontrar pessoas com vontade de participar.

"Temos muitos pedidos todos os anos: 'por favor, use meu nome ou o nome da minha esposa ou da minha filha'".

Nomes regionais

Durante a era vitoriana na Grã-Bretanha, as tempestades eram nomeadas aleatoriamente. Uma tormenta no oceano Atlântico que destruiu o mastro de um barco chamado Antje, em 1842, foi chamada de Furacão de Antje.

Outros furacões foram identificados por suas localizações, mas coordenadas de latitude e longitude não eram tão fáceis de identificar e comunicar a outras pessoas.

Um meteorologista australiano do século 19, Clement Wragge, se divertia usando nomes de políticos dos quais não gostava. Na região do Caribe, os furacões já foram nomeados em homenagem aos santos católicos dos dias em que eles atingiam cidades.

Atualmente, os nomes mudam de acordo com a região dos ciclones.

"No Atlântico e no leste do Pacífico, usam-se nomes reais de pessoas, mas há convenções diferentes em outras partes do mundo", diz Julian Heming, cientista de previsões tropicais no Met Office, escritório de meteorologia britânico.

Heming diz que no oeste do Pacífico, por exemplo, também se utilizam nomes de flores, animais, personagens históricos e mitológicos, e alimentos, como Kulap (rosa em tailandês) e Kujira (baleia, em japonês).

"O importante é ser um nome do qual as pessoas possam se lembrar e identificar. Antes, esta região usava nomes em inglês e, há 10 anos, decidiu-se que eles deveriam ser mais apropriados para a região."

Hoje em dia, Sandy poderia chegar aos Estados Unidos, mas Anika se aproximaria da Austrália, Bakung chegaria à Indonésia e Bulbul poderia atingir a Índia.

As letras Q,U,X,Y e Z não são usadas na lista das tempestades no Oceano Atlântico por causa da escassez de nomes próprios com elas. Neste caso, há no máximo 21 tempestades nomeadas em um ano até acabar a lista.

Mas o que acontece depois que a lista termina? "Se o resto da temporada tiver muita atividade, temos que usar letras do alfabeto grego", diz Heming.

Veja imagens da passagem do furacão Matthew.