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Estudo liga desaceleração da Terra a aumento de terremotos e prevê mais tremores devastadores em 2018

Para cientistas, cenas como esta podem se repetir mais no ano que vem - EPA
Para cientistas, cenas como esta podem se repetir mais no ano que vem Imagem: EPA

27/11/2017 15h39

Um estudo de dois pesquisadores americanos está propondo uma nova abordagem sobre os terremotos e sugerindo que pode haver mais tremores de grande intensidade em 2018.

Segundo a pesquisa, existe uma correlação entre o aumento periódico no número de grandes terremotos e a diminuição da velocidade de rotação da Terra - o movimento do planeta para dar uma volta em seu próprio eixo.

Quando a Terra gira mais lentamente, leva um pouco mais de tempo para completar uma volta completa, fazendo com que o dia fique ligeiramente maior que 24 horas - podendo ganhar alguns microssegundos. Até aí, não há novidade. A questão é que os pesquisadores estão dizendo que essa pequena mudança também pode aumentar a quantidade de fortes terremotos.

Mas esse efeito não seria imediato. Demoraria cerca de cinco anos para ser sentido. Como a rotação da Terra começou a desacelerar em 2012-2013, o próximo aumento no número de terremotos poderia ocorrer em 2018, aponta a pesquisa.

"Nós estamos sugerindo que o aumento no número de terremos deve começar logo", afirmou para a BBC Brasil a pesquisadora Rebecca Bendick, da Universidade de Montana, responsável pelo estudo em conjunto com Roger Bilham, da Universidade do Colorado.

Terremoto 1 - Getty Images - Getty Images
Movimento da Terra em torno de seu eixo pode ligadar a terremotos, segundo cientistas
Imagem: Getty Images

Eles apresentaram os resultados no encontro anual da Geological Society of America, nos Estados Unidos, no final de outubro.

"Nós não podemos prever a desaceleração ou aceleração na rotação da Terra, mas podemos detectá-la através de observações astronômicas e relógios atômicos. E, se nossa hipótese estiver correta, isso pode ser capaz de nos alertar sobre o aumento no número de terremotos cinco anos antes", continua Bendick.

Bendick cita uma palavra importante: hipótese. Ainda não há prova científica de os dois fenômenos estejam relacionados.

Como a pesquisa foi feita

Primeiro, os cientistas verificaram os registros históricos de grandes terremotos, desde 1900. Ali, identificaram picos de atividade sísmica de grande intensidade - em 1910, 1943, 1970 e 1998. Enquanto em um ano comum poderiam ocorrer cerca de 15 grandes terremotos em todo o mundo, nos anos de pico esse número poderia subir para 20.

Terremoto 2 - EPA - EPA
Terremoto no México foi um dos mais devastadores do ano
Imagem: EPA

Em seguida, os pesquisadores começaram a procurar outros fenômenos da Terra que tivessem uma periodicidade semelhante. Foi aí que testaram a desaceleração no movimento de rotação. "Quando nós comparamos as duas séries temporais, elas eram muito correlacionadas", afirma Bendick.

É como se, durante esse pico, os terremotos funcionassem como "células nervosas ou baterias, que requerem alguma carga antes que possam descarregar", compara a pesquisadora. E a rotação mais lenta da Terra poderia gerar essa "carga". Os pesquisadores ainda não tem uma hipótese sobre por que isso ocorreria.

O que poderia ser feito para mitigar os danos?

Os pesquisadores esperam que essa prevista janela de cinco anos de antecipação ajude as pessoas a minimizarem o impacto dos terremotos.

"O efeito é mais pronunciado em áreas onde já há muitos terremotos. Então, faz sentido que as pessoas fiquem preparadas, especialmente antes desses intervalos em que o risco de tremores mais danosos aumenta", continua Bendick.

Entre as medidas individuais que podem ser tomadas, ela cita ter um kit de emergência e fazer um plano de evacuação entre a família e os amigos.

"Esse tipo de alerta antecipado nos dá uma chance de nos prepararmos, em vez de apenas nos preocuparmos."

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Itália também sofre com incidência de terremotos - em 2016, um terremoto de magnitude 6.2 aconteceu a 100 km a nordeste de Roma
Imagem: Reuters

O estudo faz uma ressalva: não seria possível saber onde os terremotos "extras" ocorreriam. O fato é que a maior parte dos tremores mais fortes acontece perto da linha do equador, cita a pesquisa. Uma explicação para isso é que essa área sofre os maiores impactos da mudança de velocidade de rotação da Terra, porque sua forma se altera mais.

"Um exemplo impressionante é que, desde 1900, mais de 80% dos tremores mais fortes nas bordas leste da placa tectônica do Caribe ocorreram nos cinco anos seguintes à máxima desaceleração da Terra", diz o estudo apresentado no encontro de Geologia.

Nada disso, contudo, diz respeito ao Brasil. "O Brasil não é muito ativo sismicamente. É uma boa notícia", brinca Bendick.