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O misterioso satélite russo com comportamento 'anormal' que gera preocupação nos EUA

Os EUA dizem que não sabem o que é o satélite ou por que ele está se comportando de maneira estranha - Getty Images
Os EUA dizem que não sabem o que é o satélite ou por que ele está se comportando de maneira estranha Imagem: Getty Images

16/08/2018 15h24

Um satélite russo com "comportamento muito anormal" em órbita deixou os Estados Unidos em alerta, segundo um funcionário do Departamento de Estado do país.

"Não sabemos ao certo o que é esse satélite e não há como averiguar", disse a secretária assistente de Estado para Controle e Verificação de Armas, Yleem Poblete, em uma conferência na Suíça nesta terça-feira.

Ela manifestou o receio de que não seja possível dizer se o objeto pode ser uma arma e afirmou que seu comportamento era incompatível com o de "qualquer coisa" avaliada a partir de uma inspeção em órbita (ou seja, enquanto está no espaço), inclusive outros artefatos russos.

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A Rússia rechaçou os comentários, afirmando que não passam de "acusações infundadas e caluniosas baseadas em suspeitas".

O satélite em questão foi lançado em outubro do ano passado.

"As intenções russas com relação a esse satélite não são claras e são obviamente algo muito preocupante", acrescentou, citando comentários recentes feitos pelo comandante da Força Espacial da Rússia, segundo o qual adotar "novos protótipos de armas" era um objetivo-chave para a organização.

Poblete disse que os EUA tinham "sérias preocupações" de que a Rússia estivesse desenvolvendo armas antissatélite.

Alexander Deyneko, um alto diplomata russo, disse à agência de notícias Reuters que os comentários eram "as mesmas acusações infundadas e caluniosas baseadas em suspeitas, em suposições e assim por diante".

E pediu aos EUA que contribuíssem para o tratado no qual Rússia e China trabalham juntas há dez anos - discutido mais uma vez na conferência da qual Poblete participou nesta semana - e que visa evitar uma corrida armamentista no espaço.

'Lasers ou micro-ondas'

As armas espaciais podem ser projetadas para causar danos de formas mais sutis do que as armas tradicionais, como armas de fogo, o que poderia resultar em muito lixo espacial em órbita, explicou Alexandra Stickings, analista de pesquisa do Royal United Services Institute, instituto de pesquisas independente nas áreas de defesa e segurança, com sede em Londres, na Inglaterra.

Satélite 2 - Getty Images - Getty Images
Armas antissatélite poderiam interromper o funcionamento ou desativar permanentemente artefatos em órbita
Imagem: Getty Images

"[Tais armas podem incluir] lasers ou frequências de micro-ondas que poderiam simplesmente parar o funcionamento (de um satélite) por um tempo ou desativá-lo permanentemente sem destruí-lo ou interrompê-lo via interferência", disse ela.

Mas seria difícil saber qual tecnologia está disponível, porque muita informação sobre os recursos espaciais existentes hoje é confidencial, acrescentou a secretária.

Ela também disse que seria muito difícil provar que qualquer evento causando interferência no espaço fosse uma ação intencional e hostil de uma nação específica.

Os comentários de Poblete foram particularmente interessantes à luz da decisão do presidente Donald Trump de lançar uma sexta ramificação das forças armadas dos EUA, chamada Space Force, ressaltou Stickings.

"A narrativa vinda dos EUA é 'o espaço estava realmente pacífico, agora veja o que os russos e os chineses estão fazendo' - ignorando o fato de que os EUA desenvolveram suas próprias habilidades (no ramo da tecnologia espacial)".

Um porta-voz do Ministério da Defesa do Reino Unido disse que não pode confirmar nem negar qualquer rastreamento de satélites russos.

"Há uma gama de ameaças e riscos para todos os recursos espaciais, em que há um domínio cada vez mais contestado", disse ele.

"Isso inclui o desenvolvimento de armas 'contra-espaciais' por diversas nações."

"O Reino Unido está trabalhando ao lado de aliados internacionais, incluindo os EUA, para reforçar comportamentos responsáveis ??e seguros no espaço e para construir conhecimento, compreensão e resiliência".