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Como é a proteção contra incêndio no Museu de História Natural de Paris, um dos maiores do mundo

Museu em Paris é um dos maiores do mundo, ao lado do de Londres - Divulgação/MNHN
Museu em Paris é um dos maiores do mundo, ao lado do de Londres Imagem: Divulgação/MNHN

Daniela Fernandes - De Paris para a BBC News Brasil

04/09/2018 15h27

Alarmes e detectores de fumaça ligados a um posto de comando computadorizado e monitorado 24 horas por dia, agentes de segurança treinados para combater incêndios sempre presentes no local, extratores de fumaça, sistemas de "compartimentagem" dos espaços com portas corta-fogo e divisórias nas escadas para evitar que o fogo se alastre fazem parte do esquema de segurança contra incêndios dos museus franceses, como o de História Natural de Paris, que possui o mesmo tipo de acervo do Museu Nacional do Rio, destruído pelo fogo no domingo.

Há também exercícios regulares de simulação de incêndios, que contam ainda com operações de socorro a vítimas de acidentes desse tipo.

O Museu de História Natural de Paris é um dos maiores do mundo, junto com o de Londres, com um acervo de 68 milhões de espécimes de coleções que mostram a diversidade da natureza.

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Apenas na Grande Galeria da Evolução - um dos pontos fortes do museu, com 6 mil metros quadrados de exposições e que apresenta uma sala com espécies extintas ou ameaçadas - são cinco agentes de segurança treinados e voltados especificamente para o combate a incêndios nos horários de abertura e dois à noite.

Isso além dos 70 agentes de segurança que circulam pelo local.

"Investimos significativamente nos últimos anos em sistemas de segurança contra incêndios", disse à BBC News Brasil Bruno David, presidente do Museu de História Natural de Paris, sem revelar o montante total.

'A tragédia no Rio nos leva a refletir sobre a questão'

Na galeria de paleontologia, de 1898, a única do museu que está menos conservada e precisa ser renovada, foi investido 1 milhão de euros (cerca de R$ 5 milhões) nos últimos cinco anos no sistema de segurança contra incêndios, com os mesmos equipamentos e alarmes conectados ao posto de comando, extratores de fumaça e portas corta-fogo que já existiam em outros espaços do museu.

Outros 7 milhões de euros (cerca de R$ 35 milhões) devem ser investidos para refazer o teto da galeria de paleontologia e evitar infiltrações que possam causar, por exemplo, curtos-circuitos.

"Há sempre uma maneira de intervir no prédio. Se não temos dinheiro para renovar completamente, podemos reforçar a segurança para preservar o que está dentro", afirma David.

"No Rio, o acidente aconteceu antes da renovação e agora só podemos chorar", completa.

"A tragédia no Rio nos leva a refletir sobre a questão", diz David, referindo-se ao funcionamento do plano de segurança do museu parisiense contra incêndios e eventuais riscos que sempre podem surgir.

O sistema de segurança do museu também conta com várias dezenas de câmeras, segundo a direção.

"O importante não é só ter câmeras. É ter alarmes detectores de fumaça e fogo ligados ao posto de comando central para que possamos supervisionar cada galeria", diz Pierre Debreuil, diretor-geral do Museu de História Natural de Paris.

"Penso que se houvesse no museu do Rio o sistema de compartimentagem, para evitar a propagação do fogo, o museu todo não teria queimado ao mesmo tempo", diz ele, ressaltando que não conhece o sistema do museu carioca e que as causas do incêndio não são ainda conhecidas.

"Com o sistema de compartimentagem, com portas corta-fogo e divisórias específicas nas escada, o fogo não se alastra por todos os lados, limitando os riscos de propagação do incêndio", destaca Debreuil.

"Ninguém está a salvo de um incêndio como o do Rio, é possível que isso aconteça. Mas temos sistemas de segurança que normalmente nos permitem agir imediatamente em caso de risco de incêndio", afirma o diretor-geral.

O Museu de História Natural pode ter corrido um risco mais elevado de incêndio no passado.

Antes da renovação da Grande Galeria da Evolução, iniciada em 1989 (ela foi reaberta em 1994), o local estava, segundo o presidente, em "estado catastrófico". Chovia dentro, mas a eletricidade havia sido cortada para evitar curto-circuitos.

Em dezembro passado, houve um pequeno incêndio em uma área técnica do Carrousel du Louvre, onde há lojas e restaurantes, e foi rapidamente controlado.

Perda irreparável

Para David, o incêndio do Museu Nacional do Rio representa uma perda irreparável para o Brasil e para a humanidade. "É um patrimônio inestimável que desapareceu e que não poderemos substituir", diz o diretor do museu parisiense.

"Não podemos substituir um pássaro por outro da mesma espécie. Cada um carrega informações históricas do período em em que viveu e revela as condições ambientais da época. Tudo isso foi irremediavelmente perdido."

Segundo David, o que poderá ser eventualmente substituído pelo museu carioca deverá representar "custos gigantescos."

"É mais do que um patrimônio científico. É um patrimônio que diz respeito à história das ciências e da humanidade, a maneira como os homens descobriram a biodiversidade brasileira. Todos esses aspectos foram destruídos", afirma.

O diretor do Museu de História Natural de Paris se diz muito "triste" com a perda também de correspondências científicas entre pesquisadores europeus e sul-americanos.

Para ele, o Museu Nacional do Rio não tem a importância internacional dos de Paris, Londres ou Washington com acervos do mesmo tipo, mas "é um grande museu da América do Sul", que estaria, na sua avaliação, entre os 15 maiores do mundo.

A Unesco, organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, também lamentou a "perda inestimável para a humanidade da coleção excepcional" do Museu Nacional do Rio.

Em entrevista à BBC News Brasil, Ieng Srong, chefe da divisão do patrimônio mobiliário e museus da organização, disse que o Brasil deverá "tirar lições dessa tragédia e se voltar para o futuro", identificando as razões do incêndio e tomando medidas preventivas.

Segundo ele, o Brasil desempenhou um "papel-chave" na adoção, em 2015, da Recomendação Referente à Proteção e Promoção dos Museus da organização.

O Brasil, diz Srong, foi o "motor" da elaboração dessa recomendação e foi o primeiro país a sediar o encontro sobre essa recomendação internacional.

O País enviou recentemente à Unesco um relatório sobre a aplicação no país das medidas previstas pela recomendação. Ele será analisado pela entidade nos próximos meses.