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Tecnologia para bebês: de mamadeiras a fraldas inteligentes, as novidades que ajudam mães e pais

Nicholas Mancall-Bitel - BBC Future

24/01/2019 15h53

Os novos produtos, destinados a aliviar o estresse e preocupação dos pais, fazem com que tarefas que antes eram baseadas no instinto sejam totalmente automatizadas.

Quando Lindsay Elliott virou mãe e se viu diante do desafio de ficar longe da filha, encontrou um aliado improvável: uma meia.

Para afastar qualquer preocupação em relação à saúde da pequena Hazel, a professora de 29 anos comprou uma "meia inteligente" de US$ 300 (cerca de R$ 1 mil) que tem um sensor de oximetria de pulso - inspirado em equipamentos hospitalares e adaptado para dispositivos como Apple Watch e Fitbit - para monitorar os níveis de oxigênio, a frequência cardíaca e a temperatura da filha.

"Eu sempre tive medo de que ela simplesmente parasse de respirar. Era uma ansiedade pessoal, assim, monitorar o nível de oxigênio me ajudou bastante", diz Elliott, que mora em Winter Park, no Estado americano da Flórida.

Ao usar essa tecnologia para bebês, ela consegue dormir mais tranquila e se sente mais segura ao sair para jantar e deixar a filha com a babá. Ela pode simplesmente monitorar os sinais vitais da filha pelo celular.

Elliott faz parte de um número crescente de millennials que utilizam soluções inteligentes de tecnologia para cuidar dos filhos. A geração millennial é, afinal, a mais conectada em todos os aspectos de sua rotina diária.

Eles utilizam aplicativos e "wearables" (peças de roupa ou acessórios inteligentes, como relógios, pulseiras e óculos) para monitorar capacidade física, ciclos de sono, alimentação e hábitos de trabalho. Para muitos, supervisionar a saúde dos filhos é um passo natural.

Nos últimos anos, vários fabricantes reconheceram o potencial de equipar os bebês com "wearables" e outros dispositivos inteligentes. Existe um mercado para isso. De acordo com a empresa de pesquisa social australiana McCrindle, a cada semana mais de 2,5 milhões de membros da chamada "geração alpha" nascem em todo o mundo.

Este grupo, cujos integrantes mais antigos nasceram em 2010 (o mesmo ano em que o iPad e o Instagram foram lançados), contará com quase dois bilhões de pessoas quando a geração terminar oficialmente em 2025.

Além das meias, os pais modernos têm acesso agora a uma série de produtos conectados para bebês que geram dados - como mamadeiras, brinquedos, berços, carrinhos de bebê, roupas e muito mais.

Alguns itens são destinados a aliviar o estresse dos pais de primeira viagem, enquanto outros simplesmente automatizam partes do processo de criação dos filhos - fazendo com que tarefas que antes eram baseadas no instinto sejam totalmente automatizadas.

Por exemplo, um "monitor inteligente de alimentação para bebês" é conectado à parte inferior de uma mamadeira padrão e envia dados por Bluetooth a um smartphone. Várias questões relacionadas à hora da refeição que normalmente são intuitivas - como a quantidade e a temperatura do leite e até mesmo o ângulo da mamadeira - são monitoradas por meio de um aplicativo.

Elliott reconhece que os dispositivos inteligentes para bebês não são imprescindíveis, mas diz que sua geração está entusiasmada em adotar essas novas tecnologias para facilitar o processo de criação dos filhos.

"Eu converso com alguns pais mais velhos que não tinham essa tecnologia. Eles dizem: 'No meu tempo, a gente apenas checava se eles estavam respirando'. E eu digo: 'É, as coisas estão evoluindo'."

Nasce um novo mercado

Em 2016, a Consumer Electronics Show (CES), a maior feira de tecnologia do mundo realizada anualmente nos EUA, lançou um segmento dedicado aos bebês: o BabyTech Summit.

A produtora Jill Gilbert explica que o evento fez sucesso inicialmente entre startups, que criaram soluções únicas e autônomas para bebês. A primeira leva de produtos incluía um banco de carro com sensores para garantir que a criança estava em segurança e um trocador que acompanhava o crescimento do bebê a cada troca de fralda.

Com o passar dos anos, os produtos evoluíram e se tornaram mais complexos, integrando mais sensores, diversificando o fornecimento de dados e oferecendo plataformas digitais mais abrangentes.

Agora, marcas maiores e mais conhecidas globalmente estão entrando neste mercado em ascensão. A Motorola vende uma série de produtos para berços, enquanto a Philips desenvolveu um aplicativo que combina o envio de dados a partir de um monitor para bebês, tendências registradas pelos pais e consultas de vídeo online com médicos.

Embora este setor seja relativamente novo e pouco estudado, os analistas da empresa de pesquisa de Mercado Hexa afirmam que o segmento de monitoramento de bebês deve crescer de US$ 929 milhões em 2016 para US$ 1,63 bilhão até 2025.

Com a China à frente, a Hexa prevê que a região da Ásia-Pacífico também ganhará uma participação substancial no mercado global nesse período.

À medida que cada vez mais pais millennials nos Estados Unidos, Alemanha, França e China decidem sair de casa para trabalhar, a expectativa é que eles recorram a monitores digitais para ficar conectados aos recém-nascidos. E os próximos a se conectar podem ser os mercados emergentes, incluindo Índia, Brasil, África do Sul e Tailândia.

Os dados sabem o que é melhor?

Enfatizar constantemente o bem-estar da criança não é a melhor maneira de desenvolver habilidades parentais, diz Dohyeong Park, CEO da empresa de monitores de fraldas inteligentes Monit, da Coreia do Sul.

"Se você quer deixar seu bebê feliz, você deve ser feliz primeiro. Isso maximizará a qualidade do cuidado."

Park está desenvolvendo uma tecnologia que, segundo ele, pode abordar exatamente essa questão. As fraldas Monit alertam os pais sobre o trânsito intestinal dos bebês, ajudando a trocá-los com mais rapidez, com a intenção de prevenir assaduras e infecções do trato urinário.

O empresário espera que os dados gerados pela Monit tranquilizem os pais para que deixar o bebê em outro cômodo, ou que poupem a preocupação de interpretar errado o significado de um choro.

Em vez de confiar na intuição para cuidar dos filhos, os representantes da indústria de tecnologia para bebês preferem que os pais da geração millennial usem dados.

Em um berço conectado, a recusa de um recém-nascido para dormir durante a noite, que inevitavelmente tira o sono dos pais, se transforma em um hábito monitorado a ser corrigido a partir da interpretação dos dados.

A preocupação de ficar longe do filho, uma fragilidade com a qual os pais precisam lutar internamente, passa a ser um mero incômodo a ser amenizado pelas atualizações do smartphone.

O estresse em relação à saúde do bebê, que pode ser uma distração para os pais, se transforma em um pensamento passageiro.

"A geração millennial espera que a tecnologia faça parte da vida dela", diz Gilbert, da BabyTech Summit.

"[Gerações mais velhas] esperam ter TVs dentro de casa. Eles esperam ter monitores inteligentes, plataformas conectadas", acrescenta.

'Falsa sensação de controle'

Os efeitos médicos, emocionais e psicológicos da tecnologia para bebês ainda precisam ser estudados a fundo - e não há consenso entre os especialistas em cuidados infantis sobre seu impacto ou necessidade.

Rebecca Parlakian, uma das diretoras do grupo de pesquisa de desenvolvimento infantil sem fins lucrativos Zero to Three, tem receio de que os dispositivos de monitoramento possam "desconectar os pais de compreender as necessidades específicas de seus bebês".

Naturalmente, os bebês aprendem a administrar suas emoções por meio de um processo de "corregulação", diz ela, seguindo as indicações dos pais enquanto são embalados e consolados; no caso de um berço automatizado, por exemplo, os pais podem não saber se os bebês "preferem o balanço, o ruído branco ou alguma outra forma" para pegar no sono.

Segundo ela, o impacto questionável dos monitores de saúde pode se estender aos pais.

"Se o pai já é ansioso, ter acesso a esses dados constantemente pode gerar mais ansiedade para eles e mais preocupação."

Kurt Workman, CEO da Owlet, empresa que fabrica a meia inteligente de US$ 300, discorda. Ele cita um estudo que a companhia realizou em parceria com a revista Global Pediatric Health, no qual 96% dos quase 50 mil usuários da Owlet relataram uma redução no estresse depois de usar a meia inteligente.

Mas o estresse pode, na verdade, ser parte integrante do processo de se tornar um pai competente e saudável, diz Jenny Radesky, professora assistente de pediatria comportamental do desenvolvimento na Escola de Medicina da Universidade de Michigan, nos EUA.

Ela tem receio de que as ferramentas de monitoramento da saúde "possam dar aos pais uma falsa sensação de controle, quando um grande passo para se tornar pai é tolerar a angústia e os sentimentos de falta de controle que acompanham tomar conta de outro ser humano minúsculo".

Amadurecimento

Toda essa tecnologia, como é de se esperar, tem um custo alto. E apesar de fazerem parte da geração com maior conhecimento tecnológico, os millennials também são mais desfavorecidos financeiramente do que as gerações passadas.

Por exemplo, o Snoo, berço inteligente que embala automaticamente os bebês para dormir, custa US$ 1.160. Michelle Dowdy, mãe de três filhos em Nashville, Tennessee, nos EUA, comprou um.

"Se [meu bebê] não dorme, vale o investimento", diz a fotógrafa de 29 anos.

Para Dowdy, o Snoo não é diferente de um "treinador de sono" para bebês. As enfermeiras da maternidade que oferecem esse serviço normalmente cobram cerca de US$ 200 por noite no Reino Unido e nos EUA - o que significa que o Snoo "se pagaria" em menos de uma semana.

Para aqueles que têm dinheiro para investir em um "treinador do sono", gastar mais de US$ 1 mil em um berço pode não parecer muito. Mas, como muitos pais no mundo todo lutam para suprir necessidades básicas dos filhos, a tecnologia para bebês não está apenas fora do alcance deles, é um luxo.

"Ter um filho pode ser muito caro, mesmo levando em conta apenas o básico, como berço, comida, fraldas, etc", diz Todd Kunsman, fundador do site de consultoria de finanças pessoais Invested Wallet.

"Embora esses produtos inteligentes possam ser 'bons de se ter', eles não são itens essenciais."

Elisabeth Gugl, professora da Universidade de Victoria, no Canadá, que estuda economia familiar, teme que, até que essa nova indústria consiga coletar evidências para respaldar suas supostas vantagens econômicas e médicas, os pais não serão capazes de separar o que é ficção da realidade, e as empresas vão poder mirar em pais ansiosos com informações falsas para vender seus produtos.

Ainda assim, muitos que usam esses monitores são fortes defensores da tecnologia.

"Eu recomendei a meia da Owlet a todas as pessoas que conheci desde que engravidei", conta Elliott. Dowdy diz o mesmo a respeito do berço Snoo.

Ou seja, a geração que cria os filhos orientada por dados está chegando. Como diz Dohyeong, "não é uma questão de escolha. É uma questão de tempo."

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.


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