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Divisão anômala nas células-tronco pode causar tumores

05/03/2007 13h16

Barcelona, 5 mar (EFE).- Cientistas do Instituto de Pesquisa Biomédica (IRB) de Barcelona descobriram que a correta divisão do centrossoma, denominação da estrutura intercelular, é determinante para que a divisão das células-tronco se realize adequadamente e não derive em tumores.

O estudo, no qual o IRB trabalhou durante os últimos dois anos, fornece novos dados sobre um dos mecanismos que controlam a divisão das células-tronco, o centrossoma, uma estrutura de vital importância que, no entanto, foi pouco estudada.

O principal pesquisador do IRB, Cayetano González, explicou à agência Efe que até agora se sabia que, para uma divisão celular correta, as células-tronco - com capacidade de se dividir produzindo duas células muito diferentes - devem se separar de forma assimétrica, gerando uma célula-tronco e outra especializada para uma função determinada no organismo.

Caso isso não ocorra, ou seja, se a divisão for "simétrica", as células-tronco, em vez de gerar tecido, formam outras duas células-tronco do mesmo tamanho e conteúdo. Essa situação é potencialmente perigosa, já que poderia derivar na proliferação descontrolada destas células e, portanto, na aparição de tumores.

"As células-tronco têm que estar altamente polarizadas, não têm que ser homogêneas. A distribuição assimétrica é importante para evitar que as células se tornem malignas", afirmou González.

A pesquisa do IRB, publicada hoje pela revista científica "Development Cell", demonstra que o centrossoma, o "aparelho que organiza o esqueleto da célula", também deve se dividir assimetricamente, produzindo componentes internos muito diferentes para garantir uma correta divisão da célula-tronco.

A assimétrica segmentação do centrossoma parece estar diretamente relacionada com a ótima divisão das células-tronco, estratégia que permite a uma só célula gerar grandes quantidades de tecido durante a vida de um indivíduo.

"Para que uma célula-tronco não produza um tumor, tem que se dividir assimetricamente, e precisa que os centrossomas também sejam assimétricos", explicou o responsável pelo estudo, que ressaltou que "nunca antes" tinham sido observados centrossomas assimétricos, com componentes diferentes.

Para conseguir visualizar a estrutura, os pesquisadores utilizaram uma tecnologia que combina a geração de moscas geneticamente modificadas nas quais os componentes celulares de interesse, que são incolores, estão coloridos e podem ser observados vivos, com avançadas técnicas de microscopia de alta resolução.

"Graças a estas técnicas e a centenas de horas de filmagem, pudemos ver passo a passo o elaborado mecanismo de divisão das células-tronco. Também conseguimos identificar uma das proteínas que faz com que os centrossomas das células sejam diferentes", afirmou a cientista Elena Rebollo, membro da equipe pesquisadora.

Segundo Rebollo, o estudo "sugere que o centrossoma pode ter um papel essencial para prevenir a transformação maligna das células-tronco, algo que estamos investigando intensamente no momento", disse.