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Cirurgia contra obesidade pode gerar problema neurológico, diz estudo

Por Will Dunham

12/03/2007 21h00

WASHINGTON (Reuters) - Alguns obesos submetidos a cirurgias de redução de peso, especialmente mulheres jovens, desenvolvem um distúrbio neurológico normalmente associado ao alcoolismo severo e ligado à deficiência de vitaminas, disseram pesquisadores na segunda-feira.

Um estudo na revista Neurology descreveu os casos de 27 mulheres e cinco homens que tiveram o distúrbio, chamado encefalopatia Wernicke, depois da cirurgia bariátrica. Quase todos sofreram vômitos freqüentes nas semanas posteriores à operação. Dois pacientes morreram.

A encefalopatia é provocada por deficiência de vitamina B1. A doença afeta o sistema nervoso e o cérebro, com sintomas como visão dupla, anormalidades na movimentação ocular, oscilação no caminhar, perda de memória e alucinações.

O coordenador da pesquisa, Sonal Singh, da Escola Universitária de Medicina Wake Forest, da Carolina do Norte, disse não saber a freqüência com que esse distúrbio atinge pessoas submetidas à cirurgia contra obesidade. Aparentemente, o problema atinge pacientes que param de tomar suplementos vitamínicos ou que não conseguem absorvê-los devido ao vômito.

Singh disse que, reconhecida a tempo, a síndrome pode ser facilmente tratada com injeções de vitamina B1. Segundo ele, médicos e pacientes precisam estar atentos aos sintomas nas primeiras semanas após a cirurgia.

Cerca de 170 mil pessoas se submeteram à cirurgia de emagrecimento nos EUA em 2005, aumento de dez vezes em relação à década de 1990. Entre 2000 e 2003, a incidência dessas cirurgias entre adolescentes triplicou, segundo estudo divulgado na semana passada.

"Não estamos dizendo às pessoas que não façam a cirurgia, mas acho que há um risco a ser considerado agora na equação quando as pessoas estão decidindo", afirmou Singh.

Singh e seu colega Abhay Kumar disseram, após análise de dados na literatura médica, que a síndrome ocorre com mais freqüência entre um e três meses após a cirurgia, especialmente em mulheres, mas que em um caso chegou a aparecer até 18 meses depois.

O problema ocorre em qualquer tipo de operação contra obesidade, como na ponte gástrica, em que o cirurgião secciona uma pequena parte do estômago, formando uma bolsa que passa ao lado da primeira parte do intestino delgado e se conecta diretamente às porções inferiores.

Também há uma cirurgia que "amarra" o estômago e a divisão gástrica que divide o estômago em duas partes.

Trezes dos 32 pacientes se recuperaram plenamente. Alguns dos 32 tiveram sintomas normalmente não associados à encefalopatia, como desmaios, perda de audição, psicoses, fraqueza muscular e dormência nas extremidades, segundo o estudo.

"É realmente cedo demais para dizer o quão comum ou raro é (esse distúrbio). Acho que é mais comum do que as pessoas esperam", disse Singh.

Também é prematuro dizer, segundo ele, que a doença afeta mais as mulheres, ou se esse resultado foi mais frequente porque as mulheres são três quartos dos pacientes que e submetem a esse tipo de cirurgia.