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Tuberculose resistente a medicamentos só é curável em 50% dos casos

22/03/2007 16h21

Nairóbi, 22 mar (EFE).- A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), assinalou hoje que a medicação contra a tuberculose resistente a múltiplos fármacos (MDR-TB, em inglês) só tem sucesso em pouco mais da metade dos casos, inclusive em execelentes condições de tratamento.

"A insuficiente pesquisa para desenvolver novos remédios e métodos de diagnóstico deixa o pessoal médico sem ferramentas para tratar a doença, por isso que muitos pacientes desenvolvem resistência, independentemente da qualidade do serviço que recebem", assinalou a MSF em comunicado divulgado em Nairóbi, nas vésperas do Dia Mundial da Tuberculose.

A organização médica internacional, que está tratando atualmente mais de 20 mil pacientes de tuberculose em mais de quarenta países, apoiou desde 1999 o tratamento de 570 contagiados com a cepa MDR-TB no Quênia, Uganda, Armênia, Geórgia, Camboja, Tailândia e Uzbequistão.

"Só 55% dos pacientes completou o tratamento, que dura entre 18 e 24 meses. Os 45% restantes não o completaram porque morreram, não melhoraram com os remédios ou abandonaram o tratamento pelos efeitos colaterais e outras dificuldades para tolerá-lo", assinala o relatório da MSF.

Quando o vírus da tuberculose desenvolve resistência aos fármacos habituais, só fica como opção o tratamento com remédios antigos menos efetivos que, além de serem muito mais caros, têm compostos tóxicos, o que traz terríveis efeitos secundários.

A situação é "particularmente alarmante" naqueles casos em que as pessoas estão infectadas pelo vírus da tuberculose e também pelo HIV (causador da aids), acrescenta o documento da MSF.

"Em lugares onde há muita aids, o risco de que a tuberculose resistente a múltiplos fármacos continue se expandindo como está fazendo hoje, produz terror, mas é uma possibilidade real", disse Liesbet Ohler, da equipe médica da MSF em Mathare, um bairro de favelas de Nairóbi.

Diagnosticar a MDR-TB é extremamente difícil e os resultados podem demorar até oito semanas, "o que em pacientes também infectados com o HIV pode representar a diferença entre a vida e a morte".

A organização humanitária destacou que apesar da urgência da situação, "a pesquisa atual não está em sintonia com a necessidade de melhores diagnósticos e remédios".

Uma análise feita pela MSF concluiu que nenhum dos compostos em atual processo de desenvolvimento poderá produzir um remédio capaz de encurtar drasticamente o tratamento, uma das principais necessidades para lutar contra a doença.

As necessidades financeiras de pesquisa e desenvolvimento em tuberculose são de US$ 900 milhões anuais, mas só estão sendo investidos US$ 206 milhões, concluiu a MSF.

Segundo dados divulgados hoje pela Organização Mundial da Saúde, a epidemia de tuberculose alcançou seu pico em 2004, se estabilizou em 2005 e está a ponto de começar a ceder.

No entanto, a doença ainda mata diariamente 4,4 mil pessoas, o que representou em 2005 um total de 1,6 milhão de vítimas mortais, das quais 195 mil eram portadoras do HIV, e a cada ano desenvolvem a doença 8,8 milhões de pessoas, 7,4 milhões delas na Ásia e na África Subsaariana.