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Milhões de abelhas desaparecem sem deixar pistas nos EUA

Teresa Bouza

29/03/2007 10h57

Washington, 29 mar (EFE).- Oarecimento de milhões de abelhas em todo os Estados Unidos tem deixado os apicultores com a pulga atrás da orelha e preocupa até o Congresso, que debaterá hoje a crítica situação de um inseto chave para o setor agrícola.

As primeiras ocorrências sérias surgiram pouco após o Natal, no estado da Flórida, quando os apicultores se depararam com o sumiço de inúmeras abelhas.

Desde então, a síndrome que os especialistas batizaram como Distúrbio do Colapso das Colônias (CCD) causou a diminuição de 25% dos enxames no país.

"Perdemos mais de meio milhão de colônias, com uma população de 50.000 abelhas", disse à agência Efe Daniel Weaver, presidente da Federação Americana de Apicultores, que destacou que o problema vem afetando 30 dos 50 estados do país.

O curioso do fenômeno é que em muitos casos não são encontrados "restos mortais" dos insetos.

"Historicamente, quando algo afeta os enxames, sobram muitos insetos mortos", explicou à Efe Mai Berenbaum, professora de entomologia da Universidade de Illinois e segundo quem "em muitas destas misteriosas desaparições não há corpos".

O comportamento raro das abelhas americanas se soma a outro fato inusitado: as abelhas operárias estão fugindo e deixando a abelha rainha para trás, em um comportamento atípico para estes insetos.

"Nunca tínhamos tido um caso como este", disse Weaver, que como muitos dos 1.200 membros de sua organização acreditava que o problema desapareceria com a chegada da primavera no hemisfério norte, quando os enxames são muito mais numerosos.

Nesta época do ano, os insetos cumprem uma tarefa árdua, polinizando plantações avaliadas em até US$ 14 bilhões, segundo um estudo da Universidade de Cornell.

Mas a situação "ainda é crítica", assegura Weaver, que diz que ainda continua recebendo informações de abelhas desaparecidas ou mortas.

Entre os que perderam grande parte de suas colméias está David Ellingson, um apicultor nômade de Minnesota, que a cada ano libera seus insetos para que os insetos polinizem as longas plantações de amêndoas na Califórnia.

Na última vez, no entanto, muitas das abelhas de Ellingson cumpriram sua derradeira viagem. Cerca de 60% dos insetos das 2.000 colônias que o produtor cultivou para as plantações de amêndoas desapareceram ou morreram.

Não é por menos que os apicultores comparecerão hoje na Câmara de Representantes para pedir ao Congresso que destine fundos para a descoberta dos motivos do enigmático fenômeno.

Por enquanto, o mistério continua sem solução.

A professora Berenbaum afirmou que os cientistas trabalham com todo tipo de hipótese, entre elas a de que algum pesticida tenha provocado danos neurológicos às abelhas e alterado seu senso de orientação, o que impediria os animais de encontrar o caminho de volta para as colméias.

Outros estudiosos culpam a seca e inclusive as ondas dos telefones celulares, mas a verdade é que ninguém sabe com toda certeza qual é a verdadeiro explicação.

À espera de que a incógnita seja desfeita, os apicultores temem que não haja abelhas suficientes para polinizar muitos dos cultivos que florescerão no próximo mê, os quais incluem pêras, melões, pêssegos e alfafa.

"Nova York é uma das zonas mais afetadas e pode ser que parte das plantações de maçãs e mirtilos fiquem sem polinização", alerta Weaver.

Virginia Webb, uma apicultora da Geórgia que criou junto com o marido sete milhões de abelhas para a produção de mel e que conseguiu se livrar da peste que abala os Estados Unidos, lembra o modus operandi das pequenas criaturas.

"O que as abelhas fazem é sugar o néctar das flores e ao fazê-lo permitem que o pólen passe de uma flor para outra, o que favorece a fertilização e, em última instância, que a fruta cresça", explica Webb, que frisa a importância de insetos tão frágeis e importantes serem protegidos.