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Cientistas criam tecido de válvulas cardíacas a partir de células-tronco

02/04/2007 12h24

Londres, 2 abr (EFE).- Uma equipe de pesquisa conseguiu desenvolver no Reino Unido tecido de válvulas cardíacas a partir de células-tronco extraídas da medula óssea, o que, se tiver êxito nos testes com animais, poderia ser usado em pacientes humanos dentro de três ou cinco anos.

Liderado pelo professor de cirurgia cardíaca Magdi Yacoub, do Imperial College de Londres, a equipe de cientistas conseguiu criar um tecido cardiovascular que funciona da mesma forma que as válvulas dos corações humanos, segundo a edição de hoje do jornal britânico "The Guardian".

Para isso, se reuniu uma equipe de químicos, biólogos, engenheiros, especialistas em células e clínicos de universidades de todo o mundo que trabalharam durante dez anos no centro de pesquisa cardíaca do hospital Harefield, em Londres, para ver como cada peça do coração humano funciona.

Desenvolver tecidos substitutivos a partir de células-tronco é uma das principais metas da biologia, porque a criação de órgãos inteiros a partir das próprias células-tronco do paciente evitaria a rejeição, por encaixar geneticamente.

Até agora, os cientistas tinham se limitado a criar, a partir das células-tronco, tendões, cartilagens e bexigas, mas nenhum desses tecidos tem a complexidade estrutural de um órgão completo.

O professor Yacoub afirma que sua equipe deu um passo significativo rumo ao objetivo de conseguir desenvolver um coração completo a partir de células-tronco, o que, segundo o cientista, é um "projeto ambicioso, mas não impossível, que pode ser alcançado em dez anos".

A criação de tecido de válvulas do coração evitaria que o paciente tenha que se submeter ao transplante de válvulas artificiais, que, no caso das crianças, devem ser substituídas conforme vão crescendo, e, nos adultos, exige que sejam administrados remédios pela vida toda para prevenir complicações.

Através de um duplo processo físico e químico, os cientistas conseguiram primeiro fazer com que as células-tronco extraídas da medula se transformassem em células de válvulas cardíacas.

Depois colocaram as células em moldes de colágeno, o que permitiu aos especialistas cultivar discos de tecido de válvula cardíaca de três centímetros de largura.

Este tecido será implantado primeiro em animais, provavelmente em ovelhas e porcos, para comprovar seu funcionamento como parte do sistema circulatório.

Se o processo, que será realizado no fim do ano, tiver êxito, o tecido poderia ser implantado em humanos dentro de três ou cinco anos, segundo o diretor do projeto.

Desenvolver um fragmento de tecido da dimensão adequada a partir das células-tronco do paciente requereria cerca de um mês, mas Yacoub sustenta que a maioria das pessoas não precisará de um tratamento individualizado, já que haveria à disposição dos pacientes um banco de tecidos procedentes de diferentes células-tronco que serviriam para muitas delas.

Curiosamente, o diretor da equipe se inspirou para esta descoberta não só nos trabalhos de outros cientistas mas também em uma escultura que representa um coração realizada pelo artista britânico Antony Gormley e doada ao hospital Harefield.

Os trabalhos da equipe de Yacoub serão publicados em agosto em uma edição especial da revista "Philosophical Transactions", da Royal Society de Londres.