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Japão aprova medida para tentar reduzir índice de suicídios em 20%

Fernando Mexía

27/04/2007 10h45

Tóquio, 27 abr (EFE).- O Governo japonês se propõe a reduzir em 20% a taxa anual de suicídios até 2016, o que evitaria 5 mil mortes por ano em um país onde a solidão, a competição escolar e a pressão social levaram milhares de japoneses a se suicidar.

Para isso, o Executivo japonês aprovou hoje uma proposta de lei apresentada por um grupo de trabalho do Parlamento no qual se apresentam medidas preventivas concretas semelhantes às aplicadas no Reino Unido e na Finlândia, segundo a agência local "Kyodo".

Em maio, o Governo japonês pretende aprovar uma lei para a prevenção dos suicídios, assim que a proposta for debatida no Parlamento.

No Japão, o país industrializado com o maior número de suicídios por ano segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 32.552 pessoas se mataram em 2005, superando os 30 mil pelo oitavo ano consecutivo.

Os suicídios são um dos principais problemas do país, e o Governo leva tempo tentando conter os impulsos suicidas de muitos de seus habitantes, já que 24,2 pessoas de cada 100 mil se matam anualmente no Japão.

O projeto aprovado hoje estabelece uma meta de redução dos suicídios anuais para 19,4 para cada 100 mil habitantes em 2016.

Em 15 de junho de 2006, o Parlamento japonês aprovou uma lei destinada a interromper os chamados "pactos de morte", suicídios pactuados pela internet em que um grupo de pessoas se tranca dentro de um veículo e inala gases tóxicos liberados por fogareiros de carvão até a morte.

Os "pactos de morte" aumentaram no Japão em 2005, quando 91 japoneses se suicidaram em 34 pactos coletivos após contatos através da internet.

Este mês, foram divulgados dois casos de aparentes "suicídios pactuados", nos quais morreram ao todo oito pessoas.

A proposta do grupo de trabalho ressalta a importância das medidas preventivas, como a ajuda econômica para os que perderam o emprego e apoio psicológico e tratamento apropriado às pessoas que sofrem de depressão ou que tenham tentado se suicidar, além de seus familiares.

No Japão, segunda maior economia do mundo, com uma renda per capita anual de mais de US$ 33 mil, os suicidas costumam ter mais de 50 anos, embora o perfil esteja mudando.

São cada vez mais jovens as pessoas que se matam ou pensam na morte como uma maneira de pôr fim a seus problemas, devido ao fato de que o suicídio não representa um tabu, como nas nações ocidentais.

Segundo a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (AIPS), vinculada à OMS, a pobreza, o desemprego, a perda de entes queridos, discussões com familiares e amigos, problemas sentimentais e no trabalho são os principais fatores de risco que podem levar a um comportamento suicida.

Além disso, a AIPS cita a predisposição genética, as drogas, os abusos na infância e o isolamento social como possíveis desencadeantes de suicídios.

No entanto, a solidão e a pressão de uma sociedade presa a suas convenções, além da competição nas escolas, são especialmente determinantes no caso japonês.

É cada vez mais preocupante o crescente número de jovens e adolescentes que se matam anualmente no país.

Em 2005, 608 menores de 20 anos se mataram, 71 deles oficialmente por "problemas no colégio", apesar de os analistas denunciarem que esses números são muito baixos e corresponderiam à intenção das escolas de ocultar ou minimizar o problema.

A elevada competitividade nas salas de aula e o desconhecimento por parte dos pais das situações vividas pelos filhos, além da má condução destes casos por parte dos professores, contribui para gerar comportamentos suicidas entre os estudantes.

A preocupação chegou ao ponto de o próprio ministro da Educação japonês, Bummei Ibuki, dirigir aos colégios uma carta na qual encorajava os estudantes a continuar vivos e não pensar no suicídio.