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Cientistas definem medidas para combater mudanças climáticas

Miguel F. Rovira

02/05/2007 09h08

Bangcoc, 2 mai (EFE).- Cientistas e representantes de cerca de 150 países definem em Bangcoc as medidas que terão de ser introduzidas no fornecimento de energia, nos transportes, habitação, agricultura, indústria e manejo de resíduos para ajudar a combater a mudança climática.

Quase todas as possíveis soluções que os analistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) examinam, que constarão no relatório que preparam para a ONU, prevêem a redução obrigatória da queima de combustíveis fósseis.

"O potencial econômico para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa é notável em todos os setores, e suficiente para contê-las ou reduzi-las a níveis abaixo dos atuais", diz o projeto do relatório que deverá ser divulgado na sexta-feira, após ser aprovado por consenso.

Além do maior emprego da energia nuclear a fim de ajudar a reduzir as emissões de dióxido de carbono, os analistas sustentam também que o futuro passa pelo uso dos biocombustíveis geneticamente modificados e a captura do CO2 por meio de dispositivos especiais.

A opção da energia nuclear, tida por seus defensores como "limpa", deve gerar protestos por parte de organizações ambientalistas internacionais, como o Greenpeace, que a considera insegura e economicamente inviável.

"A energia nuclear não se transformou repentinamente em segura e limpa. O legado dos resíduos nucleares continua sem ser resolvido, e diariamente ocorrem acidentes no mundo", afirma o Greenpeace.

Na opinião do grupo, "a indústria nuclear utiliza o pretexto da mudança climática para salvar e até expandir seu negócio moribundo".

Segundo o Greenpeace, existem 441 reatores nucleares construídos em 31 países, com os Estados Unidos liderando a lista, seguido da França, do Japão e da China, que planeja construir três usinas nucleares por ano na próxima década.

A opção dos biocombustíveis é tratada com preocupação pelas organizações ambientalistas, que alegam que sua demanda causará uma rápida expansão dos cultivos de palma e outras espécies necessárias para a produção, em detrimento das florestas tropicais, como ocorre na Indonésia e na Amazônia.

O projeto do relatório do IPCC, criado em 1988, indica que para cada região do planeta existem diferentes e apropriadas tecnologias, e que a proteção das florestas é uma solução de "custo efetivo".

Uma das poucas opções de engenharia cogitadas pelos analistas, mas cuja eficácia ainda não foi comprovada, consiste na construção de torres que capturam o CO2 antes que ele atinja a atmosfera e levam o gás para depósitos subterrâneos e jazidas no fundo do mar.

Os cientistas do IPCC, a maioria deles vinda de países industrializados, consideram que o projeto das torres pode ser importante em duas décadas, embora a China e a Índia, dois dos países que mais poluem, já tenham construído engenhos similares, mas menos avançados e que ainda não deram resultados satisfatórios.

No setor do transporte, fonte de emissões de gás que aumenta mais rapidamente, a opção apresentada é a fabricação de veículos híbridos, que já estão no mercado, aumento de impostos e a melhora dos sistemas de transporte público.

Quanto à indústria, o IPCC considera propor que se imponham novos controles a poluentes como o metano e aos produtos químicos que contribuem para o efeito estufa.

Sobre o fornecimento de energia, o IPCC defende uma menor dependência do carvão em favor do gás, que é menos poluente, e sugere que a energia nuclear pode desempenhar um papel a curto e médio prazo.

Quanto à agricultura, os analistas afirmam que a melhora da gestão do solo rústico e das florestas, com ênfase no reflorestamento e em evitar o desmatamento, oferece uma das alternativas "mais fáceis e baratas" para a redução de emissões de gás poluente.

No entanto, eles não mencionam possíveis compensações econômicas aos países em desenvolvimento com grandes recursos florestais, como Brasil e Indonésia, para não permitir o desmatamento de suas florestas.

Quanto à habitação, os analistas recomendarão no relatório que seja seguido o exemplo de países como Alemanha e Suíça, onde são aplicadas políticas destinadas a conter a emissão de gases procedentes das casas.