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Japoneses comem cada vez mais carne em detrimento de peixes

Juan Palop

23/05/2007 09h46

Tóquio, 23 mai (EFE).- A dieta rica em frutos do mar dos japoneses pode estar a ponto de sofrer seu maior revés, quando pela primeira vez na história do país a quantidade de carne consumida pode superar a de peixes e mariscos.

As razões para a revolução nos hábitos alimentares no país, segundo informações divulgadas hoje pelo Governo do Japão, são a falta de tempo, o preço e o fato de que cada vez mais japoneses comerem fora de casa.

Até agora, a balança permaneceu inclinada para o lado dos frutos do mar por razões culturais e históricas, que mantinham o Japão como um dos primeiros consumidores de peixes do mundo se comparado ao resto dos países mais desenvolvidos e somente atrás de nações eminentemente pesqueiras como Maldivas e Islândia.

No entanto, os produtos feitos de carne foram pouco a pouco encurtando a distância em relação aos frutos do mar, sobretudo desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-45). No ano passado, pela primeira vez, o consumo se igualou.

Segundo um relatório sobre o mercado de Pesca de 2006 publicado hoje pelo Governo japonês, o volume per capita de peixe consumido nos lares japoneses em 2005 caiu ligeiramente se comparado ao ano anterior, até ficar pouco acima dos 13 kg.

Em compensação, a quantidade de carne consumida por pessoa em casa durante o mesmo período manteve a tendência de alta dos últimos anos e também chegou aos 13 kg, estabelecendo um empate técnico com os frutos do mar.

Nos anos 60, a situação era bastante diferente. Para cada 16 kg de peixes e mariscos consumidos por pessoa em casa anualmente eram ingeridos somente 6 kg de produtos feitos de carne.

A mudança nos hábitos alimentares japoneses é curiosa, sobretudo quando as informações do país são comparadas com os de Estados Unidos, Europa ou China, onde está crescendo o consumo de peixes por questões de saúde.

O documento publicado hoje pelo Governo japonês diz que as principais causas para a mudança são o aumento geral dos preços dos peixes e a maior facilidade de preparo das carnes, já que paulatinamente as famílias contam com menos tempo disponível desde que a mulher japonesa entrou de forma generalizada no mercado de trabalho do país.

Não por menos, segundo as estatísticas oficiais, as refeições fora de casa dispararam nas últimas décadas e já estão próximas de 17% do total, em comparação aos 7% de meados dos anos 60.

Além disso, a porcentagem de refeições pré-preparadas sobre o total também cresceu de forma notável, até alcançar 11%, quando há 50 anos não passava de 3%.

Outra informação constatada pela radical transformação dos hábitos alimentares japoneses: o consumo de arroz sobre o total de comidas caiu de 16% em 1965 até pouco mais de 4% nos dias de hoje.

O Governo japonês alertou sobre os riscos trazidos pelas novas tendências alimentares para a saúde da população, já que uma dieta rica em frutos do mar contém elementos básicos que não são encontrados nos produtos feitos a partir da carne.

A revolução no paladar japonês pode ter, além disso, grandes repercussões econômicas, já que o país conta com a maior frota pesqueira do mundo e mais de 231 mil pescadores em atividade.

Além disso, o Japão é o sexto maior exportador de frutos do mar do planeta, representando 1% das vendas mundiais em 2003 e o primeiro importador do mundo, com mais de 18% do total mundial.

As opções propostas pelo documento para enfrentar a nova tendência variam desde a necessidade de uma maior diversificação das redes de distribuição e comercialização até um aumento da carne para estabilizar os preços porque, segundo o relatório, continua havendo uma demanda em potencial de peixes e mariscos no país.

Assim, parece mesmo que as famílias japonesas estão cada vez mais inclinadas a jantar filé mignon do que sashimis de atum e salmão.