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Lula rejeita proposta de Bush de negociações paralelas sobre clima

04/06/2007 05h30

Londres, 4 jun (EFE).- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou as propostas de seu homólogo dos Estados Unidos, George W.

Bush, de iniciar negociações paralelas globais para combater a mudança climática, informa hoje o jornal "The Guardian".

Em entrevista ao jornal britânico durante sua visita de sexta-feira a Londres, Lula insistiu em que os países chegaram a um acordo sobre o clima nas Nações Unidas e não sob a liderança dos EUA.

O presidente disse que o Brasil nem sequer foi informado de que Bush contemplava um novo marco de negociação antes do anúncio da última quinta-feira.

O presidente dos Estados Unidos propôs que os países que mais poluem no mundo determinem antes de 2009 uma meta a longo prazo para as emissões de gases do efeito estufa.

"A posição do Brasil é clara (...) Não posso aceitar a idéia de que temos de criar outro grupo para discutir os mesmos assuntos que discutimos em Kyoto e não foram cumpridos", disse Lula.

"Se existe um fórum multilateral (pela ONU) que toma uma decisão democrática (...) então nós deveríamos trabalhar para cumprir essas regras (em vez de) simplesmente dizer que não está de acordo com Kyoto e que vai criar outra instituição", ressaltou.

O "Guardian" comenta que a Administração Bush quer Lula como aliado, já que o presidente brasileiro é visto como uma alternativa de centro-esquerda na América Latina contra o antiamericanismo dos presidentes de Cuba e Venezuela, Fidel Castro e Hugo Chávez, respectivamente.

Lula qualificou a posição de Bush de "voluntarismo", uma referência de que os EUA se inclinam pela vontade das nações em vez das instituições globais estabelecidas e dos compromissos vinculativos, assinala o jornal britânico.

"Não podemos permitir que o voluntarismo supere o multilateralismo", afirmou.

"Estou aberto para conversar com o presidente Bush (...) Nunca me negarei a discutir uma idéia, mas deveríamos respeitar as decisões que foram tomadas nos foros multilaterais", acrescentou.

"Se os EUA são o país que mais contribui para os gases do efeito estufa no mundo, deveriam assumir mais responsabilidades para reduzir as emissões", ressaltou.

O "Guardian" lembra que Lula será um dos presidentes dos países em vias de desenvolvimento que se unirá nesta semana à cúpula do G8, na Alemanha.

Em relação à rodada de Doha de comércio, Lula disse que o momento decisivo chegará nas próximas semanas.

"Acho que algo tem de acontecer este mês. Se nada acontecer, entraremos para a história como uma geração de políticos que falhou com a humanidade, especialmente com os pobres", disse.

"Se não houver um acordo na rodada de Doha, será inútil falar sobre luta contra o terrorismo, inútil combater o crime organizado, porque a pobreza é a principal semente para o crescimento do terrorismo", acrescentou.

O mais importante no mundo, além do comércio, é a mudança climática, afirmou.

"Na rodada de Doha, quero resolver os assuntos de hoje e de amanhã. Sobre os assuntos do clima, tenho que resolver o problema do planeta Terra, o único que conhecemos no qual podemos sobreviver...

Portanto, por Deus, cuidemos do planeta Terra", concluiu o presidente.