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Mosteiro budista de Bangcoc crema bebês que morrem durante o parto

Fernando Mullor Grifol<br>De Bangcoc

29/06/2007 10h15

A cada quatro meses, um mosteiro budista de Bangcoc é cenário de uma cerimônia insólita: a cremação de bebês que morrem durante o parto.

Esta semana a angústia e a dor tomaram conta dos tailandeses que assistiram à incineração no mosteiro de Apaitayaram, onde os monges se encarregaram de despedir 47 bebês que morreram no hospital Rajavithi.

O funeral durou três dias nos quais monges, familiares e funcionários do hospital entoaram cânticos religiosos e rezas para pedirem pela reencarnação das crianças.

"A maior parte são frutos de gravidezes indesejadas de adolescentes que chegaram aqui com criaturas doentes, e algumas mortas", declarou Prasopchai Panada, secretário-geral da Fundação para a Ajuda aos Doentes, vinculada ao departamento de serviços médicos.

Rajavithi se tornou em 1951 o primeiro hospital público da Tailândia com serviços de obstetrícia e pediatria, mas apesar de ser considerado um dos melhores nas duas especialidades, a cada ano vê o número de bebês mortos aumentar.

O hospital realiza estes funerais desde 1974 e em alguns anos coincidiu com as festividades do Songkran, Ano Novo tailandês, seguindo a tradição de fazer rituais em determinados dias e ocasiões.

Às vezes o funeral dura uma semana, durante a qual monges e familiares rezam em turnos até o fim da cremação. Logo depois as cinzas são depositadas em pequenas urnas metálicas que, em algumas ocasiões ficam sob custódia do templo, e em outras são retiradas pela família.

A Fundação de Ajuda aos Doentes, que organiza um funeral e uma cremação similar a cada quatro meses, arca com as despesas.

"É bom para as mães não terem que se preocupar em organizar o funeral de seus bebês, pois isto aumentaria a dor", declarou Prasopchai.

O mosteiro de Apaitayaram doa os modestos caixões de madeira nos quais os corpos são cremados, enquanto pessoas solidárias oferecem dinheiro às famílias, que geralmente são muito pobres.

"Tudo isto ajuda muito as pessoas pobres", afirmou Prapan Kantasima, pai de um bebê que dois dias após nascer acabou morrendo no hospital por causa de problemas respiratórios.

Apesar dos avanços registrados pela medicina na Tailândia - país em que o aborto é ilegal - a taxa de mortalidade infantil é cada vez maior. Cerca de 20 mil bebês morrem por causa de complicações no parto ou doenças graves, segundo informações do Ministério da Saúde.

O último relatório sobre a mortalidade infantil elaborado pelo Ministério e por entidades internacionais revela que 23 em cada mil bebês não chegam ao primeiro ano de vida, e que 21 crianças em cada mil não completam cinco anos.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maior parte das mortes acontece por causa das precárias condições físicas das mães. Muitas não têm informações sobre os cuidados de que precisam durante a gestação, nem recursos econômicos.

Em 2003, uma pesquisa organizada pelas autoridades tailandesas mostrou que cerca de 43% das meninas tailandesas que moram ou procedem das áreas rurais iniciam a vida sexual antes de completarem 17 anos e fazem isto sem nenhum tipo de proteção.