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Equipe detecta na Antártida compostos que afetam mudança do clima

Da Efe, em Madri

19/07/2007 23h26

Sobre o gelo da Antártida flutuam durante todo o ano dois compostos químicos que podem ser fundamentais na formação de nuvens e em outros processos ligados à mudança climática, segundo um estudo publicado no último número da revista "Science".

O espanhol Alfonso Saiz-López, membro do Jet Propulsion Laboratory, da Nasa, é o autor principal do trabalho. Ele explicou à Efe que os cientistas se "surpreenderam" ao detectar tão "altas concentrações" de óxido de bromo e de óxido de iodo em suspensão sobre o gelo da Antártida. Já no Ártico não se detectou iodo.

Outra surpresa foi comprovar que as altas concentrações persistem mesmo em períodos de luz solar, acrescentou.

O estudo demonstra, pela primeira vez, que o iodo aumenta "enormemente" os níveis de destruição da camada de ozônio da atmosfera. O desgaste chega a ser quatro vezes maior na camada mais baixa da atmosfera do Pólo Sul.

Segundo Saiz-López, as concentrações detectadas parecem ter "grandes conseqüências sobre a química atmosférica das camadas inferiores". Até agora, acreditava-se que os efeitos desses compostos estavam associados apenas a mudanças em latitudes altas.

O cientista explicou que, há 20 anos, achava-se que os elementos químicos conhecidos como halógenos (especialmente bromo, flúor, iodo e cloro) tinham grande impacto na redução de níveis de ozônio em latitudes médias e do norte da troposfera (zona inferior da atmosfera, até a altura de 12 quilômetros).

Até agora não existiam medições diretas dos halógenos ativos sobre o gelo antártico, devido especialmente a motivos logísticos.

As medições realizadas agora foram possíveis após longas observações realizadas na estação Halley sobre os compostos químicos que flutuam a poucos metros da superfície da Antártida.

Segundo o estudo, os níveis de óxido de iodo na primavera são os maiores detectados em qualquer parte da atmosfera. A aparente sinergia com o óxido de bromo faz pensar na existência de "um mecanismo emissor de iodo desconhecido até agora".

A presença de altas concentrações de óxido de iodo na atmosfera aponta para a possibilidade de formação de partículas que cresceriam até se transformar em núcleos de condensação de nuvens, com impacto sobre o clima.