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Baixa Califórnia se separa do México como se fosse uma bolacha

Miguel Cabanillas, de Londres

26/07/2007 01h10

Uma equipe de cientistas dos Estados Unidos e México descobriu que o processo geológico que separa a Península da Baixa Califórnia (México) do continente americano transforma a crosta terrestre da região numa espécie de "bolacha" que se racha de diversas formas.

"No Golfo da Califórnia encontramos que algumas partes da crosta terrestre se esticam muito antes de se romper. Outras simplesmente racham", explicou à Efe Daniel Lizarralde, líder da pesquisa publicada na última edição da revista científica britânica "Nature".

Lizarralde compara a situação no fundo do Golfo da Califórnia com o que acontece quenso se cozinha uma bolacha.

"As bolachas quentes esticam a sua massa antes de se romper. Mas, quando estão frias, simplesmente se racham sem necessidade de esticar", comenta o especialista, da Instituição Oceanográfica de Woods Hole (EUA), para explicar o processo ao público leigo.

A diferença é que, no caso da Península da Baixa Califórnia, todas as zonas da crosta estão atualmente na mesma temperatura. Isto parece não ter ocorrido há 15 milhões de anos, quando uma erupção de lava "assou" algumas partes da enorme "bolacha geológica".

Mantendo a comparação, Lizarralde comenta que "as bolachas que estão há mais tempo no forno ficam mais frágeis que as pouco cozidas, mesmo depois de as duas esfriarem".

Portanto, algumas partes do Golfo da Califórnia se fragmentaram há três milhões de anos, e outras muito mais tarde. A diferença criou o aspecto atual da Península, que se estende ao longo de 1.280 quilômetros no Oceano Pacífico.

Segundo o cientista, o processo de separação da Península está "quase completo". No futuro, dentro de cerca de 20 milhões de anos, ela terminará sendo uma ilha.

"Mais acima, no Estado da Califórnia (EUA), o processo continua nos vales Imperial, Morto e Owens. A maior parte do sul da Califórnia, inclusive as cidades de Los Angeles e San Diego, acabarão fazendo parte da Península", diz o especialista.

Lizarralde acredita que uma conseqüência da separação pode ser uma nova fonte de energia, graças ao magma que fica pouco abaixo da superfície da Terra. "Ele pode ser utilizado para produzir energia geotérmica, como já acontece perto de Mexicali", capital do Estado mexicano de Baja Califórnia, afirmou.