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Conferência pede que países se comprometam com combate à desertificação

Fernando Puchol<br>De Madri

03/09/2007 19h29

A desertificação que afeta quase 25% do planeta Terra poderia provocar, na próxima década, a migração de 50 milhões de pessoas, e só pode ser evitada por meio de uma eficaz atuação de Governos e da própria sociedade.

Com esta perspectiva, começou hoje, em Madri, a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (COP-8).

O encontro debaterá e promoverá a Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação (CNULD), com participação de especialistas e delegados governamentais de 191 países.

A conferência, que termina no dia 14, procura fórmulas para diminuir o impacto desse fenômeno, que atinge 1 bilhão de pessoas e que leva a crises de fome, pobreza, migrações forçadas, guerras, degradação agrícola e incêndios florestais.

O primeiro dia de debates serviu para que os participantes expressassem seus pontos de vista e assinassem a recente advertência da Universidade das Nações Unidas (UNU), afirmando que a desertificação é "o maior desafio ecológico de nosso tempo".

Os especialistas também concordaram que a desertificação é um problema global, que vai além das considerações técnicas e ambientais, e que se transformou em um "desafio ético", pois afeta os direitos fundamentais de milhões de pessoas.

A África é o continente mais afetado pelos problemas decorrentes da desertificação. No entanto, as secas e os incêndios florestais que fizeram estragos no norte da costa do Mediterrâneo nos últimos anos provaram que os países industrializados também podem ser prejudicados.

A ministra do Meio Ambiente da Espanha, Cristina Narbona, eleita presidente da COP-8, disse que a crescente pobreza dos solos e a seca "afetam a todos". Por isso, segundo ela, as nações ricas devem assumir que têm "uma responsabilidade maior que a dos demais países".

"São os Estados com autêntica capacidade executiva e financeira os que devem tomar a iniciativa para atenuar o drama humano que a desertificação acarreta", acrescentou a ministra.

Ela pediu aos participantes da conferência que "acelerem seus esforços" e propiciem "uma maior sinergia e cooperação com outras iniciativas da ONU, como a Convenção sobre a Mudança Climática".

A ministra afirmou que as causas do fenômeno da desertificação "são bem conhecidas".

"Chegou a hora de pensar que todos nos encontramos diante de um extraordinário desafio quanto aos direitos humanos de centenas de milhões de pessoas", disse.

O secretário-executivo interino da CNULD, Grégoire de Kalbermatten, afirmou que houve "grandes progressos" na luta contra a desertificação. Ele criticou, porém, os países que alegam "limitações econômicas" para fazer frente a este problema ambiental.

David Mwiraria, ministro do Meio Ambiente do Quênia e presidente da 7ª Conferência das Partes (COP-7), disse que os países "não estão concedendo os recursos" para a Convenção de Luta contra a Desertificação.

O paraguaio Luis Molinas Belém - coordenador do Convênio de Luta contra a Desertificação e a Seca da Secretaria de Meio Ambiente de seu país - foi um dos representantes que pediram mais dinheiro para aplicar as soluções.

"A Secretaria da CNULD necessita de um orçamento adequado para organizar e implementar ações que ajudem a frear a desertificação e reduzir seu impacto", disse Molinas Belém.

Ele também pediu a coordenação dos trabalhos da COP-8 com os que são realizados, em paralelo, pela Conferência da ONU sobre a Mudança Climática.

A única voz destoante quanto à concessão de mais recursos como solução para a falta de resultados tangíveis foi o representante do Canadá, Christopher Braeuel, que defendeu que todos "olhem para frente e esqueçam o passado".

O delegado canadense afirmou que a reunião de Madri testará o compromisso real dos Governos com o problema da desertificação, e pediu que os países se preocupem mais com a conquista de resultados do que com orçamentos.