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Milhões de pessoas podem morrer de doenças não infecciosas em dez anos

Julio César Rivas<br>Em Toronto (Canadá)

22/11/2007 11h06

Aproximadamente 390 milhões de pessoas morrerão na próxima década em todo o mundo de doenças não infecciosas e evitáveis, como diabetes, embora este número possa ser reduzido consideravelmente com uma série de medidas.

Um grupo de 19 especialistas de todo o mundo publicou na quinta-feira, dia 22, na revista "Nature", uma lista de 20 medidas necessárias para reduzir as doenças não infecciosas mais graves da humanidade e que deixam perdas anuais de bilhões de dólares, especialmente em países em desenvolvimento.

"Estas doenças crônicas e não infecciosas estão alcançando proporções de epidemia mundial" afirmou à Agência Efe Abdallah Daar, professor do Centro de Saúde Global McLaughlin-Rotman da Universidade de Toronto, e um dos autores do relatório.

Alguns exemplos destas enfermidades - que causam mais mortes anualmente que malária, aids ou tuberculose - são diabetes, doenças coronárias e câncer de pulmão, que poderiam ser evitadas com práticas como a redução do tabagismo, o aumento das atividades físicas e a melhora na nutrição.

Os autores do relatório afirmaram que estas doenças são responsáveis por 60% das mortes mundiais a cada ano.

Além disso, oito em cada dez mortes provocadas por estas doenças afetam cidadãos de países com renda baixas e médias.

O ex-diretor de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) Robert Beaglehole deu destaque ao enorme custo social que essas mortes têm em países em desenvolvimento.

Segundo Beaglehole, se não forem tomadas medidas urgentes, na próxima década estas doenças custarão US$ 558 bilhões à China e US$ 237 bilhões à Índia.

A lista de 20 propostas se reúne em seis grandes objetivos: reorientar os sistemas de saúde; suavizar os impactos sanitários de pobreza e urbanização; envolver empresas e comunidades; modificar fatores de risco; melhorar as políticas econômicas, legais e ambientais e aumentar a conscientização pública e política.

"Pela primeira vez temos uma lista de prioridades e os países podem segui-la e comparar o que estão fazendo para estabelecer prioridades. Mas é preciso fazer quase tudo o que está na lista para ocorrer um impacto", afirmou Daar.

O professor criticou o fato de que, em muitas ocasiões, "as autoridades pensam que investir dinheiro em saúde é um esbanjamento de recursos".

"Estas doenças custam enormes quantidades de dinheiro aos países.

As conseqüências de não fazer nada são tão grandes que mais cedo ou mais tarde teremos que fazer algo", acrescentou Daar, para quem a redução no número de mortes não é tão difícil.

"Com simples mudanças de estilo de vida é possível prevenir muito. As maiores mudanças são as que os indivíduos e sociedades têm que fazer em coisas tão simples como tabagismo, exercício e melhor nutrição", afirmou.

Daar também reconheceu que os países em desenvolvimento são os que têm o trabalho mais difícil.

"Os países em desenvolvimento sofrem uma dupla carga. Todos se concentraram nas doenças infecciosas, mas é como se tivessem dois incêndios em sua casa. Se deseja apenas apagar o incêndio em um extremo da casa e não no outro, no final o fogo o consumirá", afirmou.