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Tuberculose multirresistente a medicamentos aumenta no mundo, diz OMS

Isabel Saco<br>De Genebra

26/02/2008 16h02

A tuberculose multirresistente a medicamentos (MRD-TB) aumentou no mundo até níveis nunca registrados, segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que adverte que em 45 países foi detectada, inclusive, uma forma totalmente impossível de ser tratada.

O maior estudo realizado até hoje sobre a evolução da tuberculose - que mata 1,7 milhão de pessoas anualmente - se baseia em dados coletados em 81 países entre 2002 e 2006 e revela que 9 milhões de novos casos e 1 milhão de reincidências são registradas todos os anos.

Desses 10 milhões de doentes, 500 mil contraem a tuberculose resistente a remédios, disse o coordenador do departamento "Detenhamos a tuberculose" da OMS, Paul Nunn.

"Estamos diante de uma epidemia global, e os casos de resistência aos remédios fazem com que as possibilidades de cura sejam reduzidas drasticamente porque o tratamento padrão não funciona", deixou claro o especialista.

Em "boas condições" - isto é, quando se dá um tratamento de dois anos ao invés de seis meses, cem vezes mais raro, com remédios mais eficazes, mas também mais tóxicos -, "65% de casos de MRD-TB podem ser curados e a metade dos outros 35% morre", explicou.

O relatório também menciona um tipo de tuberculose resistente a todos os remédios considerados eficazes (XDR-TB), sobre o qual não há apenas dados, mas destaca que há 45 países nos quais foram detectados pelo menos um caso dessa variante da doença.

Segundo essas informações incompletas da OMS, todos os anos surgem 40 mil casos de XDR-TB.

Em alguns países da antiga União Soviética, a proporção de XDR-TB entre os casos de tuberculose resistente oscila entre 4% na Armênia até 24% na Estônia.

O analista citou, em entrevista coletiva, o aumento de MRD-TB entre os novos casos de tuberculose no Peru e na Coréia do Sul, apesar do número de registros da doença ter diminuído nesses dois países.

Sobre isso, Nunn destacou que o Peru "é um exemplo no controle da tuberculose em termos de diagnóstico e tratamento, mas não é tão boa em sua capacidade de diagnosticar casos de MRD-TB", o que explica essa tendência.

Em nível mundial, a maior incidência de casos de tuberculose resistente foi registrada em Baku (capital do Azerbaijão), que representa quase 25% do total de tuberculosos.

Outros lugares com taxas muito elevadas foram Moldávia (19,4%); Donetsk Oblast, na Ucrânia (16%); Tomsk Oblasts, na Rússia (15%); e Tashkent, no Uzbequistão (14,8%).

O maior número de casos de tuberculose resistente aos medicamentos em nível mundial está na China, com uma estimativa de 130 mil casos em 2006.

Além disso, o estudo da OMS confirmou a relação entre a MRD-TB e o vírus HIV.

A esse respeito, os analistas descobriram que na Lituânia e em Donetsk Oblast há o dobro de casos de tuberculose resistente a remédios entre pacientes com o HIV, em comparação com o resto de doentes.

Por outro lado, o relatório admite que "ainda se desconhece" a amplitude do problema na África, já que só seis países desse continente forneceram dados, e "é provável que haja focos de tuberculose resistente que não estão sendo detectados".

Segundo os especialistas, os programas nacionais contra a tuberculose devem - além de salvar vidas e enfrentar o problema da resistência - melhorar a capacidade de diagnóstico para tratar rapidamente os pacientes.

Uma vez iniciado o tratamento, a melhor maneira de prevenir o desenvolvimento da doença de resistência aos remédios é cumpri-lo até o final.

Nunn também destacou a estreita relação entre pobreza e tuberculose, "que aparece em situações de aglomeração, pouca ventilação, má nutrição e serviços públicos inadequados".