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Escolha de parceiro pode ser influenciada pela genética

Marcelo Nagy<br>De Budapeste

15/09/2008 13h17

A semelhança física e a personalidade dos pais influi na escolha do parceiro a longo prazo, conforme afirmou Sigmund Freud com sua teoria sobre o complexo de Édipo e como confirma agora um grupo de pesquisadores da Universidade de Pécs, no sul da Hungria.

A explicação foi dada à Agência Efe por Tamás Bereczkei, diretor do Departamento de Psicologia Geral e Evolucionista da universidade, que comandou a pesquisa.

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O grupo de cientistas começou a estudar o conteúdo dos ditados populares que afirmam que "semelhante atrai semelhante" e "os opostos se atraem".

Aparentemente, nos últimos 20 anos, o primeiro destes provérbios parece ter se imposto, segundo o psicólogo, que acrescentou que há "muitos dados que comprovam que os casais são formados por pessoas que se parecem em vários aspectos".

Posteriormente, os pesquisadores começaram a questionar "por que isso ocorre", o que motiva as pessoas na hora de escolher seu parceiro.

Bereczkei explicou que o complexo de Édipo é um grande paradigma para a Psicologia: Trata-se de uma criança que estabelece uma relação quase sexual com a mãe e rivaliza com o pai pelo amor materno.

Freud propôs, sem elaborar uma teoria, que isso faz com que o homem escolha suas parceiras, acrescentou o acadêmico.

"Desta forma, nos propusemos a comprovar esta teoria com métodos científicos. Após coletar fotografias, fizemos teste nos quais era preciso escolher rostos semelhantes", explicou o pesquisador.

Os participantes do estudo, que ignoravam que as fotos eram de parentes e casais, foram, em grande medida, capazes de ver através das imagens e vincular os casais com os respectivos sogros.

A novidade está em que os pesquisadores utilizaram as técnicas mais modernas e, com a ajuda de um software especial e fotografias profissionais, com parâmetros bem definidos, puderam ter "resultados muito exatos".

"Nestas fotos, medimos todos os parâmetros, ou seja o comprimento do nariz, a largura da boca, entre muitos outros, e definimos desta maneira 14 'proporções faciais' diferentes como, por exemplo, as que existem entre a largura do rosto e o nariz", afirmou Bereczkei.

Tudo isto parece ressaltar a validade do fenômeno conhecido como "marca sexual", ou seja, que na infância os indivíduos "gravam" os traços dos pais e, posteriormente, durante a busca, projetam este modelo sobre o parceiro potencial.

"Ou seja, que escolhemos também influenciados pelas analogias", disse o cientista.

Outro resultado destas experiências é que todo este processo depende também da educação: quanto mais profunda era a relação entre filhos e pais, mais se manifestava esta influência da semelhança com os progenitores na escolha do companheiro.

"O interessante é que, independentemente da genética, o experimento deu os mesmos resultados com os padrastos", acrescentou o psicólogo.

Isto não significa que, por exemplo, um homem influenciado pela imagem da mãe considere mais bonitas as mulheres que se assemelham a ela.

"A semelhança é só um fator, trata-se de um processo complexo, no qual, segundo outra pesquisa que estamos realizando, a beleza é mais forte que a semelhança. Também temos que considerar a inteligência, o aspecto físico, a personalidade...", disse.

É importante que os experimentos tenham sido realizados sob condições controladas, mas a escolha de um parceiro é um processo muito mais complexo, ressaltou Bereczkei.

Por outro lado, o investigador antecipou que, embora ainda não tenha os resultados exatos, "já podemos afirmar que este modelo não só funciona com as semelhanças no aspecto, mas também no que se refere às características da personalidade".