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Estudo da AIE diz que crise econômica beneficiou a questão climática

Da AFP<br>Em Bangcoc

06/10/2009 13h41

A crise econômica, que provocou uma queda das emissões mundiais de CO2 sem precedentes em 40 anos, constitui uma oportunidade para o clima, desde que seja aproveitada rapidamente e que um acordo ambicioso seja concluído em dezembro, na cúpula de Copenhague.

De acordo com um estudo da Agência Internacional da Energia (AIE) publicado nesta terça-feira em Bangcoc, as emissões mundiais de CO2 ligadas às energias fósseis - uma das principais causas do aquecimento global - pode registrar uma queda de 3% em 2009.

Esta baixa, que se deve essencialmente à queda da produção industrial, vai na contramão da evolução média das emissões, que era até agora de +3% por ano.

Este número representa uma oportunidade única de colocar o mundo num caminho que permitiria limitar em dois graus os efeitos do aquecimento global, explicou o chefe do departamento de economia da AIE, Fatih Birol.

Contudo, será preciso atuar rapidamente para reorientar os investimentos na direção certa, avisou, durante uma coletiva organizada à margem das negociações sobre o clima conduzidas pela ONU em Bangcoc.

"É uma chance única para a transição do sistema energético mundial. Mas é preciso agir agora", insistiu Yvo de Boer, principal encarregado das questões sobre o clima na ONU, no prefácio do relatório da AIE.

Delegações de mais de 180 países estão reunidas há dez dias na capital da Tailândia para preparar a conclusão de um acordo mundial em dezembro em Copenhague, e dar prosseguimento ao protocolo de Kyoto.

A AIE apresentou um cenário segundo o qual a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera não ultrapassaria 450 ppm (partes por milhão), o que permitiria, segundo os cientistas, limitar em +2ºC a elevação da temperatura mundial.

A energia, que representa dois terços das emissões mundiais de gases de efeito estufa ,"está no centro do problema e deve, portanto, estar no centro da solução", destacou a AIE, ressaltando o papel central da China, que se tornou em 2007 o maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, superando os Estados Unidos.

"A China é hoje o maior emissor, mas também é um dos países que faz os maiores esforços para se orientar na direção do desenvolvimento sustentável", afirmou Birol, em entrevista à AFP.

De acordo com o economista da AIE, se a China atingir as metas que ela mesma definiu, suas reduções relativas de emissões em 2020 (em relação ao que teriam sido sem ação específica) representarão um quarto do esforço necessário em nível mundial para ficar abaixo da marca de +2ºC.

"É um número gigantesco, que colocaria a China na liderança do combate ao aquecimento global", frisou.

A AIE ainda avisou que qualquer atraso na conclusão de um acordo internacional custará muito caro ao planeta.

A partir de 2010, cada ano de atraso agregará "500 bilhões de dólares ao investimento total necessário no setor energético" para chegar a esta meta, explicou Nobuo Tanaka, diretor executivo da AIE.

Para a organização ambiental WWF, o relatório da AIE mostra claramente que seria "completamente estúpido" deixar de investir desde já numa economia menos poluente em CO2.