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Políticos europeus questionam gestão da gripe suína por laboratórios e OMS

09/04/2010 09h05

Estrasburgo (França), 9 abr (EFE).- Os laboratórios farmacêuticos e a Organização Mundial da Saúde (OMS) foram questionados pelo Conselho da Europa como impulsores de um alerta desmedido em relação aos riscos da gripe A.

As reprovações à atuação dos laboratórios e da OMS ficaram explícitos em diversas audiências públicas organizadas pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE), o primeiro organismo que analisou a gestão da pandemia.

Na segunda destas audiências, também houve críticas à postura dos especialistas que assessoram a OMS, a muitos Governos e aos veículos de comunicação.

"Houve uma manipulação" por parte da OMS, afirma a eurodeputada francesa Michèle Rivasi, convidada a esta segunda audiência, na qual disse que a gripe A foi "a crônica de uma pandemia anunciada" que escondia os interesses econômicos da indústria farmacêutica.

Rivasi lembrou que os laboratórios impuseram aos Governos um preço até dez vezes maior pelas doses da vacina contra a gripe A em relação ao valor das da gripe comum.

Segundo a eurodeputada, caso a proposta da OMS de se financiar a partir da venda de vacinas siga adiante, "não vai haver uma pandemia anual, mas 20".

Na mesma sessão, a ministra da Saúde polonesa, Ewa Kopacz, ressaltou que os Governos "não devem ser reféns dos laboratórios" após explicar a decisão de seu país de não encomendar vacinas contra a pandemia porque as condições impostas pela indústria lhe pareceram "no mínimo duvidosas".

Marc Gentilini, especialista em doenças infecciosas e membro da Academia Francesa de Medicina, disse que a OMS "se equivocou" ao comparar esta epidemia com a da gripe espanhola de 1918.

"Toda a organização esteve mobilizada por este problema" em detrimento de outros aos quais se dedica muito menos dinheiro e que deixam muitos mais mortos, segundo o especialista, citando como exemplo a malária, que mata um milhão de pessoas por ano.

Gentilini destacou o que chamou de "má fé" dos argumentos utilizados para declarar a pandemia, levando em conta que desde a detecção dos primeiros casos no México havia provas da baixa virulência da doença, e não hesitou em falar de "fraude sanitária".

A primeira voz do Conselho da Europa a se erguer contra a OMS e os laboratórios foi o deputado social-democrata alemão Wolfgang Wodarg.

Wodarg explicou à Efe que reuniu informações já transmitidas à Comissão de Saúde da APCE e ao legislador trabalhista britânico Paul Flynn, que prepara um relatório sobre o assunto.

Está previsto que a Comissão de Saúde da Assembleia vote o relatório de Flynn antes do debate em plenário, previsivelmente em junho.

As origens do alarme em torno da gestão da pandemia remontam a dezembro de 2009, quando Wodarg - então presidente da Comissão de Saúde da Assembleia - preparou uma proposta de recomendação muito crítica à OMS.

Quatorze membros da Comissão assinaram em 18 de dezembro o texto "Falsas pandemias: uma ameaça para a saúde".

O relatório denunciava a atuação dos grandes laboratórios farmacêuticos e sua influência nas decisões de Governos para a compra de milhões de vacinas para combater o vírus da gripe A.

Segundo o texto, "milhões de pessoas saudáveis foram expostas aos riscos dos efeitos secundários não conhecidos das vacinas que não foram suficientemente estudadas" e "recursos foram esbanjados" para "estratégias de vacinação ineficazes".

A Mesa da Assembleia mostrou sua inconformidade com o título do texto e os parlamentares decidiram adiar seu debate, já que os 96 legisladores que votaram a favor da discussão não alcançaram os dois terços da Câmara necessários para tanto.

Wodarg não conseguiu fazer com que a Assembleia debatesse sua recomendação, mas já houve duas audiências públicas sobre a gestão da pandemia da gripe A, a primeira em 26 de janeiro e a segunda, em 29 de março.