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Os malefícios da radiação de Fukushima

Isabel Martínez Pita

02/04/2011 07h00


O acidente na usina de Fukushima, no Japão, reavivou a polêmica sobre o uso da energia nuclear e, enquanto se mantêm o debate sobre o assunto, os japoneses tentam fugir das radiações, cujos prejuízos para a saúde são bem conhecidos.

Especialistas mantêm divergentes posturas sobre os benefícios e perigos da energia nuclear, mas ainda há muitas dúvidas sobre esse tema que envolve muitos interesses. Apesar dos discursos que garantem que a tecnologia é segura, continuamos assistindo ao drama das pessoas que vivem a ameaça de um acidente em uma usina nuclear.

Em 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou um estudo sobre os acidentes nucleares, quase 20 anos depois do mais grave registrado em uma usina desse tipo, a de Chernobyl, que afetou Ucrânia, Belarus e Rússia, e no qual se incluíam também os efeitos das explosões atômicas de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

Para o grupo de cientistas que trabalhou no relatório, os únicos tumores que realmente podiam ser associados com a exposição a uma alta radiação eram o de tireóide e a leucemia.

Segundo a OMS, o câncer de tireóide aumentou de forma significativa após o acidente da usina nuclear, principalmente entre crianças e adolescentes, pois nessas idades a glândula é mais sensível à acumulação de iodo. Além disso, as quantidades desse elemento liberadas à atmosfera acabaram contaminando também os gramados que alimentavam as vacas, cujo leite era fornecido a essas pessoas.

No entanto, Castejón, porta-voz de campanhas antinucleares da Ecologistas em Ação, assegura que "no acidente de Chernobyl os casos de câncer de tireóide apareceram quase imediatamente”.

“Se o acidente das usinas nucleares japonesas evoluísse de forma negativa, poderia ter consequências similares", destaca.

Por que as radiações nucleares matam?

As radiações são um tipo de energia que faz parte da natureza, como o urânio, material de que é composto grande parte do solo. Além disso, esse tipo de energia tem algumas aplicações médicas, como os raios-X e a radioterapia.

Entre os numerosos elementos radioativos que podem ser encontrados em um reator nuclear, o iodo e o plutônio são dois dos mais perigosos para a saúde humana.

Castejón ressalta que "as substâncias com as quais se trabalham nas usinas nucleares emitem radiações ionizantes que produzem diferentes tipos de câncer nos seres humanos”.

"A radiação também pode ser inalada, e um agravante é que o elemento químico que entra no corpo pode metabolizar-se e permanecer durante muito tempo descarregando radiações", alerta o especialista. Segundo ele, é isso o que ocorre com o plutônio que emite a energia nuclear, que pode se fixar nos ossos e nos pulmões até originar diferentes tumores.

"O plutônio é um elemento artificial que não existia na natureza até os seres humanos o terem criado. Sua expansão se produz tanto pelas centrais quanto pelos testes nucleares, por isso que já há fábricas de plutônio por todo o planeta. É difícil saber que efeitos tem sobre as pessoas. O que se sabe é que teve efeitos cancerígenos após o acidente de Chernobyl", explica Castejón.

Para Eduardo Rodríguez-Farré, especialista em energia nuclear do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), "o importante é saber se há uma radiação de partículas do tipo beta, gama ou alfa, e como atua sobre as moléculas, porque podem alterar processos celulares e provocar uma série de doenças".

O processo mais conhecido é o provocado pelas radiações gama sobre o DNA ou os genes, o que pode gerar distintas mutações celulares e gerar diferentes tipos de câncer. É o caso típico das partículas de iodo.

"O iodo é um elemento radioativo que se incorpora ao organismo, entra em uma célula e interage com uma molécula, a destrói ou altera, sobretudo no caso do DNA. Dependendo de onde atue, a radiação terá um efeito ou outro", explica o especialista.

Tóxicos que se expandem na natureza

Para Castejón, "a energia nuclear é uma contínua fonte tóxica formada por elementos estranhos, os radionuclídeos, que se filtram e expandem na natureza, cadeia trófica na qual o ser humano é o último elo".

"Os radionuclídeos são elementos artificiais que não existem na natureza. Estes são os que estão sendo liberados em forma radioativa após o acidente de Fukushima, no Japão. Nele reside a gravidade do problema nuclear".

O especialista também afirma que "os reatores nucleares têm uma série de produtos artificiais que são radioativos durante muitos anos e, em pequenas doses, são incorporados ao organismo através dos alimentos, do ar, etc”. Segundo ele, isso aumenta aumente o risco de alguns tipos de câncer, imunodeficiências, alterações hormonais, entre outros problemas.

Por sua vez, Castejón revela que "a partir de uma quantidade muito pequena de urânio radioativo já se está gerando uma enorme quantidade de elementos radioativos excedentes que não existiam no planeta” e pequenos escapamentos “os vão disseminando por todos os lugares".

"Não existe solução para a gestão dos resíduos. Enquanto isso, estes vão se acumulando nas piscinas das centrais e, ao faltar refrigeração, pode haver explosões como a de Fukushima, disseminando produtos altamente radioativos", destaca Castejón.

Ainda não se sabe a extensão das consequências provocadas pelo tsunami que arrasou parte do nordeste do Japão, mas a situação na usina nuclear de Fukushima virou um verdadeiro pesadelo para os japoneses e para os países próximos.