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Indígenas de três continentes iluminam Rio+20 com "fogo sagrado"

Manuel Pérez Bella

No Rio de Janeiro

14/06/2012 11h06

Centenas de indígenas procedentes de três continentes se reuniram na última quarta-feira (13) no Rio de Janeiro para acender um "fogo sagrado" e dar início aos dez dias de atividades paralelas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

A cerimônia foi celebrada em uma aldeia chamada Kari Oca, instalada pelos próprios indígenas em uma área florestal no bairro de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, a cerca de cinco quilômetros do centro de convenções que organiza a Rio+20, o RioCentro.

Quatro índios acenderam o fogo ao entardecer, em um clarão da floresta, diante dezenas de presentes que tocavam música com flautas e maracás.

O líder maia Tata Pedro Cruz, procedente da Guatemala, afirmou que o fogo sagrado significa "o espírito de Jau (Deus) que está em cada pessoa" e representa uma "mensagem de amor, de unidade e de irmandade".

O chefe sioux Phil Jane, natural do Canadá, afirmou que "hoje é o dia do cumprimento das profecias" no qual os povos que acreditam na proteção da natureza "vão se levantar com um só coração".

Os participantes fumaram um cachimbo da paz, cantaram vários hinos dedicados à terra-mãe e à união dos povos, e um dos participantes chorou junto ao fogo sagrado para homenagear os indígenas que morreram vítimas do homem branco.

Até esta quarta-feira, 350 índios haviam chegado ao Rio, em sua maioria brasileiros, ainda à espera da chegada da maior parte da delegação de 1,2 mil aborígenes procedentes de outros países da América, África e Ásia.

O líder nativo brasileiro Marcos Terena explicou à imprensa que o objetivo do encontro é apresentar aos governantes que vão participar da Rio+20 sua visão para a erradicação da pobreza no mundo e para proteger o meio ambiente.

Terena afirmou que os indígenas reivindicarão que o desenvolvimento sustentável inclua também "o pilar cultural" e o respeito aos povos originais.

Ele destacou que as reivindicações dos índios terão uma "visão global". Por isso, não pretendem levar à ONU nenhum problema específico, como a construção da hidrelétrica de Belo Monte, que ameaça vários povos brasileiros.

Até o próximo dia 22, os índios vão organizar uma série de debates, assembleias e oficinas para abordar seus principais problemas.

As reivindicações serão entregues aos representantes da ONU em jornadas de diálogos que serão celebradas entre sábado e terça-feira.

Os indígenas também planejam realizar cerimônias espirituais e jornadas de esportes tradicionais, que incluem arco e flecha, lançamento de lança e futebol.

Entre as tendas da aldeia Kari-oca, está a cabana da sabedoria, onde serão realizadas assembleias e debates, e a "cabana eletrônica", onde haverá oficinas de internet e de programas de edição fotográfica e de vídeo para os diferentes povos, explicou Terena.