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Último voo do Endeavour põe fim a uma era de exploração espacial

21/09/2012 19h52

Fernando Mexía.

Los Angeles (EUA), 21 set (EFE).- O ônibus espacial Endeavour realizou nesta sexta-feira seu último voo e aterrissou em Los Angeles para se transformar em uma peça de museu após quase 20 anos de viagens que marcaram uma era na exploração espacial.

A nave chegou no aeroporto internacional de Los Angeles acoplada a um Boeing 747 pouco antes das 17h (de Brasília) após fazer um tour de exibição de mais de cinco horas por lugares icônicos da Califórnia, como a ponte Golden Gate de San Francisco, Malibu, Santa Mónica e as colinas de Hollywood.

Autoridades da Nasa, políticos locais e diretores do museu de ciências da cidade, destino final da aeronave mais jovem da frota de cinco ônibus espaciais americanos, a receberam em frente a um hangar da United Airlines com uma banda, tapete vermelho e bandeiras.

A recepção foi digna de uma celebridade, e teve a participação da atriz da série de televisão "Jornada nas Estrelas" Nichelle Nichols, que colabora com a Nasa em programas de recrutamento.

"É triste saber que já não voará mais", disse à Agência Efe Michael J. Curie, relações públicas da Nasa, que disse esperar que o veículo espacial sirva agora de "inspiração" para uma "nova geração de exploradores".

O Endeavour se tornará, a partir de 30 de outubro, a joia da coroa do Centro Espacial da Califórnia, onde segundo William T. Harris, responsável de Desenvolvimento e Marketing da instituição, está sendo construído um centro próprio para receber a nave.

O ônibus espacial de 88 toneladas decolou pela primeira vez em 1992 e, até encerrar suas operações em 2011, realizou em 25 missões, 4.671 órbitas ao redor do planeta em 299 dias, no total de 197.761.261 quilômetros, uma distância superior à que separa a Terra do Sol.

"Foram as primeiras naves espaciais reutilizáveis. Eram lançadas como um foguete e aterrissavam como um planador, depois as limpávamos e as recolovávamos no ar. Nada como isso tinha sido feito antes, e levará tempo até que volte a se repetir", disse Curie, que qualificou o Endeavour como uma "máquina milagrosa".

O astronauta Garret Reisman, que durante 13 anos na Nasa fez parte de missões nos ônibus Atlantis, Discovery e Endeavour, afirmou à Efe que esses veículos são "os aparelhos voadores mais incríveis jamais criados pelo ser humano", uma tecnologia que, no entanto, era demais cara de manter.

Os ônibus americanos - entre os quais dois explodiram em acidentes que custaram a vida de 14 astronautas, o Challenger (1986) e o Columbia (2003) - foram veículos essenciais para a construção da Estação Espacial Internacional (ISS), um projeto de mais de US$ 100 bilhões do qual participam 16 países, entre eles o Brasil.

O Endeavour atracou uma vez em uma estação espacial russa Mir e 12 vezes na ISS.

Atualmente, a Nasa retornou a um sistema de viagens similar ao do programa Apollo, cujos módulos tripulados são usados no máximo duas vezes e contam com uma manutenção mais econômica, embora os objetivos continuem ambiciosos.

"A meta é levar o homem a Marte. Vai levar um tempo chegar lá, mas com a nova cápsula Orion vamos voltar a explorar, primeiro talvez um asteroide, visitaremos a Lua talvez, mas a ideia é ir a Marte", afirmou Curie.

O futuro substituto das naves será definido em colaboração da Nasa com a indústria privada, como disse Reisman, que após abandonar a organização espacial foi contratado como diretor de projeto na SpaceX, empresa que está construindo um veículo espacial chamado Dragon para viagens orbitais.

"Acredito que vamos entrar na idade dourada dos voos espaciais. A empresa está desenvolvendo soluções inovadoras mais seguras e eficientes do que os ônibus. Em alguns anos, ao olharmos para trás, entenderemos este momento como o princípio da presença do ser humano no espaço", declarou o astronauta.

O Endeavour não é o único de sua classe a se aposentar em um museu.

Em abril, o Discovery passou a fazer parte da coleção do Museu Nacional do Ar e do Espaço de Washington, e o Atlantis será exibido no Centro Espacial Kennedy de Cabo Canaveral, na Flórida.