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"Bóson de Higgs não explica tudo, mas mudou minha vida", diz Peter Higgs

Peter disse que o achado da "Partícula de Deus", não explica tudo na física, mas foi o suficiente para mudar sua vida - Toni Albir/Efe
Peter disse que o achado da "Partícula de Deus", não explica tudo na física, mas foi o suficiente para mudar sua vida Imagem: Toni Albir/Efe

Em Barcelona

06/11/2012 18h20

O físico britânico Peter Higgs disse nesta terça-feira (6) que o bóson que leva o seu nome, formulado em 1964 e encontrado em 4 de julho deste ano pelo Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), "não explica tudo", embora abra caminho para novas pesquisas sobre o cosmos.

Além disso, Higgs reconheceu que o bóson mudou sua vida e falou sobre a "higgsteria" em entrevista coletiva que o cientista concedeu em Barcelona, onde viajou pela primeira vez para explicar a denominada "partícula de Deus", em uma conferência organizada pela Obra Social La Caixa e pelo Instituto de Física de Altas Energias.

O cientista, nascido em Newcastle em 1929, confessou que é impossível explicar a uma menina de seis anos o que é o bóson de Higgs, a partícula subatômica que dá massa a outras partículas, mas propôs como analogia "uma refração de luz em um meio transparente".

Higgs reconheceu que receber o Nobel de Física é "uma possibilidade concreta", mas ele disse que o comitê ainda tem alguns "físicos conservadores" que não são partidários de dar o prêmio a ele ainda.

Com humildade, o físico lembrou que formulou a teoria da existência desta partícula em 1964 com um breve relato que não ocupava mais de uma folha, que foi rejeitado por seu editor científico - apenas a segunda versão, que estava mais ampla, foi recolhida, aceita e publicada. Ele disse ainda que só formulou a teoria porque ela era "incoerente" até então.

Físico humilde

Higgs negou que o achado do bóson seja comparável ao descobrimento do DNA para a biologia e também não descartou que possa haver mais partículas com massa e que possam ser descobertas em novas pesquisas no LHC (Grande Colisor de Hádrons, na sigla em inglês) do Cern, situado em Genebra. "O bóson é certamente importante para a compreensão da estrutura da matéria, mas existe muita física que não depende disto."

Mesmo tendo dito que não pode dar uma aplicação prática para seu descobrimento, ele - assim como seu colega da Universidade de Edimburgo, Alan Walker, e o diretor do IFAE (Instituto de Física de Altas Energias), Matteo Cavalli - assinalou que muitos descobrimentos, como a eletricidade e o eletromagnetismo, não tiveram aplicações sociais práticas por muitos anos.

Segundo Higgs, o achado do bóson é "o final de um caminho na verificação do modelo padrão, mas é o começo de um novo caminho que vai além deste modelo físico, que não explica tudo". "É necessário fazer uma análise mais profunda do bóson de Higgs e provavelmente serão reveladas estruturas mais amplas que se conectam com a cosmologia e a energia obscura do universo, que são fundamentais para a astrofísica e a cosmologia."

Walker afirmou que propuseram de tudo a Higgs, "exceto inaugurar um supermercado", e ressaltou que o físico "nunca usou um e-mail", apesar de a comunidade científica falar de "higgsteria, pela loucura que gerou no mundo da física".

"O achado mudou minha vida porque há um ano não era chamado para dar nenhuma entrevista coletiva. A publicidade deste fato foi incrível, por isso me vejo incapaz de satisfazer todos os pedidos que me fazem", assegurou.