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Descobridor da estrutura do DNA, Watson combina fama com polêmica

Em Washington

25/04/2013 09h58

O biólogo molecular norte-americano James Watson é o único sobrevivente do quarteto de cientistas que descobriu a estrutura do DNA (ácido desoxirribonucleico) e é uma personalidade que combinou a fama científica com declarações polêmicas.

Watson, que acaba de completar 85 anos, participará nesta quinta-feira (25) na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, da inauguração de um monumento em memória do biólogo molecular britânico Francis Crick, com quem, em 1953, compartilhou a descoberta do modelo de dupla hélice do ácido que contém a informação genética de todos os organismos vivos e é responsável de sua transmissão hereditária.

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A descoberta, que inicialmente passou despercebida até nos círculos científicos, e que completa hoje sessenta anos, foi a culminação de uma pesquisa de anos que começou na década de 1860, quando o químico suíço Friedrich Miescher identificou o DNA.

Além de Crick e Watson, a equipe que identificou a estrutura tridimensional do DNA incluiu o físico Maurice Wilkins, nascido na Nova Zelândia, e a biofísica britânica Rosalind Franklin.

Lawrence Bragg, diretor do laboratório britânico Cavendish, onde Watson e Crick trabalhavam, apresentou o modelo de DNA em uma conferência na Bélgica em 8 de abril de 1953, mas a imprensa aparentemente não percebeu a importância da descoberta.

Pouco mais de duas semanas depois, a revista científica Nature publicou um artigo de Watson e Crick e foi aí, então, que começou a série de pesquisas que deram origem à biotecnologia e às conquistas que antigamente pareciam ficção científica.

Em 1962, Watson, Wilkins e Crick foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina por "suas descobertas relacionadas com a estrutura molecular dos ácidos nucléicos e seu significado para a transferência de informação no material vivo". Franklin tinha morrido quatro anos antes, enquanto Wilkins e Crick faleceram em 2004.

Polêmicas do cientistas

Em sua longa carreira, que inclui a direção do Laboratório Cold Spring, em Nova York, Watson escreveu vários livros científicos e esteve na vanguarda da pesquisa em biologia molecular.

E também soube causar controvérsia por suas posturas políticas e declarações sobre assuntos tão variados como meio ambiente, irlandeses, negros, homossexualismo, cor da pele ou potência sexual.

"A maldição histórica dos irlandeses não é o álcool nem a estupidez, é a ignorância", disse Watson em uma conferência na Califórnia, nos Estados Unidos, no mês passado, como se suas opiniões já não tivessem irritado muita gente no passado.

Em 2000, em outra conferência, Watson afirmou que as pessoas de pele mais escura têm maior potência sexual e "por isso temos o amante latino, mas nunca ouvimos falar do amante inglês.

Em outubro de 2007, Watson teve que deixar seu posto de reitor emérito e da junta diretora do Laboratório Cold Spring depois que foram publicadas as seguintes declarações: "eu sou inerentemente pessimista sobre as perspectivas da África, porque todas nossas políticas sociais se apoiam no fato de que sua inteligência é a mesma que a nossa, quando todas as provas dizem que não é assim realmente".

Na década de 1960, quando era professor na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Watson declarou publicamente seu apoio a uma retirada imediata das tropas dos Estados Unidos do Vietnã, e na década seguinte se uniu a centenas de cientistas contrários à corrida armamentista.

Em 2007, no entanto, em declarações publicadas pelo jornal Esquire, Watson atacou a esquerda que, segundo ele, "não gosta de genética, porque a genética implica muitas vezes que fracassamos na vida porque temos maus genes".

"[Os esquerdistas] Querem que todos os fracassos na vida se devam a um sistema ruim", acrescentou.

Watson lembrou também que Crick, seu colaborador, disse certa vez que "deveríamos pagar aos pobres para que não tenham filhos".

"Eu acho que, agora, estamos em uma situação terrível e teríamos que pagar aos ricos para que tenham filhos", continuou. "Se existe correlação alguma entre sucesso e os genes, o quociente intelectual descerá se as pessoas de sucesso não tiverem filhos".