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Inventor apresenta avião que tentará dar volta ao mundo com energia solar

Visitantes observam e tiram foto do Solar Impulse 2º durante a apresentação do veículo na Suíça - Fabrice Coffrini/AFP
Visitantes observam e tiram foto do Solar Impulse 2º durante a apresentação do veículo na Suíça Imagem: Fabrice Coffrini/AFP

Marta Hurtado

Em Payerne

09/04/2014 16h15Atualizada em 10/04/2014 08h50

Bertrand Piccard, filho e neto de pioneiros inventores, queria em criar um avião que pudesse dar a volta ao mundo simplesmente propulsado pela luz do sol, e hoje, 12 anos depois desse sonho desdenhado por muitos, apresentou o Solar Impulse II, o primeiro avião que vai tentar completar essa missão sem combustível fóssil.

"Hoje, me lembro de Dumbo. Esse pequeno elefante com orelhas grandes do qual todos riam. Mas ele conseguiu voar, e todos se maravilharam. Devemos ter sonhos. Os sonhos podem parecer irreais, mas é preciso perseguí-los, porque às vezes se tornam realidade. Estamos muito perto de um que eu sempre tive: dar a volta ao mundo em um avião solar", afirmou Piccard na apresentação da aeronave, em Payerne, na Suíça.

Neto de Auguste, inventor do batiscafo e outros veículos subaquáticos, e filho de Jacques, grande aventureiro, Bertrand foi a primeira pessoa a dar a volta ao mundo de balão.

Após essa façanha e convencido de "que todos deveríamos fazer algo para proteger a humanidade antes que fiquemos sem recursos", ele projetou um avião que não usasse uma só gota de combustível fóssil.

Uma década de esforço, criação e investimento se concretizou em um avião propulsado exclusivamente com a energia solar armazenada em suas baterias gigantes, que pesam 633 quilos, um quarto do peso total da aeronave.

Este é o segundo protótipo desse "sonho". O primeiro, mais leve e menos potente, realizou seu primeiro voo em 2010 e conseguiu, entre outros feitos, viajar 26 horas seguidas e atravessar os Estados Unidos de costa a costa em cinco períodos.

Como Dumbo, o avião tem grandes "asas" de 72 metros de envergadura - as de um Boeing 747 jumbo medem 68,5 metros - e é coberto por uma fina camada de fibra de carbono que abriga 17.248 células fotovoltaicas que lhe dão autonomia de até cinco noites e cinco dias.

A velocidade máxima que o avião poderá atingir é de 90 quilômetros/hora perto do nível do mar, e de 140 quilômetros/hora em sua altitude máxima, 8.500 metros.

"Para poder ir da China aos Estados Unidos ou dos Estados Unidos até a Europa, precisamos desse tempo de autonomia", explicou Andre Borschberg, engenheiro-chefe do projeto e que esteve ao lado de Piccard desde o início.

Ambos são pilotos e se revezarão na cabine durante o trajeto ao redor do mundo, como fizeram até o momento em todas as travessias que realizaram com o primeiro protótipo do avião.

A cabina em questão tem um volume de 3,8 metros cúbicos, suficiente para armazenar oxigênio, comida, água, paraquedas e os demais equipamentos necessários para o piloto, e tem um assento ergonômico que se reclina de modo que seu ocupante possa se sentar, se esticar e fazer exercícios.

"O Solar Impulse não foi construído para transportar passageiros, mas mensagens. Queremos mostrar a importância do espírito empreendedor, para que as pessoas questionem o que dão como certo", declarou Piccard.

O novo avião também é completamente impermeável, por isso poderá voar sem problemas sob chuva.

De dia, o avião voará a uma altitude de 8.500 metros, e de noite, para economizar energia, descerá a 1.500 metros. Durante os trajetos, os pilotos estarão em constante contato com uma equipe de mais de 80 pessoas, que hoje subiram ao palanque da apresentação da aeronave para festejar o projeto com Bertrand e Borschberg.

Em meio ao público estavam representantes das dezenas de patrocinadores e mecenas com os quais o projeto conta, e também dois representantes da realeza europeia: Pierre Casiraghi, filho de Caroline de Mônaco, que acompanhou seu tio, Albert de Mônaco.

A aventura começará em março de 2015, no Golfo Pérsico. O avião também vai passar pelo Mar de Arábia e por Índia, Mianmar, China, Oceano Pacífico, Estados Unidos, Oceano Atlântico, sul da Europa e norte da África, antes de voltar ao local de onde decolou.

Está previsto que sejam realizadas tantas escalas quanto forem necessárias, uma decisão que os pilotos tomarão em função de suas necessidades.