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Estudo revela novos detalhes sobre "bússola interna" dos morcegos

Sistema de orientação dos morcegos permite deslocamento em ambientes complexos - William West/AFP
Sistema de orientação dos morcegos permite deslocamento em ambientes complexos Imagem: William West/AFP

Em Londres

03/12/2014 17h08

Um estudo publicado pela revista "Nature" revelou novos detalhes sobre o funcionamento do sistema de orientação do cérebro dos morcegos, uma "bússola interna" similar à utilizada pelo resto dos mamíferos, incluindo os seres humanos.

O sistema dos morcegos tem capacidade para trabalhar em três dimensões e permite que eles consigam se orientar em ambientes complexos, assim como perceber se estão em posição vertical de cabeça para cima ou para baixo.

"A importância deste estudo é que muitos mamíferos necessitam deste mesmo sistema em três dimensões para se movimentarem por ambientes complexos. Os macacos, ao se pendurarem das árvores, e os seres humanos, para ficarem no metrô ou pilotar um avião", explicou à Agência Efe Arseny Finkelstein, pesquisador do Instituto Weizmann de Ciência da cidade de Rehovot, em Israel.

Enquanto alguns animais, como os roedores, se orientam com base em estímulos simples, que não necessitam interpretação, como o olfato ou o tato, os morcegos e humanos utilizam principalmente sentidos mais complexos, como a visão ou a ecolocalização - no caso dos morcegos -, que necessitam uma maior elaboração.

Segundo Finkelstein, "isto significa que o sistema de orientação dos morcegos é muito parecido com o que é utilizado pelos seres humanos".

"Uma das razões mais comuns de acidentes aéreos é a vertigem, quando o piloto perde o sentido de direção e não sabe diferenciar entre em cima e baixo", detalhou o pesquisador.

Finkelstein explicou que isso "pode ser causado em parte por uma falha na bússola interna em três dimensões, por isso que, no futuro, este estudo pode ser importante para o desenvolvimento dos protocolos de prevenção dos acidentes aéreos".

O próximo passo do estudo será entender os erros que ocorrem neste sistema, por exemplo, quando uma pessoa sai de uma estação de metrô com grande circulação e perde temporariamente o sentido de orientação.

"Sentimos essa desorientação até que nosso mapa mental gire e volte a se alinhar, fazendo com que recuperemos o sentido de onde estamos", relata a pesquisa.

Para realizar o estudo, os cientistas desenvolveram um aparelho para fazer o acompanhamento em vídeo dos três ângulos de rotação da cabeça dos morcegos.

Também foi utilizado um dispositivo de gravação neural sem fio, que pesa poucos gramas e se conecta ao animal antes de começar o experimento, o que permite a monitoração da atividade cerebral enquanto voa.

A combinação do dispositivo de gravação neural com o acompanhamento de orientação do morcego em voo permitiu correlacionar a atividade cerebral com a orientação em três dimensões do animal.