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Pesquisa afirma que o cérebro também se rende aos mestres do suspense

Os atores Julie Andrews e Paul Newman em cena do filme "Cortina Rasgada" ("Torn Curtain", EUA, 1966), com direção de Alfred Hitchcock - Divulgação
Os atores Julie Andrews e Paul Newman em cena do filme "Cortina Rasgada" ("Torn Curtain", EUA, 1966), com direção de Alfred Hitchcock Imagem: Divulgação

27/07/2015 15h02

Os filmes de Alfred Hitchcock e de outros mestres do suspense mantêm o espectador com os olhos fixos na tela e, agora, esse fato foi confirmado por um grupo de pesquisadores, que descobriram que o cérebro restringe o campo de visão, nos momentos de maior tensão, para se concentrar apenas na história.

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, recorreram a dez clássicos do cinema de suspense como "Intriga Internacional" e "O Homem Que Sabia Demais" de Hitchcock; "Alien, o Oitavo Passageiro", de Ridley Scott, e "Louca Obsessão", baseada em um romance de Stephen King, para fazer essa descoberta.

O estudo publicado nesta segunda-feira pela revista "Neuroscience" explica que os especialistas mediram a atividade cerebral das pessoas enquanto elas assistiam a esses filmes.

E o resultado foi que, nos momentos em que o suspense atinge seu ápice, o cérebro restringe o campo de visão da pessoa e concentra sua atenção na história que é contada na tela. Já quando a tensão diminui, os espectadores dedicam mais atenção ao ambiente que os cerca.

"Muita gente acredita que nos perdemos dentro da história quando vemos um bom filme e que a sala em nossa volta desaparece", assinalou o chefe do estudo, Matt Bezdek.

"Agora temos evidências do cérebro que dão suporte à ideia de que as pessoas se sentem transportadas, em sentido metafórico, para a narração", acrescentou o pesquisador.

Os participantes do estudo se submeteram a um scanner enquanto viam cenas de dez filmes de suspense que eram projetadas no centro de uma tela, cujas bordas estavam margeadas por um desenho em forma de tabuleiro de xadrez, que piscava.

Os especialistas descobriram um fluxo e refluxo de atividade cerebral no sulco calcarino, a primeira área do cérebro que recebe e processa a maior parte da informação visual.

Quando o suspense do filme aumentava, a atividade se reduzia nas áreas do sulco calcarino que processam a visão periférica, enquanto aumentava a relativa a áreas centrais de processamento.

No caso da famosa cena de "Intriga Internacional", o cérebro restringia seu foco visual sobre o avião que persegue Cary Grant, mas, quando o ator conseguia se esconder nas plantações de milho e, portanto, o suspense diminuía, a atividade neuronal se revertia e a atenção se ampliava.

Quanto maior é o suspense, nosso cérebro desloca sua atividade no sulco calcarino para aumentar o processamento de informação essencial e ignora o conteúdo visual que não lhe interessa, diz o estudo.

"É uma assinatura neuronal de um túnel de visão", afirmou o professor associado do Instituto de Tecnologia da Geórgia, Eric Schumacher, que explicou que nos momentos de maior suspense os participantes do experimento "se concentravam no filme e, de maneira subconsciente, ignoravam as margens em forma de tabuleiro de xadrez".

O cérebro "restringia a atenção dos participantes, dirigindo-a para o centro da tela e para o interior da trama", acrescentou.

Os especialistas usaram as margens em forma de tabuleiro do jogo de damas porque os neurônios do sulco calcarino costumam ser atraídos por este tipo de desenho e, assim, puderam comprovar a ideia de que o suspense é capaz de suprimir, de maneira temporária, a resposta habitual dos neurônios.