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Cientistas argentinos pesquisam "máquinas perfeitas de transmitir vírus"

Mar Centenera

Em Buenos Aires (Argentina)

09/02/2016 06h03

O mosquito Aedes aegypti é considerado uma "máquina perfeita de transmitir vírus" pelos cientistas do Centro de Pesquisas de Pragas e Inseticidas da Argentina (Cipein), onde averiguam seus gostos e fobias para combatê-lo e conter as epidemias de dengue, zika e chikungunya.

As fêmeas desta espécie, que põem na média entre 100 e 300 ovos, picam várias vezes, geralmente de manhã ou à tarde, para alimentar-se de sangue, e se a pessoa picada está doente, contagiam com o vírus sua próxima vítima.

Diante da ausência de vacinas, todos os olhos estão postos no controle do vetor transmissor, tarefa à qual dedicam suas vidas uma dúzia de pesquisadores deste laboratório, situado nos arredores de Buenos Aires, entre caixas e mais caixas transparentes cheias de Aedes aegypti em todos os seus estágios: ovos, larvas e adultos.

"Uma das dificuldades sérias para o controle do mosquito é que é preciso controlá-lo no meio aquático, onde estão as larvas, e no meio aéreo, que é onde está o mosquito adulto", explicou à Efe o diretor do Cipein, o bioquímico Eduardo Zerba.

No laboratório, ligado ao Ministério da Defesa e colaborador internacional da Organização Mundial da Saúde para o controle de pragas, foi desenvolvida uma fórmula "que tem a capacidade simultânea de matar os adultos e as larvas" e que em breve será utilizada em todo o território nacional, assegurou Zerba.

O cientista e sua equipe são especializados no desenvolvimento de ferramentas de controle, mas também em ecologia química, ou seja, averiguam a percepção sensorial dos insetos, que se guiam muito pelo olfato.

Para conseguir isso, segundo a pesquisadora Paula González, procura "que compostos provoquem uma resposta sensorial na antena dos mosquitos", seja para atraí-los ou repeli-los.

Se for aplicado o elemento que os atrai em um recipiente com água, este se torna mais competitivo frente aos demais para que a fêmea deposite ali seus ovos, o que aumenta a efetividade de um inseticida usado de forma conjunta. Com o mesmo sistema, seu comportamento sensorial permite criar repelentes que evitem que eles nos piquem.

No insetário do centro de referência argentino, este mosquito pequeno, escuro e com listras brancas nas patas demora sete ou oito dias para completar seu ciclo, desde que o ovo eclode, passa os diferentes períodos larvais em água e se transforma em um exemplar adulto.

"Na natureza, depende das condições meteorológicas", explicou Zerba. O fenômeno climático de El Niño, um dos mais intensos de que se tem registro, foi nestes meses um aliado excepcional, com chuvas e temperaturas elevadas.

A água facilitou infinitos criadouros para o mosquito, que multiplicou sua presença e acelerou a propagação de casos de dengue, zika e chikungunya, contados aos milhares no continente.

"Não só afeta a Argentina. Está sendo pior no Brasil, o Uruguai não se salva. O problema é de toda a América Latina", ressaltou o médico.

Ele afirmou que a "América Latina está fracassando em sua campanha do controle do mosquito" porque fracassa no controle da praga através de "produtos químicos, manejo do meio para não deixar que se surjam criadouros e educação".

A imprevisibilidade da natureza faz com que este especialista em bioquímica, com mais de quatro décadas de pesquisa na carreira, duvide sobre a conveniência de usar mosquitos transgênicos para controlar o Aedes aegypti, como o Brasil começou a fazer.

"Pode ser uma ferramenta interessante para controlar o mosquito. Agora, é preciso ser muito cauteloso ao introduzir um organismo geneticamente modificado na natureza. É o mesmo que acontece quando alguém introduz um elemento novo na natureza para que ataque uma praga, e finalmente o organismo que se introduz se transforma em praga, como os castores na Terra do Fogo", opinou.

Seja qual for a fórmula de controle utilizada, com o tempo os mosquitos se tornam resistentes, por isso o trabalho do Cipein é uma tarefa em constante evolução e que nunca acaba.