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"É uma descoberta que sairá nos livros", afirma pesquisadora de ondas

11/02/2016 23h02

Cristina García Casado.

Washington, 11 fev (EFE).- A detecção das ondas gravitacionais é uma descoberta "que sairá nos livros" como a resposta, 100 anos depois, à última dúvida da Teoria da Relatividade de Albert Einstein, segundo disse nesta quinta-feira à agência Efe a porta-voz do Observatório Americano de Interferometria Laser (LIGO), a argentina Gabriela González.

"Por isso é tão emocionante para todos, agora conhecemos o universo um pouco mais, sabemos que existem buracos negros que colidem e formam outros maiores", explicou a pesquisadora em entrevista à Agência Efe, após participar do grande anúncio da detecção das ondas no National Press Club de Washington.

"E o mais incrível é que produzem contrações do espaço-tempo ao nosso redor, na Terra, aqui onde vivemos. Essas ondas viajaram por milhões de anos de onde nasceram até nós", disse.

González, como todos os que trabalharam neste ambicioso projeto, fala das "novas janelas" ao Cosmos que acabam de ser abertas com grande entusiasmo e orgulho. Tanto que até usava um lenço no pescoço com um desenho de ondas, desenhado especialmente para comemorar o feito.

Em uma grande entrevista coletiva, os cientistas do LIGO puseram fim nesta quinta-feira a meses de rumores e grande expectativa entre a comunidade científica perante um achado que abre a porta para redescobrir o universo, desta vez sem necessidade da luz.

O feito do LIGO é duplo: se trata da primeira detecção direta de ondas gravitacionais e da primeira observação da fusão de um sistema binário de buracos negros.

A esperada descoberta coincide com o centenário, este ano, da publicação do artigo no qual Einstein predizia a existência de ondas gravitacionais como consequência da Teoria da Relatividade geral que tinha apresentado em novembro de 1915, poucos meses antes.

"Este conhecimento da teoria de Einstein que o espaço-tempo é dinâmico é algo que eu acredito que vá gerar curiosidade em todo o mundo para entender o que se passa a nosso redor", considerou González, que é professora de Física e Astronomia na Universidade da Louisiana.

O anúncio teve que esperar cinco meses desde que as ondas foram detectadas às 9h51 GMT do último dia 14 de setembro pelos dois detectores do LIGO, um localizado em Livingston (Louisiana) e outro em Hanford (Washington), a milhares de quilômetros de distância.

"Tínhamos que estar seguros, houve fiascos no passado. Tínhamos que assegurar-nos que não tinha acontecido nada anormal em um dos detectores que indicasse que não se tratava de uma fonte astrofísica. Isso leva muito tempo", explicou a pesquisadora.

A primeira coisa encontrada pelos cientistas foi um código informático que indicava que se tinha detectado uma onda gravitacional. "Mas não podemos acreditar em tudo que os computadores dizem", advertiu González.

"Precisávamos confirmar que o código estivesse correto, que os resultados tivessem parâmetros fisicamente possíveis, entender a fonte macrofísica que poderia produzir essas ondas, e tudo isso requer muitas análises", detalhou.

"Tivemos que simular muitas ondas para ver o efeito que tinham no detector e qual era a que mais se parecia com a observação que tínhamos. Tivemos que analisar informação de monitoração de clima, raios cósmicos, vento, para garantir que não tinha acontecido nada em um dos detectores que nos conduzisse a um engano", acrescentou.

A equipe que tornou possível este marco científico é "muito internacional", segundo González, mais de mil pessoas de 20 países que trabalharam na detecção, interpretação de dados e redação deste estudo.

Os dois detectores são americanos e a maioria dos fundos para seu desenvolvimento procede da Fundação Nacional da Ciência (NSF) dos Estados Unidos, com contribuições estrangeiras.

Os cientistas do LIGO têm certeza que, se continuarem coletando dados com os mesmos instrumentos, detectarão outras ondas, mas talvez não tão fortes.

"Começamos a coletar dados em agosto porque tínhamos detectores três ou quatro vezes melhores que os últimos operados em 2010, apesar de que queremos torná-los agora 10 vezes melhores do que eram então", destacou González.

Agora, os detectores americanos receberão o auxílio do Virgo, na Itália, até conseguir uma potência dez vezes superior à que se tinha em 2010.

"Tendo três detectores funcionando ao mesmo tempo e analisando os dados dos três ao mesmo tempo, os sinais vão ser mais fáceis de encontrar e de distinguir do barulho, porque tem que ser a mesma nos três, vamos poder triangular", afirmou a cientista.

Os pesquisadores do LIGO querem assim seguir dando passos que, como o de hoje, contribuam para responder essas perguntas sobre o universo que o homem se faz desde tempos remotos.

Por enquanto, fecharam com uma chave de ouro histórica a teoria de Einsten, justamente quando se completam 100 anos de sua formulação.