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Humanos são cada vez mais insensíveis aos conteúdos violentos e sexuais

Em Barcelona

14/02/2016 11h07

Uma nova ferramenta de análise que mede os estados emocionais desenvolvida por pesquisadores da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona demonstra que os humanos estão perdendo capacidade emocional de excitação diante de conteúdos como de violência e sexo.

Segundo informou essa universidade, este fato foi demonstrado no processo científico de validação de uma escala para medir estados emocionais, como o prazer e a excitação, em tempo real, denominada "The Affective Slider" (AS).

Os pesquisadores Alberto Betella e Paul Verschure constataram, em um estudo divulgado na revista científica "PLoS ONE", que "as pessoas são cada vez mais insensíveis aos estímulos altamente excitantes que vão desde a violência ao sexo".

Betella e Verschure explicaram que o trabalho tinha um duplo propósito. "Por um lado teria que provar a confiabilidade da nova escala AS e, por outro, queríamos saber se podíamos replicar as qualificações proporcionadas pelo International Affective Picture System (IAPS)".

O IAPS consiste em um banco de imagens com múltiplas categorias semânticas utilizado como padrão em estudos de psicologia que permite obter dados individuais a partir da resposta das pessoas perante os estímulos.

O primeiro alvo, a escala AS, é composto por dois controles deslizantes que medem emoções básicas em termos de prazer e excitação, sendo assim uma ferramenta "mais simples e intuitiva" para a auto-avaliação em tempo real que é baseada na escala Manequim de Auto-avaliação (SAM), uma das mais usadas em psicologia para o íntimo.

Uma das conclusões do estudo foi a demonstração de que a escala AS pode substituir a SAM na auto-avaliação de prazer e excitação, "com as vantagens adicionais de ser um método autônomo e que se pode reproduzir facilmente em dispositivos digitais".

Os autores da pesquisa afirmam que "AS é uma ferramenta mais moderna que pode ser adotada livremente por outros pesquisadores sob uma licença aberta", já que, ao contrário da SAM, funciona exclusivamente através de sinais não verbais consistentes na interação com uma interface com barras de deslocamento.

Perante o segundo alvo, os pesquisadores concluíram que existe uma resposta afetiva significativamente menor aos estímulos emocionais, ou seja, que os autores mostram que "hoje em dia as imagens IAPS não impactam tanto como no passado".

Os resultados do estudo apontaram a uma "dessensibilização dos conteúdos que provocam excitação", que segundo os autores é causada "muito provavelmente à grande presença deste tipo de conteúdos nos meios de comunicação".

Sobre este fato, os autores advertem que "se forem utilizadas as imagens da base de dados IAPS, junto com suas classificações dos anos 90, seus resultados podem ser imprecisos já que estas imagens, qualificadas originalmente de altamente excitantes, hoje em dia têm uma carga emocional diminuída e são menos excitantes".

Betella e Verschure apontaram que esses resultados "colocam a reflexão sobre em que medida a experiência emocional e a expressão humana podem ser majoritariamente moldadas pela experiência, e mais especificamente no que concerne ao prazer e às situações excitantes".

Os experimentos sobre as respostas afetivas nos seres humanos constituíram uma das linhas de pesquisa do Centro de Sistemas Autônomos e NeuroRobóticos (NRAS) da UPF, dirigido por Verschure.