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Lenta circulação da água do Atlântico pode se dever a ciclo natural

18/07/2018 15h39

Londres, 18 jul (EFE).- O enfraquecimento da circulação da água no Oceano Atlântico não é fruto do aquecimento global, mas é parte de um ciclo regular que afetará as temperaturas nas próximas décadas, de acordo com um novo estudo publicado nesta quarta-feira na revista "Nature".

A pesquisa - feita por acadêmicos da Universidade de Washington -, argumenta que a corrente, conhecida como o sistema de Circulação Meridional de Derivação Atlântica (AMOC, na sigla em inglês), não está entrando em colapso, mas está fazendo a transição de uma fase rápida para outra mais lenta, o que afeta o aquecimento na superfície.

"Os cientistas esperavam que a circulação da água no Atlântico diminuísse sua velocidade a longo prazo como consequência do aquecimento global, mas a realidade é que só dispomos de medições precisas desde abril de 2004".

"Desde então, o declive medido é dez vezes maior do que o esperado", explicou um dos autores, Ka-Ki Tung, professor de Matemática Aplicada na Universidade de Washington.

De fato, um estudo publicado em abril, dirigido por Levke Ceasar e Stefan Rahmstorf, do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam (Alemanha), sugeria que o AMOC tinha se enfraquecido mais rapidamente desde 1950 por causa do aquecimento global recente.

"Muitos se centraram no fato de que a circulação está diminuindo muito rapidamente e que, se a tendência continuar, chegará a um ponto de inflexão que causará uma catástrofe como uma era de gelo", acrescentou.

No entanto, "parece que isto não acontecerá em um futuro próximo. O fenômeno pode, por outro lado, ser parte de um ciclo natural e há indícios de que o declive já está terminando".

Estas revelações, todavia, trazem consigo implicações no aquecimento global. A velocidade da corrente determina quanto calor da superfície se transfere para as profundezas do oceano e uma circulação mais rápida enviaria mais calor às profundezas do Atlântico, segundo o estudo.

Se a corrente se desacelerar, explicam os especialistas, armazenará menos calor, por isso é provável que a Terra veja como a sua temperatura do ar aumenta mais rápido.

O AMOC tem uma grande influência sobre o clima, pois redistribui calor e incide sobre o ciclo do carbono. Por isso, as mudanças no seu ciclo e as consequências destes são objeto de estudo.

Graças aos dados coletados através de boias de argônio, embarcações medidoras da temperatura, registros das marés, imagens de satélite da superfície marítima e os dados do próprio AMOC, os pesquisadores consideram que tudo isso sugere que sua força oscila como parte de um ciclo de autorreforço de, aproximadamente, 60 ou 70 anos de duração.

"A boa notícia é que os indicadores mostram que a fase de enfraquecimento das correntes está terminando, por isso não devemos nos preocupar com um colapso", disse Tung.

"A má notícia é que é provável que as temperaturas da superfície comecem a aumentar em maior velocidade nas próximas décadas", explicou o cientista.