Que diabos acontece com nosso planeta?

Salvador Nogueira

Hoje, o IPCC (Painel Intergovernamental para Mudança Climática) apresentou seu novo relatório, que prevê um aumento de 4,8 graus na temperatura média da Terra até 2100 no pior cenário possível, e põe isso na conta da humanidade. (Para ler mais sobre o relatório, recomendo o como sempre brilhante texto do meu amigo Rafael Garcia.) [caption id="attachment_596" align="alignnone" width="600"] Terra e Vênus podiam ser parecidos, mas acabaram muito diferentes. Entre eles, o efeito estufa descontrolado[/caption] Que a mudança climática está acontecendo, que em tempos recentes o planeta realmente esquentou e que a ação humana parece mesmo a grande responsável não dá muito para discutir. (E quem discute isso ou desconhece os dados ou tem o rabo preso com alguém interessado na dúvida.) O que merece talvez uma ponderação é esse gosto dos cientistas por apresentar os números com uma convicção inapropriada. Dizem eles que têm 66% de certeza -- o que não é lá grande coisa, para começo de conversa --, mas os modelos climáticos todos não mostravam a possibilidade de um arrefecimento do aquecimento, como foi visto nos últimos 15 anos. O que isso quer dizer? Bem, quer dizer que ainda não entendemos tão bem essa coisa toda como gostaríamos. Já sabemos o suficiente para atrelar o aquecimento à ação humana, principalmente com a queima de combustíveis fósseis. Mas não para quantificar tudo isso tão bem. Compreender a dinâmica de um planeta inteiro não é fácil. O que há de se admirar nessa história toda é que uma única espécie seja capaz de transformá-la. É um sinal de que temos inteligência suficiente para sair da enrascada em que nos metemos. O que falta: vontade política, enfrentamento do poder econômico e a percepção de que não é bom, por princípio, interferir em sistemas cujo funcionamento desconhecemos. O fato de os cientistas do IPCC serem incapazes de prever a evolução do clima com precisão é a principal razão pela qual precisamos parar o que estamos fazendo. Não dá para saber onde vai dar. Podemos terminar com um aquecimento modesto, coisa de 1 grau (e o IPCC tem cenários mais otimistas que apresentam essa possibilidade), e tudo bem. Mas também podemos acabar despertando forças que depois seremos incapazes de conter, porque a natureza ainda é muito mais poderosa que qualquer iniciativa humana. Não custa lembrar que Vênus, nosso vizinho mais próximo, é um planeta do tamanho da Terra, numa órbita só um pouquinho mais próxima do Sol, e mesmo no passado remoto, quando nossa estrela brilhava menos, ele deu um jeito de se tornar um inferno escaldante, com temperaturas superiores a 450 graus Celsius. Tudo por conta de um efeito estufa descontrolado, que levou todo o carbono armazenado no interior do planeta a ir parar na atmosfera. A perspectiva cósmica nos ensina que a coisa pode ficar muito pior do que sugerem as mais catastróficas sugestões do IPCC. Convém equilibrar o desenvolvimento da civilização com a preservação do planeta, para que não percamos o único abrigo conhecido para nossas formas de vida. Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook

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