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Mulheres usam o cigarro para aliviar o estresse, diz médica

da Redação

31/05/2007 08h32

Mulheres costumam fumar mais para aliviar as tensões, enquanto os homens, para raciocinar melhor. A constatação é da cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, e autora do livro "Deixar de fumar ficou mais fácil" (MG Editores).

Identificar o tipo de condicionamento associado ao cigarro, segundo ela, é um dos primeiros passos para combater o vício. Dentre os perfis descritos por ela, está o indivíduo que fuma apenas pela necessidade de ter algo nas mãos. Ou, ainda, para acompanhar o café, a bebida e as refeições. "As pessoas costumam ter mais de um comportamento associado, mas um deles sempre prevalece".

Esperança para os fumantes

Fernando Moraes/Folha Imagem
Identificar o tipo de condicionamento associado ao cigarro é um dos primeiros passos para superar o vício, diz médica
ASSISTA A ENTREVISTA COM A CARDIOLOGISTA JAQUELINE ISSA
"O cigarro foi sempre um companheiro", diz a dentista Maria Eloísa Motta, que está há 40 dias sem fumar graças ao medicamento antitabagismo que acaba de chegar ao Brasil, o Champix. Com 49 anos, ela começou a fumar aos 13 anos e sempre se sentiu constrangida em atender os pacientes cheirando a fumaça. "Sinto uma certa tristeza por ter perdido 'minha muleta', mas pelo menos a casa e eu estamos mais perfumados", brinca ela, que promete iniciar uma atividade física.

A vareniclina, substância ativa do Champix, é a grande esperança para quem quer largar o cigarro e não consegue. O medicamento atua no sistema de recompensa do cérebro, suprindo a falta da nicotina. "O produto é promissor para evitar as recaídas", diz a médica, lembrando que metade dos fumantes tratados retoma o vício. Mas o novo remédio não é barato: o custo médio do tratamento completo, que dura 12 semanas, é de R$ 950,00.

Outra opção de tratamento é a bupropiona, antidepressivo conhecido comercialmente como Zyban. Há, ainda, as pastilhas e adesivos para reposição de nicotina, utilizadas sob orientação médica para tratar os sintomas de abstinência. Esse foi o tratamento indicado para o aposentado Luiz Lagasci, que abandonou o vício há dois meses, após fumar mais de três maços por dia durante 60 anos. O principal estímulo para buscar um especialista foi um infarto, sofrido há dez anos. "No começo, me afastei dos amigos para evitar a tentação, mas agora já voltei à rotina normal e me sinto muito bem", conta.

Para quem quer parar de fumar, a cardiologista do Incor faz algumas recomendações:

- Tente praticar alguma atividade física. Se a alternativa for caminhar, vale a pena comprar um pedômetro, aparelho que mede o número de passos, para estimular o aumento gradativo do exercício;
- Para evitar o ganho de peso, escolha petiscos pouco calóricos, procure escovar os dentes logo após a refeição e use balas ou gomas de mascar sem açúcar para aliviar a compulsão;
- Pelo menos nas primeiras semanas, mude a programação de lazer, evitando situações de risco, como sair para beber com os amigos. O ideal é dar preferência aos locais em que é proibido fumar, como cinemas e teatros;
- Procure atividades que proporcionem prazer;
- Mude sua rotina, como o local onde toma café da manhã e almoça.

Tabaco e doenças

É difícil acreditar, mas o uso do tabaco para efeitos medicinais já foi algo bastante difundido. No século XVII, o médico e filósofo alemão Jean Neander publicou "Tabacologia", um robusto tratado que sistematizava os vários poderes do tabaco, como reduzir a fome e a sede, fortificar a memória, tratar doenças como úlcera, pneumonia, gota, angina, asma e tosse. Apenas na segunda metade do século XX é que agências governamentais e instituições de saúde passaram a divulgar a relação entre o consumo de tabaco e doenças.

"Quem fuma e tem mais de 40 anos deve avaliar sua capacidade pulmonar anualmente, por meio da espirometria", alerta o médico Aquiles Camelier, presidente do departamento de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) da Sociedade Brasileira de Pneumologia. Mais conhecida como enfisema pulmonar, a DPOC é provocada pelo fumo em 90% dos casos. No Brasil, estima-se que existam 5,5 milhões de doentes.

O especialista esclarece que não existe cura para doença e, para piorar, ela só é diagnosticada quando atinge um estágio avançado. As únicas formas de tratamento são a interrupção do tabagismo, o uso de broncodilatadores e a reabilitação pulmonar, que permite ao paciente realizar as atividades diárias sem sentir falta de ar.

Ao abandonar o fumo, as estruturas do pulmão que foram danificadas pela fumaça não se regeneram, mas o órgão deixa de perder sua função. Os resultados são o ganho de fôlego, o fim da tosse e do pigarro, e a redução do risco de câncer e doenças cardiovasculares. Sem dúvida, o sacrifício vale a pena.