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Dia Mundial do Rim: doenças renais crônicas atingem cerca de 2 milhões de brasileiros

Ana Sachs<br>Da Redação

12/03/2008 20h55

Silenciosas, as doenças renais crônicas atingem mais de 500 milhões de pessoas em todo o globo. No Brasil, são cerca de 2 milhões de doentes, dos quais, segundo estimativas da SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia), 60% não sabem que têm o problema. Nos casos mais graves, as complicações nos rins podem levar a perda do órgão e até à morte.

Para alertar as pessoas dos riscos dessas doenças, foi instituído o dia 13 de março como o Dia Mundial do Rim. Nesta data, cerca de 70 países realizam diversas ações de prevenção às doenças renais. No Brasil, a SBN lançou a campanha Previna-se e programou mais de 400 mutirões em todos os Estados do país para fazer gratuitamente exames de urina e de creatinina no sangue, que ajudam a detectar a doença em seus estágios iniciais.

Segundo a nefrologista Gianna Mastroianni Kirsztajn, coordenadora da campanha e do comitê de Prevenção de Doenças Renais da SBN, o diagnóstico tardio e o fato de se tratar de doenças assintomáticas, ou seja, que não causam dor ou sintomas aparentes, é o que dificulta o tratamento das doenças renais. "O doente só sente que algo está errado quando cerca de 50% dos rins estão comprometidos", apontou.

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Ela estima que existam atualmente 10 milhões de pessoas com algum tipo de complicação renal. As formas crônicas da doença - que não incluem os cálculos e as infecções urinárias - causam degeneração progressiva do órgão e podem evoluir para a insuficiência renal. "O tratamento evita que a doença se torne crônica e danifique definitivamente os rins. Em casos mais graves, somente um transplante renal ou diálise podem salvá-lo", disse.

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    Para Gianna, um dos grandes problemas na detecção precoce das doenças renais é o despreparo dos médicos. "A doença não chega nem a ser detectada, porque os médicos não pedem os exames. Minha meta é fazer com que esses exames sejam pedidos em check-ups de rotina, como já é com o colesterol", apontou. "Eles são a única forma de detectar a doença no estágio inicial, quando ainda dá para ser tratada com sucesso. Há cada vez mais gente adoecendo. É preciso treinar os médicos."

    Tratamento
    Uma boa notícia neste dia 13 de março é o aumento no número de transplantes de rins. Em 2007, foram 3.397 transplantes, contra 3.281 em 2006, segundo dados divulgados nesta semana pela Abto (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).

    MITOS E VERDADES
    Todo cálculo renal dói? Não. A maioria dos cálculos ficam "estacionados" em um lugar e não doem. A dor aparece somente quando ele se desloca.
    Sal em excesso prejudica os rins?Indiretamente, sim. O sal em excesso pode gerar hipertensão, doença que aumenta a propensão a desenvolver doenças renais.
    Leite causa pedra nos rins?Não. Os cálculos são causados por uma série de fatores, e não somente pelo cálcio que existe no leite. Cortar esse alimento pode, inclusive, fazer o organismo retirar cálcio dos ossos e causar osteoporose.
    Beber água evita problemas renais?Não. Nos casos de doenças renais crônicas, pode até agravar o problema. O ideal é beber entre 1 e 2 litros de água por dia.
    O número parece pequeno diante dos 34.108 doentes que aguardaram na fila um transplante de rim em 2007, de acordo com dados ainda não consolidados da Abto. Mas, se pensarmos que cada rim transplantado representa uma pessoa que ganha uma nova vida, ele se torna grande.

    Segundo a entidade, os Estados com mais pessoas na fila em janeiro deste ano são: São Paulo (9.583), Minas Gerais (3.931), Rio de Janeiro (3.537), Paraná (2.471) e Bahia (2.345). Ao todo, a SBN calcula que o país já realizou 25 mil transplantes de rins.

    Uma pesquisa feita pela SBN com 546 unidades de diálise do Brasil revelou ainda um aumento de 72% no número de pacientes em diálise entre entre janeiro de 2000 e o mesmo mês de 2007. O número subiu de 42.695 para 73.605 pacientes em tratamento. O aumento tem seu lado positivo e negativo. "Ele aponta que há cada vez mais doentes renais, mas também que mais pessoas estão tendo acesso ao tratamento", disse a médica.

    Grupos de risco
    As principais doenças renais crônicas, ou seja, que podem levar à perda do órgão são: nefrites (inflamação nos rins), nefropatia hipertensiva, nefropatia diabética e doença renal policística. O cálculo renal e as infecções urinárias também são doenças nos rins, mas não são doenças progressivas e não levam à insuficiência renal.

    As doenças renais crônicas aumentam em até 10 vezes o risco de uma pessoa desenvolver problemas cardiovasculares. O oposto também acontece: quem tem doenças cardiovasculares deve ficar atento a possíveis problemas renais, alertou Gianna.

    Os diabéticos representam outro grupo de risco. Entre 30 e 40% dos diabéticos desenvolvem doença renal crônica, segundo Gianna. As complicações no rim também têm forte componente genético. Idosos devem fazer ainda os exames de urina e creatinina no sangue com freqüência.

    Para saber mais sobre as ações da campanha Previna-se acesse o site da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

  • Leia as perguntas e respostas do bate-papo com a médica Gianna Mastroianni Kirsztajn