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Cirurgia de reconstituição do hímen: cada médico, uma opinião

Tatiana Pronin<br>Editora do UOL Ciência e Saúde

01/04/2008 20h53

No último Carnaval, uma modelo, conhecida por ter redesenhado o corpo inteiro com cirurgias plásticas, anunciou na TV sua nova empreitada: a reconstituição do hímen. O procedimento, segundo os cirurgiões, é extremamente simples e feito há bastante tempo. Mas cada profissional tem sua própria opinião sobre quando e em que pacientes ele deve ser realizado.

SEM VERGONHA DE TIRAR O BIQUÍNI
Arquivo Folha Imagem
À medida que procedimentos como a lipoaspiração tornam-se mais comuns, mulheres ganham coragem para modificar partes mais íntimas do corpo
ESTÉTICA X NECESSIDADE
TIPOS DE CIRURGIA ÍNTIMA
INJEÇÃO NO PONTO G
"Tirar um retalho, reapertar e torcer para que a cicatrização seja insuficiente para provocar um rasgo e sangrar no próximo coito - definitivamente não é o tipo de cirurgia que me agrada fazer, mas às vezes é o que a paciente precisa", admite o ginecologista norte-americano Michael Goodman.

Ele afirma que já atendeu mulheres do Oriente Médio que, apesar de virgens, queriam reforçar o hímen para ter certeza de que iriam sangrar na primeira relação sexual. Algo que, naqueles países, tem um peso cultural muito forte. Já quando a motivação é simplesmente agradar o noivo, ele se recusa a fazer.

O cirurgião plástico Murillo Caldeira Ribeiro, de São Paulo, não considera que incrementar o relacionamento seja um motivo banal demais para se fazer a himenoplastia. "Muitos casais vêm relatar, depois, o quanto a segunda lua-de-mel foi especial", conta. A paciente com mais idade que atendeu tinha 60 anos e, a mais, nova, 16. "Esta tinha sido enganada pelo namorado", afirma.

A psiquiatra Carmita Abdo, do Projeto Sexualidade, da USP (Universidade de São Paulo), é contra a reconstituição do hímen por uma simples questão de fetiche. "Uma cirurgia sempre envolve riscos e há muitas outras formas de melhorar a vida sexual. Se a pessoa precisa da virgindade para se sentir feliz, no fundo ela precisa muito mais do que isso", sugere.

Violência sexual

João de Moraes Prado Neto, presidente da regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, afirma não há restrições legais à cirurgia de reconstituição do hímen. "Mas minha opinião é que o procedimento só deve ser feito nos casos em que houve violência sexual", avalia.

Goodman diz que não faz a reconstituição do hímen depois de um estupro porque acredita que a cirurgia, com todos os incômodos envolvidos, pode até acentuar o trauma vivido pela paciente.

Mas o ginecologista Marcos Desidério Ricci, do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que a himenoplastia costuma ser parte do protocolo de atendimento a vítimas de violência. "A indicação para a cirurgia só é feita depois que o caso passou pelas equipes de ginecologia e psiquiatria", ressalta. Para muitas mulheres e em especial as religiosas, ele explica, o fato de ter perdido a virgindade é quase tão traumatizante quanto o estupro em si.