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Entenda como a dengue é transmitida e quais os hábitos do Aedes aegypti

Da Redação

09/04/2008 20h19

Epidemias de dengue, como a registrada atualmente no Rio de Janeiro, dependem de dois fatores: a presença maciça do vetor e do vírus da doença.

O mosquito Aedes aegypti é o principal vetor da dengue, além de transmissor da febre amarela urbana, doença praticamente erradicada do Brasil. Como seu próprio nome revela, é originário do Egito, tendo se espalhado por toda a África, de onde saiu em direção ao continente americano provavelmente levado pelos navios negreiros.

Outro mosquito, o Aedes albopictus, também é transmissor potencial do vírus da dengue. De origem asiática, está presente no Brasil, mas acredita-se que não desempenhe função de vetor da doença no país. Outras espécies pertencentes ao gênero Aedes também transmitem doenças, como o Aedes polynesiensis, vetor do parasita que causa a filariose humana na Polinésia.

CICLO DE TRANSMISSÃO
HowStuffWorks
Criadouros do Aedes aegypti são encontrados nos mais variados locais, como garrafas, bromélias e pratinhos de vasos, bem como nas cascas de ovos, tampinhas de garrafa, calhas entupidas e qualquer objeto que tenha uma concavidade
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Presente em toda a região tropical e subtropical do globo, o Aedes aegypti predomina nas áreas mais quentes e abundantes em água. É uma espécie exclusiva das zonas urbanas, com exceção da África, onde ainda pode ser encontrado em ambientes naturais. Tem hábitos diurnos e alimentação baseada na seiva das plantas.

Menor que os mosquitos comuns, o Aedes aegypti mede menos de um centímetro e pode ser identificado pela cabeça, corpo e patas pretas com listras brancas. Na parte dorsal do corpo, traz uma mancha prateada com desenho semelhante a uma lira ou um violão.

Apenas as fêmeas do mosquito picam os seres humanos, uma vez que necessitam das proteínas presentes no sangue para o amadurecimento de seus ovos. A busca pelo sangue acontece apenas no período luminoso, em especial ao amanhecer e ao entardecer, e é direcionada, entre outros fatores, pelo gás carbônico liberado pelos seres vivos na respiração.

As picadas concentram-se nos membros inferiores (pés, tornozelos e pernas), já que o mosquito voa baixo. Com ruído praticamente inaudível e picada indolor por conta do anestésico presente em sua saliva, o mosquito só costuma ser notado quando a área começa a coçar.

O depósito dos ovos acontece cerca de 1,5 centímetro acima da superfície da água acumulada em pequenos reservatórios. Segundo pesquisadores, águas limpas, bem como turvas, lodacentas e com sabão podem servir para a procriação do mosquito.

Criadouros são encontrados nos mais variados locais, como garrafas, bromélias e pratinhos de vasos, bem como nas cascas de ovos, tampinhas de garrafa, calhas entupidas e qualquer objeto que tenha uma concavidade.

Arquivo Folha Imagem
Entre 10 e 14 dias depois de picar alguém com dengue o mosquito já é capaz de retransmitir a doença pela saliva
COMO É O VÍRUS DA DENGUE
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Com cerca de um milímetro de comprimento, os ovos são brancos, mas logo tornam-se pretos. A escolha por criadouros escuros, como pneus, ajuda na camuflagem dos ovos e larvas e também atende à necessidade de calor, intensificado por superfícies escuras.

O desenvolvimento do embrião leva cerca de 48 horas e, a partir de então, o ovo torna-se extremamente resistente. Ele pode sobreviver a até um ano sem umidade, eclodindo ao primeiro contato com a água.

O ciclo de transformação até a fase adulta acontece, a partir daí, exclusivamente na água e conclui-se em cerca de 10 dias em temperaturas próximas a 30 graus. Em períodos mais frios, o ciclo pode durar três ou quatro vezes mais.

Após a fase larval, na qual se alimenta, transforma-se em pupa, quando adquire o aspecto de uma vírgula, e, depois de dois dias, emerge o adulto. O mosquito permanece na parede do recipiente por algumas horas, até que seu exoesqueleto endureça e ele possa voar em busca de alimento.

O Aedes aegypti vive cerca de 45 dias e costuma ter autonomia de vôo de 100 metros. Em torno de 72 horas após a primeira alimentação, já coloca seus primeiros ovos, que podem contabilizar mais de 300 ao longo da vida.

Os vírus da dengue

A vírus da dengue é um arbovírus, ou seja, um vírus transmitido por artrópodes, como o mosquito Aedes aegypti. Pertence ao gênero Flavivírus e à família Flaviviridae, a mesma dos vírus da encefalite, febre amarela e hepatite C. Acredita-se que seja originário do sudeste asiático.

Existem quatro sorotipos do vírus, conhecidos pelos números de um a quatro. Todos causam a dengue em humanos, mas não há consenso se um deles é mais perigoso. Os sorotipos um, dois e três podem ser encontrados no Brasil. Já sobre a presença do quatro, também não existe consenso entre os pesquisadores.

Muitos dos ovos das fêmeas infectadas com o vírus da dengue também carregam o vírus. Neste caso, a transmissão da doença pode acontecer desde a primeira picada.

Por sua vez, o mosquito só contrai o vírus ao picar uma pessoa doente no período compreendido entre 24 horas antes da manifestação dos primeiros sintomas e seis dias depois. Nesse caso, ele ingere o vírus da dengue junto com o sangue e entre 10 e 14 dias depois já é capaz de retransmitir a doença através de sua saliva.

Após infectada com um dos sorotipos, a pessoa fica imune a ele, mas não aos outros três, o que dificulta a fabricação de uma vacina.

Fontes: Ministério da Saúde; Hermione Elly Melara de Campos Bicudo, professora e pesquisadora de genética e evolução de insetos da Unesp (Universidade Estadual Paulista); Ionizete Garcia da Silva, professor e pesquisador de parasitologia da UFG (Universidade Federal de Goiás); Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, médico, professor e pesquisador de microbiologia aplicada da USP (Universidade de São Paulo)