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'Melhor amigo do homem' ajuda a manter a biodiversidade do Cerrado

Tatiana Pronin<br>Editora do UOL Ciência e Saúde

12/05/2008 20h57

Cães farejadores têm ajudado pesquisadores a identificar espécies ameaçadas de extinção na região do Parque Nacional das Emas, em Goiás, e seu entorno. A exemplo dos animais que ajudam a polícia a encontrar drogas nos aeroportos, eles são treinados para localizar fezes que dão pistas importantes sobre o ecossistema do Cerrado.

O projeto faz parte da tese de doutorado da bióloga norte-americana Carly Vynne, pesquisadora do Centro para Biologia da Conservação da Universidade de Washington, em parceria com a ONG Conservação Internacional do Brasil (CI-Brasil).

Por meio da análise das fezes encontradas pelos cães, a equipe da bióloga consegue detectar a ocorrência, a dieta, o estresse hormonal, os parasitas e até a identidade genética das espécies monitoradas, como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e o lobo-guará. A vantagem é que, com o método, não é necessário capturar os animais e sedá-los para a coleta de material biológico.

Fome de bola

Examinar dejetos pode não ser uma tarefa das mais agradáveis, mas o trabalho dos biólogos seria bem mais difícil sem a ajuda dos cães. A área pesquisada, que envolve fazendas nos municípios de Costa Rica (MS) e de Chapadão do Céu (GO), mede 3.000 quilômetros quadrados.

Quando as fezes são localizadas, o pesquisador que acompanha o cachorro marca o local com o GPS (sistema de posicionamento global) e coleta as amostras. O critério para seleção dos cães, segundo Vynne, é simples: "usamos qualquer raça que fique com nariz no ar e tenha obsessão por bolinhas de tênis". Sim, os quatro labradores que acompanham a bióloga e sua equipe passam o dia atrás de cocô só para brincar com uma bola.

A pesquisadora explica que a metodologia já foi testada com sucesso em outras pesquisas coordenadas por equipes da Universidade de Washington. "Os cães têm ajudado a coletar dados sobre ursos no Canadá e até de baleias no Atlântico Norte", conta.

Manejo

Os resultados do estudo, que começou em 2006, serão enviados ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, órgão responsável pela administração da unidade, para que as informações integrem o plano de manejo do local. "A região do Parque Nacional das Emas é muito ocupada, ou seja, a cobertura vegetal nativa foi removida em grande parte para dar lugar a plantios e pastagens", explica Ricardo Machado, diretor do Programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil.

Graças à pesquisa, foi possível descobrir, por exemplo, que as onças não habitam propriedades devastadas. Elas precisam de pelo menos 20% de vegetação nativa para circular, percentual que é compatível com o que o Código Florestal Brasileiro determina.

De acordo com Machado, a localização dos rastros das espécies estudadas vai fornecer subsídios para estabelecer corredores de conexão entre áreas nativas isoladas. "Se quisermos manter as espécies convivendo com as atividades humanas, temos que dar as condições mínimas para elas sobreviverem", diz.


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