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Dormir juntos, até que o ronco nos separe?

Suzana Esper<br>Especial para o UOL Ciência e Saúde

12/06/2008 15h20

Vários motivos levam duas pessoas a dividirem a cama. O problema é que nem sempre a harmonia do casal se mantém durante o sono. O ronco ou a mania de se mexer muito podem transformar as horas de descanso em transtorno. Nesses casos, é comum passar pela cabeça até a idéia de dormir em camas separadas. Será que uma decisão como essa faz bem ao relacionamento?

A psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do Núcleo de Casa e Família da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), alerta que os problemas do sono podem trazer à tona novas questões a serem trabalhadas por um casal. "Essa dificuldade pode servir como motivo para briga, se a relação não estiver boa". Para ela, não existe uma regra rígida, que possa ser seguida por todos. Cada casal encontra sua forma de lidar com a questão.

*Cláudio, 55 anos, sofre de apnéia, distúrbio que quase sempre é acompanhado de ronco. Casada há 28 anos, *Maria, 54 anos, convive há dez anos com o problema do marido. "Logo que começou, procuramos ajuda porque eu temia pela saúde dele. Mas o tratamento é caro e não temos plano de saúde", conta. O jeito foi criar uma maneira de contornar a situação: "Eu dou algum sinal, uma cutucada, ele vira para o lado e passa. Apesar do desconforto, acho que dormir sem ele me daria menos tranqüilidade".

Arquivo Folha Imagem
Para psicóloga, dormir em camas separadas pode até ser uma solução para quem não suporta o ronco do parceiro, contanto
que o relacionamento esteja bem
O QUE FUNCIONA CONTRA O RONCO?
A especialista da PUC confirma que, apesar de longe do ideal, a situação é bem comum. Ela diz que o correto é tratar o problema como o que é: um mal à saúde. "Tenho pacientes que compraram o aparelho para apnéia e isso os ajudou a dormir melhor. Outros acharam horrível e não usam. Depende muito de você quer fazer algo pelo outro", acredita.

Para *César, 34 anos, a primeira dificuldade foi fazer sua esposa assumir que roncava. *Mariana, 31 anos, nunca percebeu o problema. "Só quando surgiram testemunhas, dividindo o quarto com amigos em viagens, é que ela acreditou no que eu dizia", lembra. O jeito, para eles, também tem sido enfrentar a situação sem discussões. "Quando me atrapalha muito, tento acordá-la ou dou uma cotovelada, então ela muda de posição e dormirmos", conta César.

O importante, segundo ela, é não tapar o sol com a peneira. "O que a gente vê com anos de consultório, infelizmente, é que as pessoas não se cuidam, agüentam qualquer tipo de situação e preferem não mexer nas coisas difíceis", lamenta. O conselho da especialista é encarar o problema, ainda que isso inclua dividir a cama. "Ninguém é menos casado ou está menos junto porque encontrou uma maneira diferente de dormir", conclui.

'Conchinha' é bom sinal?

Para a psicóloga, não se pode confundir a saúde do sono do casal com a do relacionamento em si. Assim como não se deve tirar conclusões apenas observando como o casal dorme. A romântica posição "conchinha", por exemplo, pode refletir somente um momento: "É possível que um casal durma absolutamente agarrado e brigue no outro dia".

*Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados