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The New York Times: 60 anos de distorções em dados sobre a temperatura do mar

Por Henry Fountain<br>The New York times

12/06/2008 19h46

Todo o cientista sabe a respeito das distorções em medições, ou dos erros sistemáticos que podem atrapalhar dados. Um exemplo simplista seria uma régua de metal que passa leituras inexatas ao se expandir em temperaturas mais quentes.

Evitar distorções em medições pode ser impossível. Afinal de contas, ninguém é perfeito, nem mesmo os equipamentos. O que é importante é reconhecer a tendenciosidade e levá-la em conta quanto se trabalhar com dados.

Mas nem sempre é fácil detectar a distorção. Um caso em voga está sendo relatado em Nature, onde pesquisadores descobriram tendenciosidade na medição de dados de seis décadas atrás sobre temperaturas da superfície global. O problema surge na forma como navios americanos e britânicos mediram a temperatura da água da superfície.

David W.J. Thompson e colegas da Universidade Estadual do Colorado analisaram temperaturas superficiais médias globais de 1880 até o presente, mexendo nos dados para remover os efeitos do El Niño e outros "ruídos climáticos," como Thompson os descreveu. Eles descobriram uma súbita queda de 0,5 grau Fahrenheit em 1945, mas apenas em dados coletados no mar, não em terra - uma pista de que a queda possa ter alguma relação com as medições.

Naquele momento, navios americanos e britânicos fizeram grande parte da documentação de temperaturas do mar em todo o mundo. Em navios britânicos, as tripulações mediram a temperatura da água do mar coletada em um balde. Mas desde 1939, a maioria dos navios americanos havia trocado o método de coleta por um cano de influxo para resfriamento de motor. Graças ao calor da sala de máquinas, as medições americanas eram geralmente mais altas.

Depois de analisar os dados mais profundamente, diz Thompson, eles perceberam o que havia acontecido. A maioria dos dados na época da guerra veio de navios americanos, com apenas 20% das leituras vindo dos britânicos. Mas desde agosto de 1945, houve uma abrupta mudança. Quase a metade das leituras vinha dos navios britânicos. Como essas leituras eram geralmente mais frias, segundo Thompson, isso conta para a súbita queda na temperatura.

Agora que a distorção foi reconhecida, os pesquisadores precisarão considerá-la em seus modelos e simulações. Mas Thompson diz que a tendência em longo prazo, de temperaturas mais altas, não será afetada.

CAMUFLAGEM PERSONALIZADA PARA A AMEAÇA
Para uma criatura que precisa enfrentar diversos tipos de predadores, pode ser muito útil ter uma estratégia defensiva diversificada - ajustando a aparência ou o comportamento dependendo do inimigo.
Como os camaleões são famosos pela habilidade de ajustar sua aparência, teriam eles uma abordagem de defesa definida pelo tipo de predador? Em um artigo em Biology Letters, os pesquisadores descrevem um camaleão que tem.

Devi Stuart-Fox, pesquisador da Universidade de Witwatersrand na África do Sul, atualmente na Universidade de Melbourne na Austrália, estudou, juntamente com colegas, como o camaleão anão de Smith, ou Bradypodion taeniabronchum, reage a dois predadores comuns, um pássaro e uma cobra.

O comportamento do camaleão é o mesmo em ambos os casos. Ele permanece imóvel em um tronco ou galho e rapidamente muda de cor. Mas os pesquisadores descobriram que o camaleão mudou de cor mais rapidamente para combinar com o tronco ou galho quando o predador era um pássaro.
Pássaros têm melhor discernimento de cores, então não é de se surpreender que o camaleão seria mais preciso em sua camuflagem para se defender do pássaro. Mas a diferenciação de cores é tão pobre com as cobras, dizem os pesquisadores, que mesmo com menor precisão na combinação de cores, aos olhos das cobras o camaleão parece melhor do que aos olhos do pássaro.

Considerando o esforço fisiológico do camaleão para mudar de cor, este pode ser um caso do animal fazendo somente o que precisa e nada mais.

PAIS DO MESMO SEXO EM COLÔNIA DE ALBATROZES
A criação cooperada, pela qual um animal ajuda a cuidar de uma prole que não é sua, é muitas vezes encontrada na natureza. Mas pesquisadores no Havaí descobriram um caso que não é tão comum, envolvendo pares de longo prazo de pássaros sem parentesco, e do mesmo sexo.

Lindsay C. Young e colegas da Universidade do Havaí estudaram uma colônia de albatrozes Laysan em Oahu de 2004 a 2007. Esses pássaros são monogâmicos, e ambos os pais participam na criação de um único filhote.
Os pesquisadores conduziram testes genéticos e monitoraram o sucesso reprodutivo dos pares. Eles relatam em Biology Letters que quase um terço dos 125 pares consistia de duas fêmeas sem parentesco entre si, e metade destes ficaram juntos pela duração do estudo.

Os pesquisadores apontam que para ocorrer uniões fêmea-fêmea como esta, geralmente precisa haver um excedente de fêmeas na população. Esse é o caso para a colônia de Oahu, que é jovem e vem crescendo por imigração, com a maioria dos recém chegados sendo fêmeas. Para que as uniões fêmea-fêmea persistam, dizem os pesquisadores, ambas as fêmeas devem ter oportunidades de se reproduzir. Eles encontraram evidências para isso: para alguns pares que produziram filhotes em mais de um ano de estudo, havia pelo menos um de cada fêmea.