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Mostrando a saída para o paciente - de uma vez por todas

Por Rahul K. Parikh*<br>The New York Times

17/06/2008 16h49

Não era com o garoto que eu tinha problemas. Era com a mãe dele. Havíamos nos conhecido alguns meses antes, quando dei o diagnóstico de asma moderada ao seu filho de 14 anos. Eu não me importava com suas perguntas pungentes, mas seu tom de voz me deixava nervoso. Ela parecia desconfiada, quase com raiva. Ainda assim, no final considerei que ela fosse apenas uma mãe abusada, ferina, e deixei passar.

Naquela época, ela era mais confrontadora. Reclamava que tinha sido "forçada" a trazer seu filho ao médico porque a escola do garoto exigia uma autorização médica para a prática de esportes. Que tipo de esquema os médicos tinham com a escola? Por que ela tinha que trazer seu filho, quando sabia que ele era saudável? E eu ainda estava recebendo dinheiro por isso?

Mordi minha língua e tentei explicar a ela porque eu achava que eles deveriam estar ali. Sim, ele provavelmente é muito saudável. Mas uma avaliação anual poderia ajudá-lo a aprender a cuidar de sua própria saúde quando crescesse, e isso poderia me dar a chance de motivar escolhas saudáveis e ter uma boa noção de sua saúde emocional durante esses anos difíceis. Finalmente, ressaltei, o garoto precisava tomar vacina antitetânica.

Ela não se convenceu. "Não acredito em cuidados preventivos", disse. "Vou tratá-lo do tétano se ele precisar".

O resto da visita ocorreu de forma mais suave, principalmente porque a mãe deixou a sala para que eu examinasse seu filho. Mas antes que eles fossem embora, ela me acusou novamente de ficar com seu dinheiro, dizendo que eu não tinha feito nada de diferente das visitas anteriores. Antes que eu pudesse responder, seu filho educadamente confirmou que essa visita tinha sido mais completa.

Eu já tive minha quota de pacientes e pais difíceis. Mas tolerar essa senhora tomou mais tempo do que o merecido, além de interferir nos meus cuidados com o filho. Eu não tinha certeza de que queria continuar atendendo o garoto.

Considerei minhas opções. Podia ser estóico, fazer meu trabalho e manter o garoto no meu consultório. Ou podia telefonar para a mãe dele e pedi-la para guardar suas opiniões só para ela para que eu pudesse me concentrar no garoto, apesar de que meus instintos me diziam que isso não a impediria. Finalmente, podia me recusar a ver o filho dela, e ela também, novamente. Em outras palavras, demitir meu paciente.

O pacto médico-paciente basicamente afirma que um médico irá cuidar de um paciente em troca de uma compensação, e esse paciente vai obedecer aos conselhos do médico. Pacientes que discordam de seus médicos, ou simplesmente não gostam deles, estão livres para ir embora.

Da mesma maneira, esse acordo mútuo dá ao médico o direito de demitir um paciente. As razões mais óbvias são o não pagamento ou o não comparecimento às consultas. A recusa em aderir ao tratamento pode levar à demissão. Ser abusivo com a equipe médica também pode ter o mesmo resultado.

Claro, precisamos exercitar essa opção com sensibilidade. Médicos não podem demitir um paciente em situação difícil como dor severa, hemorragia ou situação que ameace a vida. E, é claro, não podemos recusar pacientes por causa de sua etnia, idade, orientação sexual e assim por diante.

Mas será que eu poderia demitir um paciente porque não gostei da sua mãe? Colegas que estudaram temas éticos e legais me disseram que a resposta não é tão nítida. Obviamente, eu não poderia simplesmente abandoná-los. Apesar de que, como muitos jargões jurídicos, o termo "abandono" está aberto a interpretação. Decidi que isso significava que, desde que não estivesse deixando ninguém à mercê de problemas médicos sérios e urgentes, desde que desse ao paciente aviso prévio e oferecesse opções para que ele continuasse recebendo assistência, eu estava nos meus direitos.

Refleti sobre a conversa sobre a vacina antitetânica, quando a mãe disse que não acreditava em cuidados preventivos. Sou pediatra - prevenção está no meu DNA. Se eu aceitasse a opinião dela, estaria comprometendo minha consciência e minha ética profissional. Não poderia fazer isso.

Escrevi uma carta endereçada à mãe do meu paciente e enviei como carta registrada. Fui breve: "Às vezes, um paciente ou sua família e o médico não são compatíveis. (...) Assim, não vou mais atendê-la no meu consultório". Continuei a carta explicando como poderiam conseguir um novo pediatra e disse que, até eles encontrarem um novo médico, eu continuaria a cuidar da asma do filho dela.

Duas semanas depois, recebi um aviso de que eles haviam recebido a carta. O garoto assinou a confirmação de recebimento, o que me deixou mal, pois eu não tinha nada contra ele. Checando a ficha do garoto, vi que a mãe dele escolheu um novo pediatra, colega meu. Eles ainda não o visitaram.

Pensei em contar ao meu colega sobre minha experiência. Talvez avisá-lo de que certo cuidado adicional ajudaria no começo. Por outro lado, talvez eu influenciasse injustamente meu colega contra o garoto e a mãe dele.

Decidi então ficar quieto. Afinal, o problema pode ter sido só comigo.

* Rahul K. Parikh é medico em Walnut Creek, na Califórnia, e escreve sobre medicina para a "Salon"