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Físicos no Congresso dos EUA calculam sua influência

Por Cornelia Dean<br>The New York Times

18/06/2008 15h41

De acordo com o Serviço de Pesquisa Congressional, existem apenas cerca de 30 cientistas entre os 535 senadores e representantes no 110º Congresso, e isso inclui um psicólogo, um psiquiatra, uma dúzia de outros diplomados em medicina, três enfermeiros, um engenheiro, dois veterinários, um farmacêutico e um oftalmologista.

Mas a física está em seu momento.

"Há 15 anos não havia nenhum físico", diz Vernon J. Ehlers, um Republicano que ensinou a matéria no Calvin College em Grand Rapids, Michigan, até ser eleito para o Congresso em 1993.

A sua era uma voz solitária até 1998, quando Rush Holt, diretor-assistente do laboratório Princeton Plasma Physics, venceu as eleições de Nova Jersey como Democrata. E hoje há três deles, incluindo Bill Foster, um físico do Fermilab e outro democrata, que venceu uma eleição especial em março em Illinois.

"Se continuarmos a nos reproduzir desta maneira", disse Foster, e Ehlers acabou finalizou o pensamento, "todo o Congresso consistirá de físicos!"

Eles estavam brincando - provavelmente. Mas, em um encontro para uma entrevista conjunta no Capitólio, a pequena cúpula de física disse acreditar que um congresso cheio de físicos poderia solucionar alguns problemas preocupantes.

Há 435 pessoas na Casa, disse Holt, e "420 não sabem muito sobre ciência e preferem não saber". Ele lembra sua exasperação quando esporos de antraz foram descobertos no Capitólio em 2001 e colegas vieram a ele e disseram, "Você é um cientista, você deve saber sobre o antraz", um assunto que geralmente fica de fora do currículo de física.

"A diferença", diz ele, "é que não nos importaríamos em pegar uma cópia do 'New England Journal of Medicine' e ler sobre a etiologia do antraz".

"Na verdade, nós basicamente fizemos isso", diz Ehlers.

"Sabemos mais do que nossos colegas", diz Holt, "mas não mais do que eles poderiam saber."

Infelizmente, diz Foster, "a menos que as coisas joguem a favor deles nas próximas eleições, eles não estão interessados."

Nem todos concordam com essa afirmação. Sherwood L. Boehlert, um Republicano do norte de Nova York que até o ano passado presidia o House Science Committee, disse que o que os cidadãos deveriam esperar de seus representantes eleitos não é conhecimento de ciência per se, e sim "uma habilidade de buscar especialistas de qualquer campo e então fazer o que é muitas vezes difícil para políticos eleitos: escutar em vez de falar."

(De sua parte, Boehlert diz, sua última incursão no campo da ciência foi uma aula de física no colegial, "e eu tirei um C.")

Problemas surgem não apenas em assuntos obviamente relacionados à ciência, mas também, como Holt coloca, "naqueles incontáveis assuntos, e são realmente incontáveis, que têm componentes científicos e tecnológicos, mas os assuntos não são vistos como científicos."

Ele cita os debates sobre as máquinas de voto eletrônico que causaram problemas "que seriam óbvios a qualquer cientista de computação, mas passaram batidos por algumas pessoas aqui do Congresso."

Foster mencionou os debates sobre cercas eletrônicas, que segundo ele não tinham os "conceitos fundamentais do que um radar pode ou não fazer."

O que é necessário não são mais graduações avançadas, dizem os físicos (todos eles têm doutorados), mas uma capacidade de visão em longo prazo, o que Ehlers chama de a habilidade dos cientistas de enxergar da era pré-cambriana até a espacial.

Mas algumas vezes, diz Ehlers, o problema é simplesmente a boa e velha ignorância. Muitas vezes ele viu a si mesmo "correndo para o térreo" para dissuadir colegas prontos para eliminar o financiamento de esforços cuja importância eles não entendem.

Um exemplo é a teoria do jogo. A pessoa buscando o corte não parecia perceber que a teoria do jogo tinha a ver com interações em economia, comportamento e outras ciências sociais, e não com esportes, contou Ehlers.

Também houve a vez em que ele correu para defender um estudo sobre ATM contra um colega que pensou que ele deveria ser deixado para os bancos. Neste caso, as iniciais significavam "asynchronous transfer mode", um protocolo para transferência de dados por fibra ótica - e não "automated teller machine", o caixa automático.

Os três físicos têm o mesmo conselho para quem ganhar a Casa Branca neste outono. "Mexa-se rapidamente para indicar um consultor científico e mantenha essa pessoa no círculo presidencial interno."

"Eu diria que isso é o número 1", diz Ehler.

Holt disse: "A proximidade faz a diferença. Você quer um relacionamento cara a cara."

Entre outras coisas, eles dizem, um consultor científico deve ser alguém que lembrará o próximo mandatário do que a ciência pode e não pode fazer.

Por exemplo, diz Ehlers, é irritante encontrar pessoas que ignoram o consenso científico de que a atividade humana contribui para o aquecimento global e ainda contam com a ciência para produzir magicamente novas fontes de energia. "De certa forma, eles rejeitam nosso raciocínio", diz ele. "Mas voltam e dizem, 'A ciência encontrará um caminho. '"

Todos os três dizem já ter pensado em voltar a se dedicar à física em tempo integral. Quando a vida no Congresso se torna extraordinariamente frustrante, diz Ehlers, "eu penso: 'Bem, seria ótimo estar no laboratório hoje'."

Ainda assim, eles dizem, eles conseguem vencer qualquer desconexão intelectual entre as mais ou menos ordenadas leis da física e os aspectos de produção-de-lingüiça da legislação. "Físicos são versáteis", diz Ehlers. "Vivemos no mundo real."

Afinal de contas, sua cúpula está crescendo.

"Nós fizemos os cálculos", diz Holt. "Pela metade do século, acredito que teremos uma maioria funcional."