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NYT: Erupções em sua pele, e começou o trabalho de detetive

Por Ingfei Chen<br>The New York Times

02/07/2008 16h28

Durante muito tempo, desde seus vinte e poucos anos, minha irmã conviveu com pequenas manchas de eczema em seu pescoço - um incômodo aborrecimento. Mas há dois anos, algo mudou. Fortes erupções vermelhas começaram a aparecer por todo o seu corpo em um ataque de sofrimento e coceira que parecia não ter mais fim.

Era um caso estranho desde o começo. O eczema crônico é uma doença complexa que envolve um sistema imunológico esgotado e, muitas vezes, um gene defeituoso que deixa a pele seca e facilmente irritável. Um problema geralmente de infância, ele raramente ataca tão severamente pela primeira vez em adultos. Mas, de novo, estamos falando da minha irmã - uma americana em seus 40 anos descendente de chineses, que é inexplicavelmente alérgica a comida chinesa.

Em novembro de 2006, o que começou como apenas alguns pontos vermelhos e inchados em suas pernas se transformou em grandes e feias erupções. Na véspera do dia de Ação de Graças, ela estava coberta com calombos escorrendo pus. De maneira alarmante, a parte de baixo de suas pernas estava inchada até os tornozelos. Levei-a até um centro de atendimento urgente, onde um médico prescreveu antibióticos.

Ao longo do final de semana, pontos que coçavam apareceram em seus braços, costas e barriga. O topo de seus pés não tinha feridas, mas na hora de dormir, ela se lembra, eles "coçavam insanamente". Era impossível dormir.

Na segunda-feira, ela consultou um dermatologista, que disse que uma infecção bacterial - Estafilococo aureus, como foi revelado por um teste de laboratório - havia acelerado um ataque de eczema por todo seu corpo. Já foi bizarro o suficiente ter a sala invadida por três outros médicos que examinaram suas feridas através de uma lente de aumento.

Seu dermatologista lhe deu uma dose da potente cortisona antiinflamatória e prescreveu uma pomada corticosteróide diária. Entre outros conselhos, ele a preveniu contra muitos banhos porque secam a pele, irritando-a; e ainda mais com água quente. O melhor era a água morna.

Minha irmã diminuiu seus banhos para um a cada dois dias e se passou a usar uma geléia de petróleo como loção hidratante. Uma anti-histamina prescrita ajudou seu sono, mas a deixou como um zumbi no trabalho.
Os sintomas de pele recuaram, mas apenas temporariamente. O ar seco, temperaturas amenas, a aspereza do macacão e até mesmo pensamentos estressantes trataram de trazer o problema a tona novamente. Ela entrou em um ciclo recorrente de erupções, e tomou mais uma dose de cortisona. O médico lhe disse que talvez ela tivesse que lidar com o problema para o resto da vida.

"Eu não podia acreditar no que estava acontecendo", ela disse. "Era perturbante."

O eczema estava deixando grandes cicatrizes marrons. "Você parece uma girafa", revelei certo dia. Ela me olhou furiosa. E, com desespero, baniu mangas curtas e saias do armário.

No verão de 2007, um amigo mencionou que havia conseguido evitar seu persistente eczema tomando antibióticos, mesmo que suas lesões não fossem infectadas. Isso era surpreendente. Nós presumimos que os antibióticos tomados por minha irmã haviam eliminado o problema com os estafilococos, mas será que as bactérias ainda atacavam suas feridas?

Em agosto, ela buscou uma segunda opinião em outro dermatologista. Juntamente com um corticosteróide mais potente, o médico concordou em prescrever pílulas de antibiótico e ainda uma pomada contra bactérias chamada mupirocin - que minha irmã deveria passar dentro do nariz. Além disso tudo, ela deveria tomar um banho de Cândida regularmente.

Sim: água sanitária. Acontece que cientistas sabem há muito tempo que 90% dos sofredores de eczemas crônicos, ao contrário de pessoas saudáveis, carregam as bactérias Estafilococo aureus em sua pele. O nariz também é um reservatório do micróbio, que libera mecanismos inflamatórios que pioram as erupções, de acordo com a Dra. Amy S. Paller, dermatologista pediatra na Universidade Northwestern.

Preocupados com o crescimento de bactérias resistentes a drogas, dermatologistas recorrem tipicamente a antibióticos somente quando as lesões de eczema mostram infecção ativa. Mas uma alternativa barata para reduzir os micróbios de pele é um gentil banho de água sanitária (meia xícara de Cândida em uma banheira cheia). Paller completou recentemente o primeiro estudo para testar rigorosamente os banhos de água sanitária contra eczemas, e disse que os resultados, ainda não publicados, foram promissores.

Focar no estafilococo, no final das contas, fez toda a diferença. No lugar dos banhos de Cândida, minha irmã preferiu limpar suas lesões de tantos em tantos dias com uma compressa ensopada de água sanitária diluída. Antes mesmo de ela terminar 14 dias com antibióticos - que também tinham alguns efeitos antiinflamatórios -, suas lesões se acalmaram acentuadamente. No fim de agosto, pela primeira vez no ano, não havia ataduras em suas pernas.

Ainda assim, preocupada com possíveis recaídas, decidi usar meus conhecimentos como repórter para aprender mais sobre o eczema. Duas percepções interessantes apareceram.

Em setembro, em uma reunião esotérica chamada de Quarto Workshop Internacional para Estudo da Coceira, curiosamente ouvi que a dor pode suprimir a coceira, porque os circuitos nervosos para as duas sensações parecem estar sobrepostos. Assim como o arranhão, uma forma de dor, alivia a coceira, estudos descobriram que estímulos "nocivos" - calor ou choques elétricos - podem fazer o mesmo. De maneira oposta, pacientes com câncer tomando injeções peridurais de morfina podem desenvolver terríveis coceiras.

Dois meses depois, testemunhei esse fenômeno em minha irmã. Com o clima do outono, o eczema ressurgiu. Então ela feriu o pescoço, e uma dor excruciante passou para os seus ombros. Em alguns dias, as erupções diminuíram consideravelmente.

Coincidência? Talvez. De qualquer forma, nem os éticos e nem meus pais teriam aprovado arrancar as unhas de minha irmã para curá-la da coceira. Depois que seu pescoço melhorou, o eczema voltou em dezembro. Apesar disso, ela relutava em voltar aos antibióticos.

Em fevereiro outra solução apareceu. Enquanto escrevia a entrada do eczema no Guia da Saúde para o nytimes.com/health, descobri que o conselho recebido por minha irmã sobre os banhos - que muitos fariam mal - estava obsoleto.

"Esse é um velho conceito errado", me disse o Dr. Jon Hanifin, dermatologista na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon. Para eczema severo, ele aconselha banhos mornos de 20 minutos, duas vezes por dia ao longo de uma semana.

Pacientes de eczema precisam de banhos freqüentes, diz ele - não apenas para expulsar as bactérias, mas para reidratar sua epiderme ressecada. É verdade, a evaporação depois de um banho tende a ressecar a pele. Mas contanto que você prenda a umidade aplicando imediatamente o corticosteróide ou creme para a pele, "é muito melhor para você", diz Hanifin. Esteróides penetram de maneira mais eficaz na pele hidratada.

Hanifin me enviou um email sobre cuidados para a pele, que eu dei à minha irmã. Ela voltou ao banho diário e acrescentou banhos de banheira, com sal Epsom, à sua rotina. Mas cedeu ao desejo de água quente - e não morna. "Não gosto de ficar sentada lá, tremendo", disse. Ela também aumentou as compressas de água sanitária para todos os dias.

Hoje, seus braços e torso estão quase totalmente livres do eczema; as cicatrizes de girafa estão sumindo. Suas pernas também estão muito melhores, embora continuem alguns pontos de problema. Mesmo que as erupções apareçam, ela finalmente sabe como controlá-las. "Estar mais informada", diz ela, "leva um pouco do estresse embora."

Continua sendo um mistério o eczema ter aparecido tão violentamente na vida de minha irmã. Mas a lição que aprendemos disso tudo é comprovada e verdadeira: o esforço para entender uma condição médica e sobre como tratá-la melhor realmente compensa. Assim como a persistência.

"É preciso tentar de tudo, e não se pode esperar que um médico saiba precisamente o que irá acontecer a você", disse minha irmã. A preparação de um médico é baseada nos cuidados a um paciente comum, "e você pode não ser uma pessoa comum."

Certamente, minha irmã não é.