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Orientação é fundamental para evitar acidentes na academia do prédio

Suzana Esper<br>Especial para o UOL Ciência e Saúde

05/08/2008 11h00

Contar com uma academia no prédio ou no condomínio onde se vive é uma comodidade e tanto para quem tem preguiça de sair para malhar. Mas quem opta por se exercitar sozinho nesses locais deve tomar alguns cuidados para evitar lesões ou até problemas mais graves.

Há cerca de seis anos, um homem de aproximadamente 60 anos foi encontrado morto, vítima de infarto do miocárdio na academia do prédio onde morava. "Ele estava caído da esteira, provavelmente por ultrapassar seus limites e treinar sem orientação", conta Jéssica Travassos, professora de educação física formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Bauru.

Arquivo Folha Imagem
O profissional de educação física é o único que pode avaliar a condição dos aparelhos determinar o que cada pessoa deve fazer, com qual freqüência e intensidade
Academias são obrigadas a manter registro atualizado com os dados pessoais dos clientes matriculados, o que inclui informações médicas. Só que a norma vale só para estabelecimentos comerciais. As academias dos condomínios não têm obrigação do registro, mas o conselho fiscaliza rotineiramente esses espaços, segundo o coordenador do setor de fiscalização do Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo Fernando Izac Soares.

No caso de SP, apenas onze pessoas trabalham na fiscalização. A rotina inclui verificar os equipamentos e se o local conta com o professor para direcionar as atividades. Se o condomínio não cumpre a norma, o síndico ou a administradora do edifício são notificados.

Ainda que os locais não mantenham cadastro, a Lei Federal 9696, de 1998, obriga que toda atividade física seja orientada por um profissional de Educação Física registrado no conselho. "Um fisioterapeuta não pode ser um personal trainer, por exemplo", avisa Soares.

Exercício orientado

"Nenhuma pessoa traz estampada no rosto a alteração em saúde que possa impedi-la de fazer exercícios. Por isso, o esforço deve ser orientado ainda que não haja a presença de um profissional de educação física", diz Daniela Lopez, pós-graduada em treinamento de força pela Universidade Gama Filho (RJ). A recomendação vale principalmente para quem malha em casa.

O profissional de educação física é o único que pode avaliar as condições dos aparelhos em relação ao exercício e ao usuário. E, assim, determinar o que deve ser feito, e com qual freqüência e intensidade. Qualquer proposta deve se sempre elaborada individualmente. "Para ter eficácia é preciso mapear os objetivos que a pessoa tem com o exercício e elaborar um cronograma para a execução das atividades, respeitando os limites de cada um", diz Daniela.

A dica é aliar informação ao exercício orientado. A rotina de trabalho da professora Jéssica confirma os benefícios para quem opta por ter o olho do profissional sempre por perto. "Faço prescrição de treinamento não presencial para grupos de pessoas treinadas desde 2004. Por terem conhecimento avançado e experiência, essas pessoas conseguem controlar suas variáveis de treinamento, a frequência cardíaca, volume, intensidade, intervalo e execução", conta.

Atletas de fim de semana

Para os que deixam a malhação para o fim de semana, o cuidado exige o dobro de atenção. "Eles são os campeões em lesão", ressalta Jéssica. Ela explica que qualquer programa de exercícios deve possuir, no mínimo, três partes: condicionamento cardiorespiratório, força muscular e flexibilidade. A recomendação é que a atividade seja realizada três vezes por semana, por um período de 30 a 90 minutos por sessão.

O analista financeiro Leilson Alves Souza, de 25 anos engrossa a estatística. Para ele, o futebol sagrado de todo sábado acabou deixando uma lição amarga. Durante uma disputa de bola ele acabou torcendo o joelho. Mais tarde, descobriu que a partida o levaria à sala de cirurgia. "Fui ao médico porque meu joelho inchou muito e ele acabou pedindo a ressonância. Ele viu que o meu ligamento tinha rompido e eu tive que fazer a cirurgia."

Para quem opta por fazer exercício sem o aval de um médico e orientação do professor de educação física, os perigos são inúmeros. Qualquer problema existente pode ser agravado ou levar a conseqüências graves. "Existem dois tipos de lesões esportivas: agudas, que se manifestam repentinamente durante a atividade física e as crônicas, que após a prática prolongada de exercício ou esporte acabam aparecendo. Às vezes os sintomas são tão sutis, que passam despercebidos. As pessoas geralmente acham que só faz mal o que lhe faz sentir dor.", diz Jéssica.

Exercícios sem orientação podem causar problemas como aumento da pressão arterial, hipoglicemia, comprometimento cardíaco, infartos e acidente vascular cerebral (AVC). Também há risco de se desenvolver tendinites, osteotites, fraturas por estresse, condromalácia patelar (conhecida como "joelho de corredor", uma doença crônica e degenerativa da cartilagem da articulação), desvios posturais (dores na coluna), lesões ou rompimento de tendões ou ligamentos e, ainda, lesões musculares.

O fundamental é saber que nenhum exercício pode ser feito por todo mundo. Pessoas sedentárias devem começar devagar. Algumas atividades já trazem benefícios para a saúde, como subir escadas, varrer, andar de bicicleta ou dançar. A caminhada é considerada um dos melhores exercícios e é recomendada para quase todos os que buscam condicionamento, mas nada deve ser feito sem orientação. A corrida, por exemplo, exige preparo das estruturas corporais receber as cargas cardiorrespiratórias, musculares e articulares.

Antes de qualquer prática, portanto, o melhor é seguir algumas orientações:

- procure um médico, independente da idade que você tenha;

- faça um check up para saber exatamente sua condição de saúde;

- defina quais são seus objetivos com o exercício;

- procure a orientação de um profissional de educação física ou um local em que atividade seja monitorada, é ele quem deve definir com você quais exercícios devem ser feitos, a regularidade e intensidade;

- pratique fundamentalmente atividades que proporcionem prazer;

- verifique regularmente os resultados obtidos e a maneira como está praticando as atividades com a ajuda de um profissional habilitado para realizar avaliação física;

- mantenha um parecer médico atualizado sobre sua condição de saúde, submetendo-se à consultas ou exames médicos regularmente;

- para saber se um local ou se o professor é registrado no Conselho Federal de Educação Física, basta digitar o nome completo no link de pesquisa do site http://www.confef.org.br ou ligar para o conselho regional de seu Estado (os endereços também estão disponíveis no site).