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Atendimento psicológico online, no Brasil, é restrito a orientação

Tatiana Pronin<br>Editora do UOL Ciência e Saúde

15/08/2008 21h35

Orientação é o termo que melhor designa o tipo de trabalho feito por psicólogos pela Internet no Brasil. Isso porque, em 2005, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) decidiu regulamentar o atendimento online, por entender que os efeitos e riscos desse tipo de serviço ainda são pouco estudados.

Um dos trabalhos pioneiros na área é do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), que teve início com um projeto modesto em 1995, como conta a coordenadora Rosa Maria Farah. "Com a evolução do uso da Internet, começamos a receber pedidos de ajuda por e-mail e a refletir sobre como isso poderia ser feito."

O depoimento acima, escrito por uma portadora de bulimia, foi extraído de um projeto-piloto de assistência psicológica virtual criado na Itália para tratar distúrbios alimentares. A iniciativa foi do psiquiatra Luigi Zappa, do Hospital San Gerardo de Monza, em Milão. Leia mais
TRATANDO A BULIMIA
A psicóloga explica que o atendimento à distância tem peculiaridades que impedem um trabalho nos moldes convencionais. "Não basta transpor uma forma de tratamento presencial, porque o profissional não possui os mesmos elementos para avaliar o paciente", afirma.

O núcleo tem oferecido basicamente duas modalidades de atendimento. A primeira é a orientação sobre temas gerais: psicólogo e paciente discutem um tema específico (por exemplo, a insatisfação no casamento, ou um problema com o filho).

Outro tipo de orientação é específico para problemas associados à própria Internet, como os casos de uso compulsivo. "Muitas pessoas são refratárias ao tratamento presencial e sentem-se mais confortáveis ao interagir por esse canal. Mas o que acontece, na maioria das vezes, é que a pessoa percebe que há uma causa mais profunda para aquela questão; e aí ela é estimulada a buscar o tratamento presencial", descreve Farah.

Na PUC, o atendimento online é gratuito, ligado à clínica-escola. O trabalho é breve (pode variar de duas a oito consultas, em média) e não há formação de vínculo entre profissional e paciente.

Uma terceira modalidade possível, segundo a psicóloga, é a orientação vocacional. O núcleo da PUC chegou a realizar um trabalho desse tipo durante três anos para uma instituição financeira, que contava com jovens profissionais em diferentes partes do país.

Farah pondera, no entanto, que a regulamentação não prevê uma situação que não é incomum na rotina dos psicólogos: um paciente que, após algum tempo de terapia, tem que mudar de Estado ou país e não quer abandonar o tratamento.

A psicóloga Claudia Maso, fundadora do Psiconline, conta que já atendeu pacientes de consultório que mudaram de país. "Você pode até indicar um profissional, mas as questões culturais são tratadas de forma diferente. Além disso, há a barreira do idioma", afirma.

Maso relata que a maior parte dos casos atendidos por sua equipe referem-se a problemas de relacionamento ou timidez na adolescência. "Muita gente não tem idéia do que é psicoterapia e a orientação é um começo. E há aquelas pessoas que ficam constrangidas de falar sobre temas ligados a sexualidade em frente ao psicólogo", comenta. Cada consulta custa aproximadamente R$ 30,00.

Indagada sobre a dificuldade de avaliar um paciente sem poder observar seus gestos ou o tom da fala, Maso responde que a comunicação online tem seu paralelo: "A velocidade da escrita, as pausas, as reticências, o fato de revisar ou não a mensagem - tudo isso é analisado".
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