Topo

Choque de partículas em experimento para recriar Big Bang deve acontecer em breve

Da Redação*<br>Em São Paulo

10/09/2008 18h38

Cientistas do mundo todo comemoraram o fato de ter corrido tudo bem ao ser ligado, nesta quarta-feira, o gigantesco colisor partículas que pretende recriar as condições do Big Bang, a grande explosão que teria dado início ao universo.

Cientistas comemoram teste do LHC
Os experimentos com o LHC (Grande Colisor de Hádrons, na sigla em inglês), a maior e mais complexa máquina já fabricada, poderia dar uma nova cara ao mundo da física e revelar segredos sobre o universo e suas origens.

Em meio à alegria dos cientistas no projeto da Cern (Organização Européia para a Pesquisa Nuclear), que esperavam por este momento há anos, o primeiro feixe de prótons a ser lançado no LHC fez a primeira volta completa em uma hora no gigantesco túnel circular subterrâneo de 27 quilômetros, que fica na fronteira entre a França e a Suíça.

Horas depois, outro feixe de partículas, introduzido na direção oposta, no sentido anti-horário, conseguiu percorrer todo o acelerador. "Hoje é um dia histórico após 20 anos de trabalho e esforços de milhares de cientistas do mundo", disse à imprensa o diretor-geral do Cern, Robert Aymar. "Pela primeira vez se conseguiu que o acelerador aceitasse as partículas e que elas circulassem", declarou.

Na experiência de hoje, no entanto, as partículas foram lançadas com muito pouca velocidade e pouco a pouco, para comprovar que todas as peças do LHC funcionassem corretamente.

Após o êxito dos primeiros testes, a pergunta que fica no ar é quando acontecerão as primeiras colisões frontais de partículas com velocidade próxima à da luz, ou seja, quando serão recriados os instantes posteriores ao Big Bang, o momento sonhado pelos cientistas, mas temido por aqueles que acham que levará ao fim do mundo.

O superacelerador de partículas LHC (sigla em inglês para Grande Colisor de Hádrons) da Organização Européia para a Pesquisa Nuclear (CERN) foi testado com sucesso nesta quarta-feira, mas ainda não recriou as condições do Big Bang. O feito tão esperado não aconteceu pois não houve colisões de partículas, uma vez que não foram feitos lançamentos simultâneos em direções opostas e nem se chegou à velocidade próxima a da luz. Leia mais
ENTENDA O LHC
INDIANA SE MATA COM MEDO
RAP EXPLICA O ACELERADOR
HAWKING NÃO VÊ RISCOS
ELE PODE DESTRUIR O MUNDO?
INFOGRÁFICO: COMO FUNCIONA
"Eu não sei quanto tempo vamos levar para chegar lá", afirmou. "Segundo penso, o que vimos hoje de manhã prenuncia que caminharemos muito rapidamente. Essa é uma máquina extremamente complexa. As coisas podem sair dos eixos em qualquer momento. No entanto, hoje de manhã, tivemos um início promissor", disse Lyn Evans, diretor do projeto do LHC.

Quando o experimento de colisão de partículas ganhar velocidade total, os dados sobre a localização de partículas (com precisão de alguns milionésimos de metro) e sobre a passagem do tempo (com precisão de bilionésimos de segundo) mostrarão como as partículas se aproximaram, se distanciaram ou se dissolveram.

Feixes em sentidos opostos
Os cientistas do Cern começarão amanhã mesmo a lançar feixes em sentidos opostos, e as primeiras colisões poderiam acontecer nas próximas semanas, mas com pouca energia, até alcançar, no final do ano, um máximo de energia de 5 TeV (teraelétron-volts).

Quatro enormes detectores - ATLAS, ALICE, LHCb e CMS -, instalados no acelerador para permitir a observação das colisões frontais entre os prótons serão responsáveis por observarem os milhões de dados que surgirem.

Com custo de US$ 5,64 bilhões, o experimento sem precedentes do LHC foi hoje justificado por seus responsáveis e vários especialistas. "Sabemos que, apesar dos grandes conhecimentos que temos do Universo, desconhecemos 95% da matéria, e agora temos o mecanismo para transformar a teoria filosófica do Big Bang em física experimental, o que é absolutamente fantástico", afirmou o Prêmio Nobel de Física de 1984 Carlos Rubbia.

"Agora estamos em posição de poder retroceder muito mais, até a origem do universo, e de poder não apenas observar, mas simular estes instantes", declarou o físico italiano. "Saber de onde viemos e para onde vamos sempre foi a pergunta que o homem se fez", disse Aymar.

AP
Cientistas acompanham teste do LHC
VEJA MAIS FOTOS DO TESTE
Os cientistas pretendem enviar raios de partículas em direções contrárias a fim de provocar pequenas colisões a uma velocidade próxima à da luz -- essa é uma tentativa de recriar em pequena escala o calor e a energia do Big Bang, um conceito sobre a origem do universo aceito por quase toda a comunidade científica.

O Big Bang teria ocorrido 15 bilhões de anos atrás quando um objeto imensamente denso e quente do tamanho de uma pequena moeda explodiu no vácuo, emitindo matéria que se expandiu rapidamente afim de criar as estrelas, os planetas e, um dia, a vida na Terra.

No entanto, Aymar destacou que as descobertas do Cern transcendem a física teórica e têm importantes contribuições práticas, como no campo da medicina, mas também em exemplos como o agora imprescindível "www", inventado por cientistas do Cern em 1990.

Bóson de Higgs
Um dos grandes objetivos do LHC é descobrir o hipotético bóson de Higgs, chamada por alguns de "partícula de Deus" e que seria a partícula atômica número 25, após as 24 já constatadas.

Veja o rap do Grande Colisor de Hádrons
A existência desta partícula, que deve seu nome ao físico britânico Peter Higgs, que previu sua existência há 30 anos, é considerada indispensável para explicar a razão de as partículas elementares terem massa, pois as massas são tão diferentes entre elas e confirmaria os modelos usados pela física para explicar o Universo, as forças e sua relação.

Sem massa, as estrelas e os planetas do universo nunca poderiam ter adquirido sua forma depois do Big Bang, e a vida nunca poderia ter surgido -- na Terra ou, caso exista, em outros planetas conforme crêem muitos cosmólogos, tampouco em qualquer lugar.

"Estamos convencidos de que o que chamamos de modelo standard (dominante na física) não está completo", afirmou Aymar, embora tenha previsto que nenhuma descoberta deste calibre será feita antes de três anos.

Se o bóson de Higgs existe, poderia ser detectado após a colisão de partículas no LHC com velocidade próxima à da luz, afirmam os especialistas. Por outro lado, Evans afirmou que este acelerador "é um exercício em massa de colaboração mundial, no qual participaram cientistas e especialistas de muitos países, raças e religiões".

Cerca de 10 mil cientistas participaram deste projeto do Cern, entidade que pertence a 20 Estados europeus, mas no qual muitos outros países têm status de observadores.

*Com informações da Efe e da Reuters